Grandes fortunas apostam na renda fixa

Bolsa em queda, inflação em alta e, mais recentemente, juros em baixa trouxeram alterações nas estratégias de investimento não só no varejo, mas também entre as grandes fortunas.

Segundo especialistas, cresceu a procura por papéis de renda fixa, gestores aconselharam que investidores balanceassem e diversificassem suas carteiras e os próprios investidores amadureceram mais no autoconhecimento do perfil, para saber se estavam dispostos a assumir riscos.

"Acredito que existe uma tendência de diversificação de grandes fortunas em mais estratégias há algum tempo, mais especificamente após a crise de 2008", diz Marcelo Pereira, sócio da Tag Investimentos, gestora que atende a esse público. Os cinco anos anteriores de alta na bolsa fizeram com que muitas carteiras ficassem concentradas em renda variável. "Durante muito tempo pensava-se que só dava para ganhar com a bolsa. O padrão era ter multimercado e bolsa. Agora, o investidor distribui mais o risco em outros ativos", diz.

A mudança de estratégia pode ser vista na composição da carteira de fundos de clientes private banking, que pela regra da Anbima devem ter pelo menos R$ 1 milhão. A participação de fundos de renda fixa cresceu de 21% para 27% em doze meses, contabilizando os investimentos em fundos da própria instituição em que os investidores são clientes e em fundos de terceiros.

"Percebemos esse interesse maior por renda fixa no primeiro semestre, ainda mais em um cenário de alta de juro", lembra o diretor de investimentos do HSBC Private Banking, Marcelo Muradian. Segundo ele, aumentou a procura não só pela renda fixa tradicional, como fundos e CDBs, mas também por papéis isentos de Imposto de Renda, benefício que acaba aumentando a rentabilidade da aplicação. Nessa categoria estão as Letras de Crédito do Agronegócio e Imobiliário (LCA e LCI).

Agora, com o início do ciclo de queda do juro básico promovido pelo Banco Central, o que os gestores têm recomendado dentro da renda fixa são as NTN-Bs, que pagam juro fixo mais variação da inflação. A percepção é de que o cenário ainda não está tão claro se realmente haverá uma desaceleração da economia e, consequentemente, queda dos preços.

"O que a crise mostrou foi que quem estava com a carteira mais diversificada, com prefixados, CDI, inflação e ações, sofreu menos", afirma o superintendente de investimentos do private bank do Itaú Unibanco, Charles Ferraz. A presença de Certificados de Recebíveis Imobiliários nas carteiras é cada vez maior, segundo ele.

No HSBC, houve o lançamento de dois fundos de capital protegido que investem em derivativos de commodities e em ouro. "Foi uma fonte de diversificação importante nas carteiras."

Estratégia balanceada. "Cada cliente tem uma necessidade. Antes de recomendar algo, gastamos tempo avaliando o perfil do investidor para entender qual é o objetivo", diz o diretor de Private Banking da Rio Bravo, Julio Ortiz. Nesse momento de volatilidade, ganhou importância a avaliação bem feita do perfil de risco e seguir o que é indicado para ele.

"Para quem tem perfil arriscado continuamos indicando algumas ações que estão mais desvalorizadas, como o setor bancário e Petrobrás", diz diretor do mesmo setor na Rio Bravo, Felipe Vaz Guimarães. "O importante é respeitar esse perfil", explica.

Muitos gestores estão respeitando o risco o que é determinado no perfil de risco do cliente, seguindo uma estratégia balanceada. Quando o porcentual de renda variável da carteira fica abaixo do indicado, eles compram mais ações. Se ultrapassa o sugerido, eles vendem os papéis. "No primeiro semestre, quando estávamos mais otimistas, até indicamos que as pessoas ficassem compradas um pouco acima desse porcentual. Mas agora estamos com indicação neutra para a bolsa, do próprio porcentual indicado no perfil", diz Muradian.

(Yolanda Fordelone l O Estado de S. Paulo)

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