Louis Vuitton investe no Brasil

Presente há mais de 20 anos no Brasil, a grife francesa Louis Vuitton decidiu acelerar fortemente seus projetos de expansão no país. Em 2012, três lojas serão abertas, aumentando a rede no país para nove unidades. "Nos últimos dois anos, sentimos que a economia brasileira realmente decolou. Isso nos dá vontade de investir", disse ao Valor o presidente da Louis Vuitton, Yves Carcelle.

Serão abertas uma loja-conceito (ou "global store") no shopping Cidade Jardim, em São Paulo; uma na Barra da Tijuca, no Rio, no shopping Village Mall; e uma em Curitiba, a primeira na capital paranaense, no shopping Patio Batel.

Em apenas um ano, a grife irá abrir no Brasil a metade do total de butiques inauguradas desde 1989 no país. Atualmente, são quatro em São Paulo, uma no Rio e uma em Brasília. A loja de mais de mil m² em São Paulo, que terá linha completa de moda masculina da LV, vai substituir a loja já existente no shopping Cidade Jardim. Carcelle frisa que a marca não descobriu o Brasil porque o país está na moda: "Tivemos altos e baixos nesse período, mas não desistimos. Somos talvez a única grife internacional a manter em permanência as atividades no país durante duas décadas".

As três novas lojas no Brasil em 2012, que devem abrir a partir de setembro, representam boa parte do número de inaugurações que a marca estima como média anual no futuro. Após atingir um pico anual de 35 novas butiques há três anos, hoje "são menos de dez, algo entre seis ou sete", diz Carcelle.

Com 469 lojas em 64 países, a Louis Vuitton estima já ter implantado uma rede mundial bem abrangente. Na China, são 39 butiques. Mas "a conquista do mundo", em países onde a grife ainda não está presente, e também de novas cidades, como é o caso de Curitiba, continua, diz Carcelle. Neste ano, a marca inaugura uma loja na ilha de Barbados. Em 2012, será a vez da Jordânia e do Cazaquistão.

A Louis Vuitton, que integra o grupo LVMH, líder mundial em produtos de luxo, vem sobretudo ampliando a área de lojas já existentes para dar espaço a outros artigos e serviços lançados mais recentemente. Foi o que ocorreu em Londres e na butique de Milão, reinaugurada em setembro. A loja de Roma será triplicada e outros projetos estão em andamento.

"As butiques que estão sendo reformadas foram abertas há sete ou oito anos. Naquela época, as coleções de roupas e sapatos eram menores e não havia as linhas de relógios e de joalheria nem o serviço de personalização de bolsas", diz Carcelle. Sob seu comando, a grife criada em 1854 e conhecida por suas malas e bolsas realizou grande diversificação de produtos.

Como a Louis Vuitton não divulga números de faturamento (estimado por analistas em € 5,5 bilhões), Carcelle prefere não dar detalhes sobre a evolução das vendas no Brasil, que vêm superando as expectativas da marca nos últimos anos. Mas ele dá um grande sorriso ao comentar que os dois dígitos da faixa de crescimento anual são "dois dígitos muito fortes".

Os brasileiros são bastante assíduos nas lojas da grife na Europa e nos Estados Unidos. O que contribuiu para que eles entrassem, nos últimos dois anos, no ranking mundial dos dez mais importantes grupos de clientes da Louis Vuitton. O Brasil, a Rússia, a Índia e a China, que formam o BRIC, já representam pouco mais de 30% das vendas da marca.

Carcelle ressalta que apesar das taxas mais elevadas de crescimento das atividades ocorrerem nos países emergentes, as economias ricas continuam tendo papel fundamental no desempenho da marca. "O mercado também está crescendo fortemente nos Estados Unidos, está resistindo bem na Europa e se recuperando no Japão. Pode haver casos de países com excelentes resultados, como o Brasil, mas globalmente nosso crescimento não é desequilibrado, baseado apenas nos emergentes", afirma, acrescentando que não há "desmoronamento" das vendas nos países avançados.

Segundo o presidente, os turistas dos países emergentes contribuem em parte para o aumento das vendas nos mercados maduros. Não são os únicos responsáveis por esse crescimento. "Nos Estados Unidos, 80% da clientela é local", diz ele. "As pessoas com alto poder aquisitivo não deixam de comprar uma bolsa ou um par de sapatos, mesmo que suas finanças tenham sido afetadas pela desvalorização das ações", afirma Carcelle.

Ele ressalta que até o momento a grife não sofreu "nenhuma consequência" da crise na Europa, que já provoca desaceleração da economia mundial. "Somos mais prudentes em relação ao que pode ocorrer em termos de variação cambial, isso é mais problemático para nós do que reduções do crescimento do PIB".

As crises econômicas anteriores não atrapalharam a expansão das vendas das famosas bolsas da grife. Nos últimos cinco anos, a produção dobrou, segundo Carcelle. De 1990 até 2012, ela terá sido multiplicada por 12, diz ele, que entrou na empresa em 1989 e assumiu o comando em 1998. Para suprir a demanda crescente, a Louis Vuitton inaugurou em junho um novo ateliê de produção de bolsas, em Marsaz, no Sudeste da França, o 14° da marca.

Carcelle, de 63 anos, já anunciou que deixará o comando da Louis Vuitton no início de 2013 para dirigir a fundação da grife. Ele não descarta que até lá possam sair de seu escritório, a poucos metros do Pont Neuf, em Paris, novas ideias de projetos no Brasil. "Isso vai depender da velocidade com a qual a economia vai se desenvolver. O Brasil nos surpreendeu nos últimos anos. Vamos ver se o país continuará nos surpreendendo".

(Daniela Fernandes | Valor)

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