Construção tem maior alta no número de novas empresas no Rio

Nem lanchonete, nem restaurante, nem loja de roupa. O setor cada vez mais escolhido por empreendedores na hora de abrir empresa no estado do Rio é a construção de prédios, uma escolha estimulada pelas obras de infraestrutura e revitalização do Centro antigo para a Copa e a Olimpíada.
 
Enquanto a maioria dos setores teve menos estabelecimentos criados no ano passado do que em 2010, foram constituídas 1.625 empresas em 2011 que declaram ter como atividade principal a construção de edifícios, alta de 32% sobre o ano anterior, ou 390 estabelecimentos a mais. A construção de prédios foi o ramo empresarial que teve o maior crescimento quantitativo nos últimos dois anos, segundo levantamento exclusivo da Junta Comercial do Rio feito a pedido de O GLOBO.

A maioria das empresas abertas eram de micro ou pequeno porte. Pelo menos 530 empresas foram registradas como microempresas.
 
— Há muitos projetos de construção de empreendimentos comerciais e hotéis, então isso reflete a quantidade de empresas de construção no estado — informa Julia Nicolau Butter, analista da gerência de competitividade da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).
 
De Norte a Sul do estado, o andamento de investimentos públicos e privados cria um efeito multiplicador de negócios na economia. Fábricas atraem construtoras, restaurantes e assim cresce a cadeia de fornecedores de região em região. Para a analista da Firjan, esse bom momento fluminense foi iniciado com a pacificação de favelas em 2008. A retomada do controle de áreas antes hostis a negócios formais abre cada vez mais mercados para grandes redes e pequenos empresários.
 
O último levantamento de investimentos da Firjan comprova a melhoria do ambiente de negócios. Houve aumento de 44% em um ano no volume de investimentos privados anunciados, com a previsão de R$ 181,4 bilhões em despesas no período de 2011 a 2013.
 
A revitalização do Centro carioca e as obras de transporte urbano nas zonas Norte e Oeste da cidade multiplicam novos empreendimentos e reformas de imóveis, o que só aumenta o mercado para grandes e pequenos construtores, avalia Roberto Kauffmann, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no estado do Rio de Janeiro (Sinduscon-Rio).
 
— Só na Zona Portuária há mais de cinco mil imóveis que têm de ser transformados. As empresas pequenas também se beneficiam, porque as médias e grandes subcontratam. Em uma obra, costuma haver três ou quatro empresas de prestadores de serviços — diz Kauffmann.
 
O engenheiro civil Orlando Borges percebia o crescimento de oportunidade nesse segmento quando decidiu abrir a Arq Pat consultoria, arquitetura e construções no ano passado. Aos 67 anos, Borges abria sua segunda empresa para construir edifícios, fazer perícia de imóveis e projetos de arquitetura.
 
— Queremos aproveitar o bom momento do Rio. Já fizemos uma casa e agora estamos construindo um prédio em Maricá. A ideia é também construir empreendimentos na capital, em Itaboraí e São Gonçalo. Acabamos de fechar contrato para trabalhar no projeto de uma grande construtora — revela Borges.
 
Apesar do crescimento superior das construtoras, a maioria das empresas criadas no Rio ainda são lojas de roupas, lanchonetes e restaurantes, setores que tradicionalmente lideram o ranking anual. Vestuário e alimentação são naturalmente buscadas por empreendedores até pelo avanço da urbanização e do mercado de construção nas cidades. Mas lojas e restaurantes também costumam ser abertos por empreendedores de “primeira viagem” por uma percepção equivocada de que é mais fácil administrar esse tipo de negócio, avalia Aldo Gonçalves, presidente do Sindicato dos Lojistas do Rio de Janeiro:
 
— A maioria das lojas abertas em shopping é de roupa e acessório, porque aparentemente é mais fácil para quem está começando no comércio. É uma ”falsa facilidade”, porque não é tão simples assim.
 
Não à toa lojas de roupas e lanchonetes também foram o tipo de empresa mais fechado no ano passado.
 
Para o superintendente do Sebrae-RJ, Cesar Vasquez, lanchonetes, restaurantes e lojas de roupas ainda vão liderar o ranking de empresas abertas por um bom tempo. Afinal, diz Vasquez, novas empresas e novos empregos trazem mais pessoas para comer na rua, enquanto o aumento salarial permite um gasto maior com roupas:
 
— Há uma tendência crescente de alimentação fora de casa. Quando sobe a renda, aumenta logo o consumo de roupa e comida
 
Nem um abalo financeiro — como ocorreu em 2011 e durante a crise de 2008 e 2009 — pode ameaçar a supremacia de lojas e restaurantes, avalia Paulo Padilha, economista da Federação do Comércio do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ).
 
— Esses dois setores são menos vulneráveis a ciclos econômicos. Foram os que sofreram menos em 2008 e 2009 — afirma Padilha.

(O Globo)

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