Iochpe-Maxion acelera internacionalização

Nos últimos 15 dias, a companhia brasileira Iochpe-Maxion deu mostras de agressividade em sua estratégia de internacionalização. No intervalo, a fabricante de rodas e chassis automotivos e de vagões de carga empenhou quase US$ 1 bilhão na compra de duas empresas, uma com sede nos Estados Unidos e outra no México, a preços considerados "atraentes" por analistas de investimentos. Sacramentadas as transações, a Iochpe terá dobrado de tamanho em termos de receita líquida.

Com as operações, a companhia garantiu ainda o posto de principal fornecedora de rodas para veículos leves e pesados também no mercado americano – a empresa já é líder em rodas de aço para pesados no Brasil – e deu início ao processo de internacionalização na área de chassis, cuja produção estava concentrada no país.

O sinal emitido pela Iochpe foi claro: interessa expandir os negócios no mercado americano – porém não de forma restrita a essa região – e a estratégia é produzir fora do país a mesma linha de produtos que saem das fábricas brasileiras. O apetite por compras, contudo, deve ser reduzido no curto prazo em razão do nível de alavancagem atingido com as transações recentes.

Pelos cálculos do analista Artur Delorme, da Ativa Corretora, a alavancagem da empresa medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda (sigla em inglês para resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização) deve ficar um pouco acima de 2,5 vezes com as duas aquisições. Hoje, esse indicador está em uma vez. "Num primeiro momento, é elevado, porém aceitável", avalia o analista. "Isso reduz a possibilidade de uma nova compra no curtíssimo prazo."

Ontem, a companhia anunciou a aquisição de 100% das ações do grupo mexicano Galaz, ao preço de US$ 195 milhões, por meio das subsidiárias Iochpe Sistemas Automotivos de México e Maxion Fumagalli de México. Conforme Delorme, da Ativa, o múltiplo EV/Ebitda (valor de mercado da empresa mais dívida/Ebitda) da operação foi de 5,2 vezes, abaixo do indicador de 6,3 vezes exibido atualmente pela própria Iochpe. "Não é tão barato, mas está abaixo do seu múltiplo", avalia o analista.

No dia 5, a brasileira já havia firmado acordo de compra com a americana Hayes Lemmerz International, por US$ 725 milhões, incluindo a assunção de US$ 23 milhões em dívida líquida. Nessa transação, de acordo com Delorme, o múltiplo EV/Ebitda foi de 3,2 vezes. "A Iochpe pagou barato por uma empresa que tem praticamente o seu tamanho e é a principal ”player” daquele mercado", diz o analista da Ativa.

As duas operações de compra serão totalmente financiadas por instituições financeiras nacionais e a combinação das receitas líquidas anuais das três empresas gira em torno de R$ 6 bilhões, considerando-se as estimativas da Ativa para 2011. Para este ano, se consideradas as operações da Iochpe antes das compras, a receita líquida estimada é de R$ 2,72 bilhões.

A aquisição da Hayes Lemmerz alçou a Iochpe à liderança no mercado de rodas para veículos leves e pesados nos Estados Unidos. Até então, a companhia brasileira atuava apenas no segmento americano de veículos leves, por meio da Fumagalli, adquirida da ArvinMeritor em 2009.

Com 17 unidades industriais, a Hayes tem capacidade de produção anual de 63,4 milhões de rodas, das quais 44,2 milhões de rodas de aço para veículos leves, 7,8 milhões de rodas de aço para veículos comerciais e 11,4 milhões de rodas de alumínio para veículos leves – a Iochpe, por sua vez, tem capacidade total em rodas de 23,3 milhões por ano.

A aquisição também abre portas à Iochpe em mercados não explorados, como por exemplo a Turquia, ao mesmo tempo em que amplia a exposição da empresa brasileira a regiões que têm sido mais afetadas pela crise econômica. "São mercados com perspectivas piores do que as oferecidas pelos emergentes", pondera o analista da Ativa.

Já a companhia mexicana Galaz fabrica longarinas de aço (componente estrutural de um chassi) para veículos comerciais em uma unidade instalada em Monclova, no norte daquele país. Da fábrica, abastece sobretudo montadoras instaladas no mercado americano.

Segundo a Iochpe, o grupo conta com 1,45 mil funcionários e, entre janeiro e agosto, registrou receita líquida de US$ 133,7 milhões e Ebitda de US$ 24,9 milhões. O lucro líquido no intervalo foi de US$ 14,5 milhões. No mesmo período, a companhia brasileira registrou receita líquida de R$ 1,36 bilhão, com alta de 27,6% na comparação com igual intervalo de 2010.

Procurada, a Iochpe-Maxion não forneceu mais informações sobre a sua estratégia de internacionalização.

(Stella Fontes | Valor)

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