Águas do Brasil aposta em licitação no Rio para manter expansão

Crescer gerando novos negócios, sem descartar oportunidades de aquisições que porventura venham a cruzar seu caminho. Com essa estratégia, a empresa carioca Águas do Brasil vem crescendo nos últimos quatro anos a uma taxa de média anual de 15%, segundo seu diretor-geral, Claudio Bechara Abduche, devendo alcançar em 2011 um faturamento de R$ 600 milhões, o que a coloca entre as maiores empresas privadas do país do setor de saneamento básico.

Com dez concessionárias em 12 municípios dos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo, até agora a única aquisição feita pela empresa foi dos serviços de água e esgoto de Nova Friburgo, na região serrana do Rio, em janeiro de 2009.

A empresa avalia a possibilidade de um salto maior, a concessão para construir e explorar a rede de esgoto da zona Oeste da capital fluminense (exceto Barra da Tijuca e Jacarepaguá), com investimentos previstos de R$ 1,675 bilhão em 30 anos para construir 19 estações de tratamento e 221 elevatórias.

Uma das regiões mais pobres da cidade, a chamada Área de Planejamento 5 (AP-5) do município do Rio de Janeiro inclui os grandes e problemáticos bairros de Bangu, Campo Grande e Santa Cruz. Com 48% da área total da cidade, sua população de 1,8 milhão de habitantes corresponde a aproximadamente 30% da população carioca.

Segundo dados da prefeitura, a região possui hoje apenas 4% de esgoto tratado. A meta estipulada na licitação é de alcançar 36% de tratamento (65% de coleta) em 2016, ano dos Jogos Olímpicos na cidade, e 90% em 30 anos, o prazo da concessão. Segundo a prefeitura, 38 empresas, sendo duas estrangeiras, retiraram material da licitação.

Segundo o Valor apurou, a tendência da Águas do Brasil é concorrer em parceria com a Foz do Brasil, empresa do grupo Odebrecht, outra grande do setor, com faturamento na casa dos R$ 900 milhões anuais. Além do interesse no esgoto da zona Oeste do Rio, a Águas do Brasil disputa concessão plena (água e esgoto) para saneamento no município gaúcho de Santa Cruz do Sul, com cerca de 130 mil habitantes, e deverá disputar também a concessão plena para Votorantim (SP), município com cerca de 120 mil habitantes cuja entrega de envelopes estava prevista para hoje, mas acabou adiada a pedido do Ministério Público estadual.

A Águas do Brasil é uma associação das empresas Developer, do grupo Carioca Engenharia (45%), Queiróz Galvão (24%), Trana (17%) e Cowan (14%). A primeira outorga obtida foi a de Petrópolis (RJ), em 1998. De acordo com Abduche, os acionistas não têm até o momento intenção de abrir o capital da empresa que vem investindo com recursos próprios ou com financiamento do BNDES, tendo atualmente uma dívida total de apenas R$ 80 milhões, correspondente a aproximadamente 13% do faturamento bruto previsto para este ano.

O executivo disse que, além das concessões públicas para saneamento, a Águas do Brasil aposta em projetos privados de tratamento de efluentes, como nas grandes empresas. Ela já tem contrato com uma fábrica de sardinhas da marca Coqueiro do grupo Pepsico em São Gonçalo (RJ), está em negociações com mineradoras, incluindo a Vale, e com empresas do setor sucroalcooleiro. Ela criou também um grupo-tarefa para estudar a entrada no tratamento de água para reuso.

Na avaliação de Abduche, se os entraves legais forem superados, 2013 deverá ser o ano no qual o saneamento básico no Brasil irá deslanchar. Ele não acredita que esse "boom" ocorra em 2012 por ser ano de eleições municipais. Como são projetos de longa maturação, a tendência dos políticos seria de não começá-los no final das suas gestões, evitando deixar, eventualmente, que um rival fature com a obra que ele começou.

O diretor da Águas do Brasil classifica como "vergonhoso" o percentual de apenas 20% de esgoto tratado hoje no país. Ressaltando que "o privado não é solução para tudo", Abduche afirma que o setor conta hoje com apenas 7% do saneamento básico do país e considera que há espaço para chegar a 30% em 2016.

(Chico Santos | Valor)

+ posts

Share this post