Heinz compra Quero por R$ 1,2 bi

Em apenas cinco meses, o setor de molhos de tomate nacional já movimentou R$ 1,8 bilhão em aquisições e a movimentação não deve parar por aí. Ontem, a americana H.J. Heinz acertou a compra da brasileira Quero Alimentos por R$ 1,2 bilhão, segundo fontes ligadas ao negócio. Em setembro, foi a vez da Cargill fechar a aquisição da unidade de atomatados da Unilever .

Outra possibilidade de negócio, comentada no mercado, seria a compra da Siol, dona da marca Saúde (de atomatados, maionese, óleo e gordura vegetal), pela também americana Bunge. A reportagem do Valor não foi atendida pela Bunge e executivos da Siol não foram localizados.Segundo os termos acertados entre Quero e Heinz, a fabricante de ketchup ficará com 80% da brasileira. Dos R$ 1,2 bilhão que a Heinz irá desembolsar, R$ 200 milhões ficam como caução, por cinco anos, para eventuais ações trabalhistas e tributárias, segundo fontes a par da negociação. Depois desse período, esses R$ 200 milhões (ou parte dele) irão para os atuais donos da Quero. E os 20% das ações da companhia que não entraram no negócio agora, passam para o controle da Heinz.

Também teria sido acertada a permanência de um grupo de altos funcionários na Quero por, pelo menos, dois anos. Esses executivos são pessoas de confiança de Salvador Paoletti, presidente da Quero. "São executivos que ajudaram o Salvador em momentos que a empresa não ia bem, aos quais ele é muito grato", disse uma pessoa ligada à família Paoletti.

A H.J Heinz deve comunicar essa aquisição, oficialmente ao mercado, amanhã. Conforme fontes de mercado, a operação foi toda feita por meio da Heinz venezuelana, que estaria deixando o país.

Com a aquisição da fábrica da Quero, em Nerópolis (GO), a fabricante de ketchup teria estrutura para produzir vários produtos de sua linha de molhos e conservas não só para abastecer o mercado nacional, mas também para exportar para a Venezuela, Chile, Argentina e outros países latinos. Além da Quero, a Heinz chegou a se aproximar da Predilecta, de Matão, no interior paulista, da Siol e da Brasfrigo, dona da marca Jurema, que no ano passado chegou a ser vendida para a Camil, em um negócio desfeito logo em seguida. A compra da Quero vem sendo acertada desde outubro do ano passado.

No Brasil, a Heinz não tem operações diretas desde 2004, quando sua terceira tentativa de explorar o mercado nacional naufragou. No início dos anos 2000, uma joint-venture entre uma empresa chilena e a Heinz fez um acordo de produção com a Só Fruta, de José Bonifácio, no interior de São Paulo. Mas, devido à má qualidade do ketchup fabricado aqui, a operação foi fechada anos depois. Na década anterior, a companhia também havia tentado fechar outras aquisições, mas todas sem sucesso.

Desta vez, a operação da companhia com sede em Pittsburgh tem mais chances de dar certo. As vendas da Quero Alimentos somam cerca de R$ 600 milhões ao ano, conforme estimativas de mercado. Além dessa boa herança, a Heinz tem pela frente um mercado em expansão. Conforme dados da Nielsen, as vendas de molho de tomate pronto para o consumo chegaram a R$ 863,2 milhões no ano passado, com alta de 12,1% sobre o faturamento de 2009. Em volume, foram 204 milhões de quilos de molho pronto, 15% a mais que no ano anterior.

A Quero foi fundada em 1985, em Jundiaí, no interior de São Paulo e depois transferida para Nerópolis. Sua linha de produtos vai além do molho de tomate, com ervilhas, azeitonas, feijão pronto, ketchup e temperos – portfólio que interessou à Heinz, uma vez que a companhia quer atuar em vários segmentos no país. "A Quero conseguiu boa expansão no mercado de conservas pois seus principais concorrentes colocaram muito mais força em outros segmentos, como higiene e limpeza", analisa o diretor da Alvarez & Marsal, José Carlos Peluso.

(Lílian Cunha | De São Paulo)

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