Glencore e Xstrata podem criar gigante de commoditiesSetor

A Xstrata PLC e a Glencore International AG estão explorando uma fusão que criaria uma das maiores mineradoras do mundo e mudaria muito o cenário do setor.
 
A Xstrata, da qual a Glencore já tem 34%, informou num comunicado ontem que a Glencore entrou em contato sugerindo "uma fusão de ações entre iguais". A Xstrata indicou que não foi apresentado um valor.
 
Antes do anúncio, a mineradora anglo-suíça Xstrata tinha um valor de mercado de 33,2 bilhões de libras esterlinas (US$ 52,6 bilhões), enquanto o da Glencore era de 29,9 bilhões de libras esterlinas. Se contabilizado o valor da fatia que a Glencore tem da Xstrata, a empresa conjunta teria um valor de mercado de cerca de US$ 80 bilhões.
 
Unir as duas empresas criaria um membro peculiar do grupo das maiores empresas mundiais de commodities, já que iria combinar uma grande mineradora com uma das maiores traders de matérias-primas. Embora nenhuma das duas companhias seja muito conhecida no Brasil – embora a Xstrata tenha estado no noticiário anos atrás quando a Vale SA a queria comprar -, ambas são partes importantes de cadeias de suprimento de inúmeros itens de consumo ao redor do mundo.
 
Pelas leis britânicas de fusões, a Glencore tem até 1o de março para anunciar um plano de comprar a Xstrata ou que não fará uma oferta, mas o prazo pode ser ampliado. A Xstrata divulgou o comunicado depois que a Bloomberg revelou as negociações.
 
Durante muito tempo, o diretor-presidente da Glencore, Ivan Glasenberg, vinha cobiçando a fusão com a Xstrata, que ele vê como uma forma de garantir mais produtos para levar ao mercado através dos lucrativos canais de negociação da Glencore, e como um meio para ganhar peso para competir de forma mais eficaz com os gigantes da indústria BHP Billiton, Vale e Rio Tinto PLC, as três maiores mineradoras do mundo, respectivamente.
 
O Credit Suisse informou em uma nota a investidores em outubro que tal fusão pode gerar de US$ 246 milhões a US$ 704 milhões em sinergias. De fato, Glasenberg realizou uma oferta inicial de ações para sua sigilosa empresa em maio passado, a maior abertura de capital da história do Reino Unido, para facilitar o acordo com a Xstrata.
 
Em março de 2008, a Vale oficialmente desistiu de tentar comprar a Xstrata por mais de US$ 80 bilhões, quando as partes não conseguiram chegar a um acordo, em meio a um furor político quando líderes brasileiros questionaram a sensatez de uma empresa controlada pelo governo expandir-se tanto internacionalmente. O negócio teria criado a maior mineradora do mundo.
 
Mas chegar à reta de final de um pacto de fusão não será uma tarefa fácil, especialmente agora que as negociações se tornaram públicas. Glasenberg já tentou antes, sem sucesso, chegar a um acordo com o seu homólogo na Xstrata, Mick Davis, inclusive nos meses que antecederam a abertura de capital. Embora os dois homens compartilhem uma longa história – eles se conhecem desde os tempos de escola na África do Sul – a relação entre eles, por vezes, tem sido tempestuosa.
 
Até mesmo na semana passada, uma pessoa familiarizada com o assunto disse que os dois lados ainda estavam bem distantes um do outro sobre o valor de cada empresa em qualquer transação.
 
Embora não esteja claro o que levou Davis à mesa de negociações depois de ele ter rejeitado as aproximações de Glasenberg, é provável que a estruturação do negócio como uma fusão de iguais tenha ajudado.
 
As empresas estão discutindo um plano que colocaria Davis no comando da entidade combinada, e Glasenberg seria seu vice-diretor-presidente, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto. Essas pessoas alertaram que a estrutura de gestão da companhia combinada pode mudar caso o acordo seja firmado.
 
Não ficou claro quem iria assumir o papel de presidente do conselho.
 
Os outros cargos de diretoria seriam divididos entre os funcionários da Glencore. Os assentos no conselho administrativo seriam divididos igualmente entre as duas empresas, uma das pessoas disse. A expectativa é de que funcionários da Glencore supervisionem as operações de trading da empresa resultante da fusão, e que o pessoal da Xstrata fique com o comando da operação de mineração.
 
Outra fonte de tensão é a histórica desconfiança por parte dos investidores da Xstrata de entrar em um acordo com uma empresa complicada e opaca que, alguns temem, poderia desvalorizar suas ações.
 
Outro possível obstáculo para um acordo viria das autoridades antitruste, que recentemente vêm demonstrando mais força nos dois lados do Atlântico. Esta semana os reguladores europeus proibiram a fusão da bolsa alemã Deutsche Börse AG com a Nyse Euronext, de Nova York.
 
Mesmo que os dois lados consigam chegar a um acordo, terão que trabalhar muito para fazê-lo funcionar. As "fusões entre iguais", em que nenhum dos lados assume as rédeas, são notoriamente difíceis de ser concretizadas, e mais ainda no caso da Xstrata e da Glencore, em vista de suas culturas distintas.
 
Mas se a fusão der certo, isso representaria o ápice de duas carreiras notáveis, tanto para Glasenberg, cujo patrimônio líquido era de cerca de US$ 10 bilhões na época da abertura de capital, como para Davis. A Glencore foi fundada em 1974 por Marc Rich. O ex-trader de commodities, que virou fugitivo e recebeu um famoso perdão do então presidente americano Bill Clinton, vendeu o negócio para seus principais assessores em 1994. Glasenberg assumiu como diretor-presidente oito anos depois. Desde então, ele e seus sócios transformaram a Glencore em uma das maiores empresas de capital fechado do mundo, com vendas de US$ 145 bilhões em 2010.
 
A Glencore é, basicamente, uma firma de investimentos integrada com uma carteira de ativos, tais como minas, e participações em empresas de capital aberto, incluindo a Xstrata e a gigante russa do alumínio United Co. Rusal. As raízes da Xstrata datam de 1926, mas a mineradora suíça renasceu em 2001 com a formação da atual diretoria.
 
Simultaneamente, a Xstrata fechou um negócio de US$ 2,5 bilhões para comprar um conjunto de ativos de carvão que a Glencore havia planejado listar em bolsa antes dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 nos EUA. Esses ativos se tornaram a espinha dorsal de uma empresa que agora também é grande produtora de outras commodities, como cobre e zinco. A abertura de capital e o negócio do carvão abriram o apetite de Davis para fazer mais acordos, resultando em uma série de aquisições.

(Dana Cimilluca e Alex MacDonald | The Wall Street Journal)
 

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