AGC já prevê duplicação de nova fábrica no Brasil

"Temos bons negócios no exterior e queremos crescer no Brasil e nos países emergentes. Não precisamos falar muito do Japão". O aviso do presidente mundial do grupo AGC, Kazuhiko Ishimura, em entrevista ao Valor, mais do que esclarece a estratégia de crescimento da fabricante japonesa de vidros para automóveis e construção civil: evidencia uma mudança de rumo nos negócios da tradicional companhia japonesa, após a crise global, que prejudicou o mercado japonês. Também conhecida por Asahi Glass e nascida em 1907, a empresa vive em meio a um forte plano de expansão internacional e passa a contar com Brasil em seu voo global. Sua primeira fábrica no país, em Guaratinguetá (SP), apesar de ainda estar no início da construção, já está em vias de ganhar um plano de duplicação.
 
"Precisamos trabalhar em mercados que apresentem crescimento e, nisso, o Brasil se torna muito importante", afirmou Ishimura. A nova fábrica, anunciada no ano passado, inicialmente vai atender 500 mil veículos por ano e produzir 220 mil toneladas de vidros voltados para a construção civil. Mas, a meta da multinacional é maior: atender 30% das necessidades de vidros planos do mercado automobilístico brasileiro a partir de 2014. Para isso, a empresa deverá ter capacidade de cerca de 1 milhão de veículos. "Esse setor cresce muito. Temos área suficiente em Guaratinguetá para construir uma nova fábrica", afirmou o executivo.
 
Com capacidade inicial total de 600 toneladas de vidros por dia, a unidade está recebendo investimentos de US$ 470 milhões, valor que deve se replicado no momento de uma duplicação. Com conclusão prevista para 2013, a unidade é a primeira do grupo na América do Sul, mas se voltará apenas para o mercado interno de vidros planos, que hoje soma 1,6 milhão de toneladas por ano, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Vidro (Abividro).
 
Ao colocar o pé no mercado brasileiro, o AGC acredita estar dando um grande passo para atingir a meta de ter 30% do seu faturamento total em 2020 vindo dos países emergentes. Hoje, a receita do grupo soma US$ 15 bilhões, sendo que as economias em crescimento têm representação de apenas 19%. Daqui a oito anos, estimativas da empresa apontam para resultados anuais no patamar dos US$ 25 bilhões.
 
A pretensão do AGC de ter uma atuação global está concentrada apenas na sua área de vidros, cuja matriz está na Bélgica, e hoje representa mais da metade das operações globais do grupo. Os negócios de eletrônicos e químicos ficam restritos à região asiática.
 
Dentre os 30 países onde o AGC atua, o Japão ainda ocupa um lugar importante nos negócios da empresa, representando 35% do faturamento global. "Mas temos que considerar que 65% já vêm de operações internacionais", enfatizou Ishimura, evitando se estender sobre assunto "Japão". Segundo o executivo, o país ainda é importante, principalmente nos segmentos trabalhados pela empresa, mas as perspectivas têm se deteriorado diante das baixas taxas de crescimento. "Independentemente do terremoto no ano passado, o Japão já não mostrava crescimento após a crise mundial", constatou.
 
Para compensar a fraqueza da matriz, o negócio é mesmo se voltar para fora. Os próximos mercados que devem receber operações da companhia serão a África do Sul e o Oriente Médio. Tendo início em 2008, sua estratégia se volta ainda para a exploração de produtos sustentáveis e de maior valor agregado, como vidros para eletrônicos. Esse desenho deve ter efeito também nas operações brasileiras. Para concorrer por aqui, a empresa não quer adotar preço como diferencial, e vai dar mais ênfase nos serviços e novas tecnologias.

(Vanessa Dezem | Valor)

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