Estar na lanterna é opção e motivo de orgulho, diz dono da Avianca Brasil

Empresa lidera ranking nacional de taxa de ocupação de voos.

Presidente diz que grupo também tem interesse na gestão de aeroportos.

Na contramão do modelo "baixo custo, baixa tarifa", a Avianca Brasil tem conseguido crescer no mercado doméstico com mimos e diferenciais que deixaram de ser oferecidos por muitas das companhias aéreas, como lanche quente, jornal do dia e espaço mais razoável entre as poltronas. Com 20 aeronaves em operação, a empresa detém apenas 2,6% do mercado aéreo doméstico brasileiro e é a ‘lanterna’ entre as que operam voos regulares. Mas, em abril, registrou um crescimento de 41% e conquistou a liderança no ranking de ocupação de voos, com taxa de 82%, nove pontos percentuais acima da média nacional no mês (73%), segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

Para o presidente e um dos donos da Avianca Brasil, José Efromovich, estar na ‘lanterna’ “não incomoda” e a posição é encarada “com todo orgulho do mundo”.

“Não me incomoda, é opção”, afirma ele, destacando que a empresa deve encerrar o ano com um total de 3,2 milhões de passageiros transportados, uma alta de 38% em comparação com os 2,4 milhões que voaram pela aérea em 2010. "A Avianca é a que tem o melhor produto no país hoje. Falo isso com toda a tranquilidade”.

Para 2012, a empresa prevê conquistar uma fatia próxima de 5% do mercado doméstico. Mas, segundo Efromovich, o mais importante é o crescimento sustentado e “market share não é obsessão”.

“Manter o nível de serviço que a gente conseguiu chegar e manter o nosso cliente satisfeito é que é obsessão. Não adianta só crescer em número de aeronaves e depois ter um fator de ocupação de 50%”, diz. "Queremos manter o ritmo de crescimento, mas não faremos nada que coloque em risco o que a gente conseguiu construir”.

O empresário lembra que a empresa já chegou a ter cerca de 4% de market share no passado, quando ainda operava sob a marca Ocean Air. Em 2008, a companhia iniciou uma reestruturação, que resultou na demissão de cerca de 700 funcionários – 70% foram chamados de volta nos anos seguinte. Na época, a empresa tinha 34 aviões, de seis modelos diferentes, e decidiu manter apenas as suas 14 aeronaves MK 28 (Focker 100).

“Estávamos indo por um caminho errado, então decidimos ajustar a rota e ficar apenas com um tipo de aeronave”, diz Efromovich, que ao lado do irmão German comanda o grupo Synergy, que desde 2004 controla também a Avianca internacional – companhia aérea comercial mais antiga das Américas, fundada em 1919, na Colômbia.

Segundo Efromovich, era preciso “arrumar a casa” antes da mudança de nome da companhia. A ‘virada’ ocorreu em abril de 2010, conjuntamente com a aquisição de novas aeronaves e o anúncio de encomenda de 15 Airbus A318 até 2013 dentro de um total de investimentos de US$ 1,5 bilhão até 2016.

“O nosso avião leva 132 passageiros, o da concorrência leva 154”, afirma o empresário. A Avianca foi a primeira aérea brasileira a receber a classificação “A” da Anac para todas as poltronas de suas aeronaves. “Qualquer poltrona dentro do nosso avião é conforto para o passageiro. Nós oferecemos um entretenimento que não tem igual, com noticiário, jogos e filmes. Há tomadas e entradas USB em todas as fileiras e somos os únicos que oferecemos em todos os nossos vôos um lanche ou refeição quente”, acrescenta.

Segundo Efromovich, oferecer tais mimos encarecem a operação, mas garantem um posicionamento diferenciado entre a concorrência. “Que custa, custa. Mas o peso não justifica não fazer. Esse sentimento que o passageiro tem quando vem um lanchinho quente é um plus que o brasileiro já não vê há 10 anos por aqui”, diz. “Enxergamos que tem um nicho que quer pagar R$ 10 a mais, ou R$ 20 ou R$ 30, mas quer ser bem servido e sair no horário”, acrescenta.

A partir de julho, a Avianca terá três novas bases, em Ilhéus (BA), João Pessoa (PB) e Natal (RN), passando a operar em 22 cidades e em 24 aeroportos com 20 aeronaves: 14 Focker MK 28 (F100), 3 Airbus A319 e 3 Airbus A318. A empresa opera uma única rota internacional: São Paulo-Bogotá. Segundo Efromovich, a Avianca fechará 2011 com "pelo menos 22 aviões" em operação.

Fusão e participação em concessões de aeroportos
Sobre uma eventual união entre a Avianca Brasil e a Avianca Taca, Efromovich diz que não há qualquer plano para o curto prazo, mas que uma fusão no futuro “faz todo o sentido”. “Em qualquer minuto seria viável. Os aviões são os mesmos, os espaços são os mesmos, o produto que desenhamos é muito parecido, mas não é pauta”, afirma.

Atualmente, o Synergy Group é proprietário pleno da Avianca Brasil e majoritário da Avianca-Taca, companhia formada da fusão de aéreas da Colômbia e de El Salvador, com uma frota de 160 aeronaves e que atende mais de 100 destinos, em toda a América e Europa.

Segundo Efromovich, mesmo com estruturas legais e operacionais independentes, as companhias podem atuar em cooperação. “Uma fusão de aéreas não é como a fusão de duas fábricas. Temos que lidar com governos e acordos bilaterais", diz. Ele conta que só para juntar os programas de fidelidade da Avianca e da Taca foi preciso um ano e três meses.

A fusão das aéreas não esbarraria na legislação nacional para o setor aéreo, a qual limita o capital estrangeiro, já que os irmãos Efromovich são bolivianos, filhos de poloneses e naturalizados brasileiros.

O empresário revela que o Grupo Sinergy também tem interesse em atuar na gestão de aeroportos no Brasil e de disputar as concessões que o governo federal promete abrir licitação até o final do ano. Na Colômbia, a Avianca Internacional já construiu e opera um terminal doméstico em Bogotá, onde tem o direito de 100% de exploração.

“Temos interesse, é foco, já fazemos, sabemos fazer, somos felizes fazendo, mas queremos ver como vai vir o edital”, afirma.

A expectativa do governo, com as concessões, é que os aeroportos de Guarulhos, Brasília e Viracopoas passem a ser administrados por empresas privadas a partir do segundo semestre de 2012. Pelo modelo em discussão, a Infraero terá até 49% do capital, e as empresas privadas pelo menos 51%.

Segundo Efromovich, ainda há dúvidas sobre o modelo da licitação e só após avaliar o volume de investimento necessário para os projetos é que a grupo decidirá se irá ou não participar, e se precisará ou não de parceiros. “Se for para investir 80% do capital, não dá para abrir mão de 49% para Infraero ou para ninguém”, avalia.

Da madureza ao petróleo, construção naval e aviação
O Synergy Group tem cerca de 90% das operações voltadas para os setores de aviação, petróleo e construção naval, e atua ainda na área médica, na produção e distribuição de produtos para diagnósticos.

A parceria entre os irmãos José e German Efromovich começou antes mesmo deles se formarem na área de engenharia. O primeiro negócio foi um núcleo educacional de madureza e supletivo em São Bernardo do Campo (SP), no início da década de 70, que teve entre seus alunos o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então secretário do Sindicato dos Metalúrgicos.

Os irmãos começaram a atuar na área de engenharia, criaram uma empresa distribuidora comercial e com o tempo passaram a atuar também na área de construção naval e petróleo. Hoje, o grupo atua na exploração de poços na BA, AL e RN. “Somos o maior produtor individual independente de petróleo no Brasil com 700 barris/dia”, diz.

A entrada na aviação foi um desdobramento das outras operações do grupo, após receberem um avião como parte de pagamento de uma dívida. “Começamos a dar uma carona aqui, uma carona lá. Chegou um segundo avião e dissemos: ‘Opa! aqui tem negócio’”, recorda.

Assim nascia em 1998 a Ocean Air Táxi Aéreo. A entrada no mercado doméstico ocorreu em 2002, quando procuravam uma nova aeronave para substituir um avião que foi metralhado durante um assalto em Campos (RJ). “Fomos buscar outro avião para dar continuidade ao nosso negócio, aí surgiu a Rio Sul vendendo dois aviões Brasília”, explica. “Em 2004 tínhamos 7 aviões Brasília e já éramos uma empresa aérea regular regional”.

(Darlan Alvarenga l G1)
 

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