Excesso de informações sobrecarrega auditorias

Na prática, 2010 representou para o Brasil o mesmo que 2005 para as companhias abertas da União Europeia. Preocupadas em fornecer o maior número possível de informações em notas explicativas, os balanços enviados às auditorias foram verdadeiros calhamaços, alguns deles com mais de 200 páginas, com o objetivo não só de atender às 43 normas, 16 interpretações técnicas e cinco orientações do Comitê de Pronunciamento Contábeis, como também de evitar a eventual republicação de seus balanços por determinação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). "Em vinte anos de companhia, nunca trabalhei tanto como em 2011", afirma Fabio Cajazeira, sócio de auditoria da PricewaterhouseCoopers.

Com base em sua experiência na implantação da metodologia no Reino Unido, Paul Sutcliffe, sócio-líder para IFRS da Ernst & Young Terco, diz que houve excesso de informações, como em notas de provisões e contingências, riscos trabalhistas, riscos cíveis e riscos legais, com casos onde havia mais de 20 páginas sobre o mesmo tema.

Quando confrontados com tais situações, os auditores buscavam os controllers ou o responsável pela área de RI e alegação era sempre a respeito de eventuais questionamentos por partes dos investidores. "Acho que as empresa deveriam ser mais corajosa e tirar dados desnecessários dos balanços", afirma Sutcliffe, que considera o primeiro ano do Full IFRS "um sucesso", devido ao baixo índice de republicações.

De acordo com as novas normas internacionais, são cerca de 3 mil itens que precisam ser divulgados no balanço. E, nestas condições, o trabalho tornou-se ainda mais volumoso na medida em que as informações chegaram "na última hora", revela Luciano Cunha, sócio de IFRS da Deloitte. Segundo o auditor, houve uma grande preocupação das empresas em acertar, mas ficou evidenciado que muitas delas não se estruturaram para promover a convergências das informações de acordo com a nova metodologia. "Participei de reuniões em companhias onde profissionais de determinadas áreas chave não se conheciam pessoalmente", diz Cunha, que acredita ter trabalhado quase 50% além de seu esforço habitual, nos 14 anos em que atua na área.

Para Ramon Jubels, sócio de IFRS da KPMG, existe uma carência no mercado de novos profissionais que detenham o conhecimento das novas normas. "As universidades ainda não se estruturaram a respeito e faltam professores adequados, o que faz com que esta função seja exercida pelas empresas de auditoria", afirma.

A Ernst & Young Terco montou uma equipe voltada para valuation, com a missão de estabelecer o valor de mercado exigido para ativos imobilizados e ativos biológicos. Para estes últimos, como florestas, por exemplo, além contabilizar os custos para a formação da área (como sementes, fertilizantes, mão de obra e valor da transação), as auditorias precisaram definir o valor de mercado com projeção em fluxo de caixa futuro, o que gera cálculos mais rigorosos.

Cunha, da Deloitte, destaca as questões envolvendo a liquidez da companhia, como empréstimos não circulantes de longo prazo (casos em que o sócio pega empréstimo da própria empresa). A metodologia IFRS exige que seja informada não só a taxa de juros sobre o principal como também a data da liquidação, com as devidas projeções anuais de juros. "São informações que normalmente as empresas dispunham, mas historicamente não eram obrigadas a divulgar", diz.

Para os balanços publicados este ano, a expectativa é a de que as informações possam chegar de forma mais objetiva e em menor volume. A maior preocupação é com a entrada em vigor de normas que vão tratar do reconhecimento e mensuração de instrumentos financeiros, com vigência prevista para os balanços de 2012, que trarão novos conceitos de avaliação por custo amortizado e por valor justo.

(Guilherme Meirelles | Valor)

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