Da fita cassete à era digital

Um dos ícones da era analógica do mercado da música, a fabricante japonesa TDK virou high tech e agora retorna ao Brasil.

Apertar as teclas “play” e “rec” do aparelho de som para gravar em fitas cassete as músicas prediletas foi um hábito que atravessou gerações, especialmente entre as décadas de 1970 e 1990. Uma das vantagens das fitinhas, como muitos se referiam a esses rolinhos magnéticos que um dia deram bastante dinheiro a seus fabricantes, era a facilidade de levá-las para onde desse na telha. Dessa maneira, elas representaram para a sua época, junto com os gravadores domésticos, um embrião daquilo que hoje conhecemos como portabilidade. O tempo passou e a evolução tecnológica enterrou a fita cassete do ponto de vista dos negócios. A música, no entanto, se tornou ainda mais transportável do que antes, graças ao iPod, pen drive, smartphone e à web.

A companhia japonesa TDK, fundada em 1935 e que chegou a ser uma das mais importantes fabricantes mundiais de fitas cassete e VHS, levou isso em consideração na hora de se adaptar aos novos tempos. Com o fim de seu negócio principal, a empresa passou a produzir aparelhos e acessórios de som. Agora, acaba de lançar uma linha desses itens que marca o seu retorno ao mercado de áudio no Brasil. A aposta para atrair os consumidores do século XXI foi desenvolver artigos pensados para a mobilidade digital. Por isso, os equipamentos vêm com entradas para produtos da Apple, como o iPhone, o iPod e o iPad, e portas USB, que permitem ao usuário rodar canções digitais de seus artistas preferidos.

Na nova estratégia, há até um toca-discos que tem entrada para pen drive. “Combinamos a experiência acústica dos aparelhos tradicionais com a conveniência da tecnologia digital”, diz Renato Mauad, diretor-geral para a América Latina da Imation, companhia que adquiriu a divisão de áudio da TDK por US$ 260 milhões, em 2007. A roupagem digital é o caminho encontrado pela marca japonesa para conquistar um público jovem, que tem cerca de 30 anos e boa situação financeira. Para entender em que nicho de mercado a empresa vai atuar, pense, por exemplo, no anfitrião que convida os colegas para uma festinha animada em casa.
 
Em primeiro lugar, ele precisa de um aparelho de som potente, que faça bonito nos graves e agudos e, ao mesmo tempo, seja fácil de ser levado de um cômodo a outro da residência. O que nem sempre ocorre atualmente. Isso porque as músicas podem estar num computador de mesa instalado no quarto ou nos velhos aparelhos de som, grandalhões, que ficam em um canto da casa, longe dos convidados. Com equipamentos compactos, dotados de alta qualidade sonora e que facilitem o compartilhamento de arquivos, tudo ficará mais fácil para o organizador da festa. “Buscamos um público urbano, jovem e conectado”, afirma. Foi a partir da aquisição da empresa pela Imation, há quatro anos, que começou a estratégia para reposicionar a TDK.

Com operação em 100 países e faturamento de US$ 1,3 bilhão em 2010, a Imation é uma empresa americana especializada em serviços de armazenamento de dados para o público corporativo. A aliança com a TDK faz parte de uma estratégia para impulsionar os negócios voltados ao consumidor final. A linha que agora chega ao mercado nacional foi lançada primeiro nos EUA, na Europa e Ásia. O investimento inicial para trazer a coleção de áudio para cá é de US$ 500 mil. Como a intenção é atrair um público bem específico, a empresa optou por distribuí-lo em redes de varejo direcionadas aos consumidores das classes A e B, como Fnac, Saraiva e Fast Shop. “Comercializamos produtos de alto padrão, por isso não buscamos a liderança de mercado”, diz Mauad, sem revelar estimativas de vendas. “Vamos atuar em nicho.”
 
O preço dos aparelhos ilustra bem o que o executivo diz. Um dos principais artigos da linha, o Sound Cube, que tem duas caixas de som e toca músicas baixadas do iPod, custa R$ 2.299. Outro exemplo é o Speaker Boombox. O modelo, composto por dois alto-falantes,  sai por R$ 3.499, e o de três, por R$ 3.699. Além de veicular músicas armazenadas em dispositivos móveis, o equipamento permite conectar guitarras, teclados e microfones. O toca-discos Belt Drive Turntables, com entrada USB, pode ser adquirido por R$ 2.499. Esses aparelhos, especialmente o que toca LPs – que também permite copiar os discos para o formato digital –, demonstram bem o que a TDK pretende em seu retorno ao mercado brasileiro. “São equipamentos que aliam características dos tempos analógicos às da era digital”, afirma Mauad.

(Clayton Melo l IstoÉ Dinheiro)

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