KPMG vai perder clientes da BDO em rodízio

A KPMG vai perder, por conta do rodízio obrigatório de auditorias para as empresas de capital aberto, no mínimo 8% do faturamento advindo dos negócios que adquiriu da BDO Trevisan em abril do ano passado.

A informação deve ser divulgada oficialmente nos próximos dias no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
 
Embora não tenha havido uma compra formal de empresa, a KPMG ficou com praticamente todos os profissionais e base de clientes que eram atendidos pela Trevisan na época. Em 2010, o faturamento da adquirida tinha sido de R$ 117 milhões.
 
A KPMG tentou argumentar com a CVM que, do ponto de vista dos clientes, teria havido uma troca de auditor.
 
Mas esse não foi o entendimento da área técnica nem da diretoria colegiada da autarquia, segundo o superintendente de normas contábeis e auditoria da CVM, José Carlos Bezerra.

A KPMG acreditava que poderia manter os clientes da Trevisan por conta da forma como a operação foi estruturada (que não foi uma aquisição tradicional), que contou também com a troca dos sócios responsáveis pela auditoria dos clientes recebidos.

"A operação realmente foi diferente. Mas nós analisamos a essência", disse Bezerra.

A diferença, nesse caso, se dá na comparação com a união da Terco com a Ernst & Young, firmada em outubro de 2010, e para a qual a CVM também determinou a necessidade de rodízio. Nessa operação, houve efetivamente a incorporação da Terco pela E&Y.
 
No caso da Ernst & Young, a necessidade de rodízio das clientes herdadas representará a perda de pelo menos 9% do faturamento da adquirida. Em 2010, a Terco calculava uma receita anual próxima de R$ 125 milhões.
 
No entendimento da CVM, a troca periódica do auditor a cada cinco anos serve como medida para garantir a independência no trabalho, uma vez que quem contrata o serviço é a empresa que tem o balanço auditado. "O auditor é como a mulher de César. Não basta ser independente, ele tem que parecer independente", afirmou o superintendente.
 
Procurada, a KPMG disse que não vai falar até ser comunicada oficialmente sobre a decisão.

Com a troca, a Ernst & Young Terco perderá a posição dominante que passou a ter, depois da união, no mercado das incorporadoras imobiliárias de capital aberto. Três das antigas clientes do setor já anunciaram sua decisão. A Cyrela será auditada pela Deloitte, a JHSF pela KPMG e a Trisul escolheu a BDO RCS, nome da nova associação no país da quinta firma de auditoria global.
 
Segundo levantamento feito pelo Valor sobre os honorários de auditoria de 2010 (último dado disponível), a Terco tinha naquele ano 16 clientes entre as 200 maiores de capital aberto por valor de mercado, com faturamento de R$ 12,5 milhões. Delas, 13 vão trocar pelo rodízio agora e uma ficou voluntariamente com a Grant Thornton, antiga parceira. A perda total neste ano é de R$ 11 milhões.

Já a KPMG ficará sem a conta dos frigoríficos Marfrig neste ano e JBS em 2013. O Minerva ficou com a BDO RCS. Dos 13 clientes que tinha entre as 200 maiores, sete trocarão por conta do rodízio já neste ano e dois voluntariamente, levando R$ 8 milhões em receita.

(Fernando Torres | Valor)

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