Nordeste precisa investir R$ 25,8 bi

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) apresenta hoje os resultados do estudo Nordeste Competitivo, que aponta as obras necessárias para melhorar a infraestrutura da região. Segundo o estudo, encomendado pela CNI à consultoria paulista Macrologística, a região Nordeste precisa investir R$ 25,8 bilhões na ampliação e modernização de rodovias, ferrovias, hidrovias e portos nos próximos oito anos para garantir o escoamento da produção. Os investimentos teriam retorno em pouco mais de quatro anos com a economia de gastos logísticos.

Oitenta e três obras estão sendo propostas para melhorar o escoamento de mercadorias na região. Na lista, foram incluídos quatro projetos potiguares: a pavimentação da BR-110 entre Mossoró e Campo Grande, a construção de um novo trecho da BR-110 entre Janduís e Serra Negra do Norte, a dragagem no Porto de Natal (já concluída) e a construção do Berço 4 no porto de Natal – em fase de licitação. O valor necessário para tirar os quatro projetos do papel não foi revelado pela consultoria. Mas se sabe que só a ampliação do porto de Natal está orçada em R$ 108 milhões. A lista das empresas habilitadas a disputar a licitação será divulgada nos próximos 15 dias.

A inclusão do estado na rota da ferrovia Transnordestina, defendida por produtores durante reunião na Federação das Indústrias do RN no dia 5 de março, ficou de fora. O projeto, segundo Olivier Roger Girard, sócio da Macrologística, coordenador do estudo, com 15 anos de experiência em consultoria de gestão com foco nas indústrias de infraestrutura e logística, não era viável. “As distâncias entre os estados são curtas. Não justificaria tamanho investimento. Além disso, as cargas já saem daqui via rodoviária”, argumentou.

Para o economista Aldemir Freire, chefe da seccional potiguar do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as obras propostas para o Rio Grande do Norte – algumas já em execução – não são capazes de melhorar a logística do estado. “É muito pouco. Só no modal rodoviário precisamos, além de investir na BR 110, concluir a BR 226 e duplicar a BR 304, que liga Natal à Fortaleza. Sem falar nos modais ferroviário, portuário e hidroviário”.

O Nordeste paga caro pela logística e infraestrutura deficientes. Segundo o estudo da CNI, a região gasta em torno de R$ 30,2 bilhões com transporte, incluindo gastos com frete interno, pedágios, transbordo e de terminais, tarifas portuárias e frete marítimo. Valor que pode chegar a R$ 69,4 bilhões em 2020, se os eixos de integração pelos quais passa a maioria das cargas do Nordeste não forem melhorados.

O volume gasto com a logística de transporte, no entanto, pode cair para R$ 63,5 bilhões, se as obras propostas forem executadas – o que representaria uma economia potencial de R$ 5,9 bilhões por ano. “Em estados distantes dos grandes centros,  o transporte é sempre uma questão problemática. Aqui no Rio Grande do Norte ficamos à mercê do transporte rodoviário”, afirmou Amaro Sales, industrial e presidente da Federação das Indústrias do RN (Fiern), em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, no final de agosto.

Portos operam no limite da capacidade

Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), se não forem sanados a curto e médio prazo, os problemas apontados no estudo travarão o escoamento da produção dentro de alguns anos. Segundo o levantamento, eixos considerados prioritários para o escoamento de cargas no Nordeste já estão operando no limite de sua capacidade. Este é o caso do complexo portuário de São Luís e do Porto de Recife, que utilizam mais do que suas capacidades permitem. Em 2020, no entanto, seis portos vão operar acima da capacidade e dois se encontrarão numa situação crítica. “Os casos mais críticos devem ser os do complexo portuário de São Luís e o do porto de Natal”, diz o estudo. O porto de Natal passará por uma reforma nos próximos meses que dobrará sua capacidade. Mesmo assim poderá se transformar num ‘gargalo crítico’ em oito anos. As ferrovias e os portos são os que mais precisam de investimentos, segundo a confederação. Juntas, as duas malhas vão demandar 90% dos R$ 25,8 bilhões. Embora não enxergue os investimentos propostos como paliativos, a CNI reconhece que a infraestrutura do Nordeste demandará investimentos mais robustos, no longo prazo.

Segundo estudos da CNI, para solucionar os atuais problemas de logística seriam necessários não apenas R$ 25,8 bilhões, mas R$ 71 bilhões. Parte dos recursos poderiam vir da iniciativa privada, que já manifestou o interesse de executar cinco das 83 obras propostas para a região.

Para Vilma Lúcia Neves, mestre em Ciências Sociais, com especialização em Planejamento Estratégico pelo Banco Mundial, o problema não é a obtenção de recursos, mas sua aplicação. “É preciso conhecimento técnico para pensar a logística de um estado, de uma região. E não é isso o que vemos no Rio Grande do Norte”, afirma Vilma, que é coordenadora do MBA em Logística, do de Administração Pública e do de  Controladoria Financeira da Universidade Potiguar (UnP).

Situação de ferrovias também preocupa

Para aumentar a competitividade da região, é preciso investir R$ 12 bilhões nas ferrovias e R$ 11 bilhões nos portos da região, de acordo com o estudo da CNI. Das ferrovias do Nordeste, dois trechos da EFC – um que liga São Luiz a Açailândia e outro que liga Açailândia a Marabá operam próximo do limite de capacidade. Mas a previsão é que cheguem a um estado crítico em 2020.  O trecho Açailândia-Marabá, por exemplo, tem capacidade para suportar o transporte de 311 mil toneladas por dia. Atualmente passam por ela 279 mil toneladas diariamente. A expectativa é que com o aumento da produção esse volume cresça para 877 mil toneladas por dia em 2020.

Das rodovias que cruzam a região, três já apresentam gargalos atualmente. A utilização delas pelos carros e caminhões de carga ultrapassa em até 65% a capacidade de peso que suportam em um determinado período, o que reduz a velocidade dos veículos e gera congestionamentos. Uma simulação do crescimento da produção até 2020 mostra que, se nenhum investimento for feito nos próximos oito anos, nove rodovias estarão sendo utilizadas acima do que suas capacidades permitem. Desses nove gargalos, dois estarão em estado crítico, ultrapassando em até 151% a capacidade permitida.

PRODUÇÃO REGIONAL

As indústrias do Nordeste produzem o equivalente a R$ 29,2 bilhões por ano, sendo que 81% desta produção estão concentrados no setor de bebidas, de papel e celulose, de açúcar, de álcool, de combustíveis, de biscoitos e bolachas, de autopeças, de farinha de trigo e de petroquímicos.

As principais cadeias agropecuárias do Nordeste são a de cana de açúcar, de bovinos, de fruticultura, de mandioca, de soja e de milho. Juntos, os seis produtos respondem por 93% de toda a produção agropecuária.  A produção extrativista mineral e florestal da região é muito concentrada em petróleo e gás natural, madeira, calcário, sal e potássio. Esses produtos respondem por 92% do que é extraído na região.

( Portos e Navios)

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