Concorrentes devem investir para tomar mercado da Perdigão

Após acordo da Brasil Foods com o Cade, empresas têm chance de ocupar espaço que será deixado pela marca, avaliam especialistas.

Uma janela de oportunidades se abrirá para as indústrias de alimentos brasileiras com a suspensão da marca Perdigão por até cinco anos. A decisão é resultado de um acordo feito pela Brasil Foods com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para viabilizar a aprovação da fusão de Sadia com Perdigão, anunciada em 2009.

Os concorrentes tentarão aproveitar a oportunidade para ganhar mercado no ramo de alimentos congelados. A Perdigão é doma de fatias significativas de segmentos como pizzas (34%), carnes (30%) e massas (33%) em 2010, segundo dados de 2010 da Nielsen.

“As empresas devem reforçar suas posições nos pontos de venda e reorganizar sua estratégia de preços”, afirma Adalberto Viviani, especialista no ramo de alimentos da consultoria Concept. A mudança não necessariamente implicará em queda de preços, já que muitas empresas tentarão reposicionar seus produtos como marcas “premium”.

A própria Sadia, marca que continuará a ser utilizada pela Brasil Foods, deve ganhar uma fatia do mercado da Perdigão. “Mas a oportunidade é para todas as concorrentes”, ressalta Viviani.

Ativos à venda

Além da suspensão de uma marca concorrente, a determinação do Cade de que 11 marcas do portfólio da Brasil Foods sejam vendidas deve agitar a indústria alimentícia. A expectativa dos especialistas é que todos olhem o negócio, mas que poucas empresas disputem os ativos.

“Existem poucos players com capacidade financeira e de gestão de marcas que teriam condições de fazer essa aquisição”, diz Viviani. Os ativos da Brasil Foods à venda têm potencial para alcançar R$ 1,7 bilhão em faturamento anual, segundo a empresa.

Para o consultor da Concept, é necessário agilidade na negociação para evitar a desvalorização das marcas. Como estão à venda, elas não devem receber investimentos significativos da Brasil Foods.

No mercado, JBS-Friboi, Marfrig e Tyson Foods são apontadas como as favoritas para fechar o negócio, mas ainda não manifestaram qualquer interesse publicamente. Procurada pelo iG, a JBS disse, por meio de sua assessoria de imprensa, que sempre avalia todas as oportunidades do mercado, não apenas da Brasil Foods. A empresa acrescentou que não está em negociação avançada com a Brasil Foods ou com outra companhia.

A Tyson não quis comentar a questão. A Marfrig, por sua vez, afirmou que o mercado saberá sobre seu eventual interesse por meios oficiais. “A comunicação de investimentos ou de intenção de investimentos é disciplinada pelo órgão regulador de mercado e empresas de capital aberto devem se posicionar desta forma,” disse a empresa em nota.

A maior vantagem na compra dos ativos da Brasil Foods é da Tyson, afirma José Ricardo Scaroni, professor da ESPM-RJ. A empresa está em fase de consolidação de negócios no Brasil e pode ter vantagens em ampliar sua capacidade de produção e seu portfólio de marcas.

Para Scaroni, a JBS e Marfrig não têm necessidade de expandir sua capacidade produtiva no Brasil. Nos últimos anos, as companhias tentam ampliar seus negócios com no exterior.

(Marina Gazzoni e Olivia Alonso l iG)

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