Grupo australiano de shoppings chega ao País

Depois de uma década sem expandir suas operações para novos países, a Westfield, uma das líderes no mercado mundial de shopping centers, anunciou ontem sua entrada no mercado brasileiro. O grupo australiano comprou por R$ 740 milhões uma participação de 50% na catarinense Almeida Junior. O acordo para a criação de uma joint venture vinha sendo discutido desde março e foi oficializado ontem em Sydney.

Avaliada em R$ 1,4 bilhão, a Almeida Junior desenvolveu e hoje administra quatro shoppings em Santa Catarina, nas cidades de Blumenau, Joinville e Balneário Camboriú. O projeto mais recente está em andamento e deve ser inaugurado no ano que vem, no município de São José, região metropolitana de Florianópolis.

A nova empresa, batizada de Westfield Almeida Junior, deixa de ter uma atuação exclusivamente regional para avançar pelo mercado brasileiro de shoppings – setor que está em pleno período de expansão, impulsionado pelo boom do varejo e do aumento do poder aquisitivo da população. "Com a joint venture, o espectro da companhia passa a ser outro", diz Jaimes de Almeida Junior, CEO da nova empresa. "Vamos estudar investimentos em São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná." Além de receber aporte financeiro, o empresário diz que a sociedade facilitará a atração de grifes internacionais para os shoppings da rede, já presentes em empreendimentos do parceiro internacional.

A Westfield tem interesse de acompanhar de perto o sócio brasileiro. Além do diretor financeiro, que virá de Los Angeles, o grupo indicará outros dois executivos para comandar a comercialização e desenvolvimento de projetos. "É a primeira vez que entramos num mercado novo desde que começamos a operar no Reino Unido, em 2000", disse, em comunicado, o presidente da Westfield, Frank Lowy. "O clima no mercado financeiro mundial é de volatilidade, mas esse é um investimento de longo prazo."

Sem crise. Almeida Junior conta que chegou a Sydney para fechar o negócio no domingo à noite em meio ao turbilhão que atingiu as bolsas do mundo inteiro. "Em nenhum momento senti que o negócio estava em risco. É uma vitória para o Brasil", disse, entusiasmado. "Seremos uma das líderes do setor no mercado brasileiro."

A empresa chega ao País com planos de crescer não só organicamente, como vinha fazendo o sócio brasileiro, mas também por meio de aquisições de novos empreendimentos. Todos os cinco shoppings de Almeida Junior foram desenvolvidos e hoje são administrados por ele. Da quantia paga pela Westfield, R$ 340 milhões serão embolsados pelos fundadores e R$ 400 milhões vão para o caixa do grupo – o recurso é destinado à expansão e ao pagamento de dívida.

Embora Almeida Junior diga que o endividamento da empresa não é relevante, no mercado a companhia catarinense já estava sendo vista com ceticismo. "Havia uma sensação geral de que a empresa quebraria, por causa do endividamento, se não conseguisse um sócio", diz uma fonte do setor.

Agora, a sensação é de que o resultado final saiu melhor do que a encomenda. Com capital aberto na bolsa australiana e ativos no valor de US$ 58,2 bilhões, a Westfield tem 119 shoppings na Austrália, nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Nova Zelândia. Esses empreendimentos somam uma área bruta locável (ABL) de 10,5 milhões de metros quadrados, com 23 mil lojas. Apenas em Santa Catarina, um mercado modesto e até então pouco atrativo para empresas de shopping, a Almeida Junior tem 180 mil metros quadrados de ABL, com 1.138 lojas.

O grupo australiano prevê inaugurar ainda este ano, em Londres, um dos maiores shoppings da Europa – o Stratford City. No fim de julho, a empresa anunciou também que pretende investir US$ 612 milhões para construir lojas e restaurantes ao redor do World Trade Center. Os australianos conseguiram o direito de abrir lojas nessa área em 2001, mas desistiram depois dos ataques às torres gêmeas.

(Naiana Oscar l O Estado de S.Paulo)

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