Fiat desiste de Suape e vai para Goiana

Sete meses após inaugurar a pedra fundamental de sua fábrica em Pernambuco, que seria erguida em Cabo de Santo Agostinho, região metropolitana do Recife, a Fiat Automóveis mudou de ideia. Diante de melhores condições de infraestrutura que lhe foram apresentadas, a montadora de origem italiana decidiu transferir o empreendimento para o município de Goiana, que fica na parte norte da Zona da Mata do Estado, a 65 quilômetros da capital. O anúncio oficial da mudança deve ser feito nos primeiros dias de agosto.

A troca de endereço começou a ser aventada há cerca de dois meses, quando executivos da Fiat sobrevoavam diversas áreas em busca de um local para a instalação de um centro de desenvolvimento e de uma pista de testes de carros. Por falta de espaço no terreno do Cabo de Santo Agostinho, que tem 440 hectares, os dois empreendimentos teriam que ficar separados da fábrica. Foi então que, apresentados a uma área plana de 1,2 mil hectares em Goiana, os representantes da montadora tiveram a ideia de integrar todo o complexo em um só local.

Outro fator que teria aguçado o interesse da Fiat por Goiana foi a possibilidade de repetir na cidade pernambucana a experiência de Betim (MG), onde a instalação da fábrica em 1976 transformou a realidade local. "Betim era muito pequena e a cidade cresceu em função da Fiat. A ideia em Goiana é justamente essa: pegar uma área nova e desenvolver", afirmou uma fonte diretamente envolvida nas negociações com a montadora.

Com 75 mil habitantes, Goiana só ganhou alguma projeção no cenário estadual nos últimos anos, quando foi escolhida como destino da fábrica de hemoderivados da estatal federal Hemobrás, um investimento de R$ 540 milhões. Na carona, o governo estadual incentivou a criação de um polo farmacoquímico na região, o que resultou na atração de uma fábrica de vacinas da Novartis, orçada entre US$ 300 milhões e US$ 500 milhões. Apesar do anúncio, o projeto da multinacional ainda não saiu do papel. Já a Hemobrás, após quase três anos de atraso, começou a ser erguida.

O complexo automobilístico da Fiat deverá levar investimentos superiores a R$ 7,1 bilhões para o município, sendo R$ 3 bilhões referentes à própria fábrica e o restante de toda a cadeia de fornecedores. Na engenharia financeira desenhada pela montadora, R$ 3,73 bilhões viriam do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), R$ 1,21 bilhão seriam financiados pela Sudene e R$ 790 milhões pelo Banco do Nordeste. O restante, cerca de R$ 1,43 bilhão, viriam do caixa da empresa.

Ao optar pelo novo endereço, a montadora não ficará mais no Complexo Portuário de Suape, onde está o terreno escolhido anteriormente. A empresa, contudo, poderá ser beneficiada com a construção de um novo porto e um novo aeroporto no litoral norte pernambucano, projetos que estão em análise de viabilidade econômica. "Esses projetos (porto e aeroporto) são independentes da Fiat, mas é evidente que se tornam um atrativo a mais para a empresa", afirmou uma fonte do governo de Pernambuco que preferiu não ter seu nome publicado.

A mudança de cidade, aliás, também agradou bastante o governo, que vinha enfrentando dificuldades em seu plano de interiorização do desenvolvimento. Além disso, o Estado poderá economizar uma boa parte dos R$ 350 milhões referentes às obras de terraplenagem do terreno anterior, de relevo bastante irregular. Procurada, a assessoria de imprensa da Fiat informou que a empresa ainda está definindo o local da nova fábrica e que não iria se manifestar.

(Murillo Camarotto | Valor)

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