Cingapura quer ser opção para empresas brasileiras na Ásia

O número de empresas brasileiras em Cingapura ainda é pequeno, mas no que depender do governo do país asiático, deve crescer em ritmo acelerado nos próximos anos. A estratégia para atrair novos investimentos passa por uma combinação de infraestrutura moderna, mão de obra qualificada, impostos reduzidos e acesso facilitado aos mercados da Ásia.

Mais de 38 mil empresas estrangeiras estão hoje em Cingapura, das quais quinze são brasileiras. “O número é relativamente pequeno, porém mais companhias brasileiras estão indo para Cingapura e as que já estão no país continuam ampliando seus investimentos”, afirma Damian Chan, diretor para Américas da EDB Singapore, principal agência do governo para desenvolvimento econômico e atração de investimentos.

Segundo ele, a turbulência na economia internacional não diminuiu o interesse de brasileiros pelo país. “Estamos conversando com algumas companhias que pensam em se instalar em Cingapura e vemos que os empresários não mudaram seus planos por causa da crise na Europa e Estados Unidos”, diz Chan. Pelo contrário, ele diz que o cenário internacional tem até atraído novas empresas para a Ásia, já que a região desacelera, mas ainda cresce em ritmo expressivo. “Mais companhias brasileiras devem anunciar em breve sua entrada no país.”

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Outro aspecto positivo, na avaliação de Chan, é que as empresas que já estão em Cingapura continuam ampliando seus investimentos. “Isso é um sinal de que os negócios estão dando certo”, afirma. Ele cita como exemplo a Embraer, que está no país desde 2000 e recentemente ampliou suas instalações e quadro de funcionários. Segundo o diretor da EDB, essa é justamente uma das vantagens de atrair empresas estrangeiras para o país – gerar empregos e ajudar a movimentar a economia. Vale, Petrobras, Braskem e Brasil Foods também estão entre as empresas brasileiras com operações no país, que é do tamanho de Salvador, capital da Bahia, com 710 quilômetros quadrados.

As relações comerciais entre Brasil e Cingapura têm se intensificado nos últimos anos e o país deve se tornar, em breve, o maior mercado para Cingapura na América Latina. Hoje, o Brasil fica em terceiro lugar, atrás do Panamá e Venezuela. "Essas economias dependem muito do petróleo e estão bastante suscetíveis ao cenário internacional", diz Chan. Os principais produtos exportados por Cingapura para o Brasil são eletrônicos e itens relacionados à indústria de petróleo e gás. No sentido contrário, o destaque fica com o complexo carnes.

Em 2011, a corrente de comércio (soma das exportações e importações) entre Cingapura e Brasil alcançou US$ 3,4 bilhões de janeiro a novembro, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O valor é 55% maior que o registrado durante todo o ano passado.

Ásia além da China

A proposta de Cingapura é se tornar a “porta de entrada para a Ásia”. Mas, para isso, o país precisa disputar a atenção de empresários estrangeiros com a gigante China. “Muitas companhias brasileiras estão interessadas em fazer negócios na Ásia, mas em geral a primeira coisa que pensam é em ir para China”, diz Chin Tah, diretor da EDB em São Paulo.

Ele afirma que o movimento é semelhante ao que ocorria com empresas europeias e dos Estados Unidos dez anos atrás. “O foco estava só na China, mas muitas companhias passaram a ver as oportunidades que Cingapura oferece”, diz.

A localização estratégica e boas relações comerciais com vizinhos asiáticos são alguns dos fatores que atraem empresas estrangeiras para o país. Cingapura tem acesso facilitado a mercados do sudeste da Ásia, como Tailândia, Malásia, Indonésia e Indochina, além da Índia e China. Para poder tirar proveito da localização, “Cingapura investe muito em logística”, afirma Tah. O complexo portuário do país é um dos maiores em termos de volume transportado e o aeroporto de Changi foi diversas vezes considerado o melhor do mundo. Além disso, o país busca também oferece uma das menores cargas tributárias da região, atrás somente de Hong Kong.

Outra característica que atrai empresas para a região, segundo a EDB, é o ambiente cosmopolita. Cingapura tem pouco mais de cinco milhões de habitantes, dos quais 25% são estrangeiros. A comunidade de brasileiros em Cingapura cresceu 70% nos últimos dois anos, para aproximadamente mil habitantes em 2011. A língua oficial do país é o inglês, mas boa parte da população é de origem chinesa, malaia e indiana, por exemplo.

“O ambiente é multicultural, o que facilita entender bem as práticas de negócio de diversos países da região Ásia-Pacífico”, diz. Além disso, Cingapura está investindo US$ 60 milhões na criação de um centro de estudos sobre o comportamento dos consumidores asiáticos. "Isso vai ajudar as empresas a entender melhor os consumidores da região e saber como se relacionar com eles", diz Tah.

Crise derruba exportações

Embora não tenha afastado as companhias estrangeiras de Cingapura, a crise acertou em cheio as exportações do país e resultou em redução do ritmo de crescimento da economia. A expectativa é de que Cingapura encerre 2011 com avanço de 5% do PIB, após ter registrado expansão de 14,5% em 2010. Para o ano que vem, a estimativa é ainda menor: algo entre 1% a 3%.

“Somos altamente dependente de exportações. A crise provocou forte recuo na demanda internacional e afetou o crescimento de Cingapura”, diz Chan. Só em outubro, as exportações (excluindo petróleo) recuaram 16% em comparação com 2010, mais que o dobro do previsto por analistas. As maiores quedas foram observadas nas vendas para Estados Unidos (-51%), União Europeia (-31%) e Hong Kong (-31%).

Apesar da desaceleração, o cenário no médio e longo prazo é de crescimento sustentado, avalia o diretor da EDB. O país tem hoje um dos maiores PIB per capita do mundo: quase US$ 44 mil por ano.

(Danielle Assalve l iG)

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