Com um punhado de dólares

Depois de comprar uma fatia da Ideiasnet, o grupo americano Liberty Media estuda trazer o livro digital Nook e entrar no setor de tevê por assinatura no País.

Nos últimos meses, um grupo de executivos americanos aumentou a frequência de suas viagens ao Brasil. Com pouco tempo para desfazer a mochila entre uma viagem e outra, a equipe liderada por Gregory Maffei, CEO do grupo americano Liberty Media, passou a visitar mensalmente companhias brasileiras de mídia e de internet. A missão tinha um objetivo claro: encontrar o parceiro ideal para um dos maiores conglomerados de mídia do planeta e que fatura US$ 11 bilhões. Na quinta-feira 19, a busca chegou ao fim com o anúncio da compra, por R$ 18 milhões, de 5% das ações da carioca Ideiasnet, holding de investimento que detém participações em 14 empresas, como a distribuidora de produtos de informática Officer.

O empresário Eike Batista, dono do grupo EBX, atualmente possui uma fatia de 15% da empresa brasileira. “Nos últimos 14 meses, entrar no Brasil se tornou a nossa prioridade”, disse à DINHEIRO Mark Carleton, vice-presidente-sênior da Liberty. O montante envolvido na transação pode parecer insignificante para uma potência do porte da Liberty. Mas é estratégico porque coloca os americanos dentro de um dos mercados que mais crescem no mundo na área de entretenimento. Um terreno fértil para a Liberty, que possui um vasto portfólio nessa área. Graças a um investimento total de US$ 20 bilhões, ela possui participações em companhias como a Live Nation, a maior organizadora de shows do mundo, a Starz, distribuidora de programação premium para a tevê paga, e até o time de beisebol Atlanta Braves.
 
Também detém uma fatia das gigantes Time Warner, Viacom, AOL e Sprint Nextel, muitas das quais são rivais de seus negócios. “Com sua experiência no setor, a Liberty Media vai nos ajudar a agilizar nosso processo de tomada de decisão”, afirma Sami Haddad, CEO da Ideiasnet. Ao comprar uma fatia da Ideiasnet, a Liberty passa a contar com uma conselheira sobre as oportunidades existentes no Brasil para suas controladas. Recursos não devem faltar. A mochila da Liberty está recheada com US$ 2,7 bilhões. Segundo Carleton, há duas possibilidades em estudo. Uma delas é trazer o Nook, leitor de livros digitais que é rival do Kindle, da Amazon, ao Brasil. Afinal, a empresa tem 17% da livraria Barnes & Nobles, que fez o e-book.

A outra é em tevê por assinatura, cujo setor foi alvo de flexibilização que libera a atuação de estrangeiros. “Estamos interessados nesse mercado”, diz Carleton. Afinal, as origens da empresa estão nesse setor. A Liberty nasceu como uma divisão da TCI, uma das criadoras do negócio de tevê paga nos Estados Unidos e que acabou sendo vendida à AT&T em 1999. John Malone, o controlador da Liberty, foi o principal executivo da TCI de 1973 até a sua negociação. Nesse posto, ficou conhecido como um dos mais importantes e temidos nomes da mídia mundial, a ponto de ter recebido de Al Gore, o ex-vice-presidente americano, o apelido de Darth Vader. Malone também levou a TCI a fundar a operadora de tevê paga por satélite Sky no Brasil, em conjunto com as Organizações Globo e a News Corp, do seu rival e ocasional parceiro Rupert Murdoch.
 
Malone é uma das poucas pessoas que levaram a melhor em um embate com Murdoch. Em 2006, Malone comprou 16,3% da News Corp, ameaçando o controle de Murdoch. A saída para o australiano foi dar a Malone, em troca dessas ações, o controle da DirecTV. Com tantos negócios para cuidar, que incluem ainda a rede de canais educativos Discovery Communications, Malone deixou o dia a dia da Liberty em 2006. Para o posto ele contratou Maffei, que não decepcionou. Em 2009, ele foi o executivo mais bem pago dos EUA. Por fazer as ações da Liberty subirem 247%, ele embolsou US$ 87 milhões. Agora, chegou a hora de mostrar que sua estratégia também pode funcionar por aqui.

(Carlos Eduardo Valim l Isto É Dinheiro)

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