Ical terá primeira fábrica no NE

Integrante de um dos mais poderosos clãs empresariais de Minas Gerais, o da família Pentagna Guimarães, a empresária Ignez da Gama Guimarães, que comanda a fábrica de cal Ical, começa a abandonar a discrição com que toca a empresa que produziu 1,5 milhão de toneladas no ano passado. A empresária deve formalizar, ainda este mês, o seu ingresso na região Nordeste, com o anúncio da construção de uma fábrica em Baraúna (RN), na chapada do Apodi, um investimento de R$ 200 milhões para 1 mil toneladas por dia do produto.

Somente com esta obra, que deve ser concluída até 2014, a Ical ampliaria a sua capacidade de produção de 1,8 milhão de toneladas para 2,1 milhões de toneladas anuais, o que corresponderia hoje a cerca de 30% do mercado brasileiro de cal, segundo comentou Ignez, no que disse ser a sua primeira entrevista desde que assumiu o comando da empresa, em 2004. Mas a empresária pretende ganhar mais 1,5 milhão de toneladas anuais de capacidade de produção nos próximos três anos, ampliando suas unidades atuais e comprando outras fábricas de cal. Os investimentos poderão chegar a até R$ 400 milhões. "Cinco empresas estão sendo examinadas. O objetivo é crescer não só no setor de cal, mas também no de produção de brita e areia", afirmou a executiva.

Para isso, Ignez captou R$ 280 milhões em um empréstimo tipo "stand-by" com o banco Santander no ano passado, dos quais utilizou R$ 100 milhões. Um outro empréstimo foi obtido este ano, de R$ 70 milhões, com o banco Itaú. Ignez pretende, ainda em 2011, captar outros R$ 150 milhões. A empresária se negou a divulgar os dados do balanço de sua empresa. Mas afirmou que não tem dívida além dessas e que a alavancagem representa 50% da geração de caixa da Ical. De acordo com a Associação Brasileira de Produtores de Cal, em 2008 a produção nacional era de 7 milhões de toneladas, com faturamento bruto de cerca de R$ 1 bilhão.

Atualmente a Ical produz 1,8 mil toneladas por dia na fábrica em que funciona a sede da empresa, em São José da Lapa, na região metropolitana de Belo Horizonte. Mas sua maior fábrica de cal é a de Pains, no sudoeste mineiro, onde produz 2,4 mil toneladas diárias. Uma terceira fábrica, adquirida em 2007, produz 600 toneladas por dia em Matosinhos, também na região metropolitana. Mas a Ical não está sendo pioneira em se instalar na chapada do Apodi.

A fábrica de cimentos Mizu, do Espírito Santo, herdou um projeto inicialmente concebido pelo grupo Votorantim e deve ainda este mês começar a operar uma unidade em Baraúna com capacidade de produção de 1,1 milhão de toneladas por ano. "É um investimento de R$ 362 milhões, que deve ser ampliado até 2015 e envolver inversões adicionais de R$ 340 milhões", afirmou o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do Norte, Benito Gama. Além da fábrica de cimento, que utilizará o cal para fins de construção civil, a Mizu se associou ao grupo belga Lhoist, dono da Belocal, para investir mais R$ 80 milhões em uma fábrica de cal siderúrgico na mesma cidade.

Tanto a Mizu quanto a Ical receberam benefícios do governo do Rio Grande do Norte, dentro da estratégia de guerra fiscal que foi condenada recentemente pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Gama aposta que a medida não deve afetar o nascente polo de Baraúna. " O benefício que damos é financeiro, não exatamente fiscal. Nós financiamos por um determinado tempo o valor equivalente ao que o empreendedor irá gastar com o pagamento do ICMS", comentou o secretário. Segundo Ignez, a decisão de entrar no Rio Grande do Norte não será revista independente do efeito da decisão do Supremo.

"A nossa decisão de entrar no Nordeste está ancorada na produção de cal siderúrgico para atender a investimentos como a futura siderúrgica de Pecém, entre outros. Cal é um produto altamente perecível, dificilmente estocável e para participar do mercado nordestino é preciso estar lá. Não será um custo fiscal maior que nos fará recuar", disse.

A Ical existe desde 1949, fundada por Lúcio Pentagna Guimarães, com dinheiro emprestado do pai, Antonio Mourão Guimarães, criador do banco BMG e da indústria de refratários Magnesita, que foi vendida pela família para fundos de pensão em 2007, por R$ 1,2 bilhão. Ignez, que substituiu o pai, hoje interditado judicialmente, cresceu dentro da fábrica, que cobre de calcário as antigas residências dos administradores, hoje ocupadas apenas por escritórios. A mineração a céu aberto, que pode ser vista por passageiros que pousam no aeroporto internacional de Confins, a poucos quilômetros de distância, deve continuar por muitos anos: há mais de 1 bilhão de toneladas de calcário ainda a explorar na jazida.

(César Felício | Valor)

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