Rede já planeja nova capitalização

A capitalização do grupo Rede Energia por meio de um aporte de R$ 600 milhões feito pelo FI FGTS, anunciado semana passada, trará um alívio imediato no alto grau de endividamento da companhia. Mas a presidente da empresa, Carmem Campos Pereira, diz que o valor é só metade do capital que ela procura e quer preparar a empresa para uma nova etapa de capitalização. O caminho desejado é o lançamento de ações na bolsa de valores, mas para isso se concretizar a trajetória para reduzir os cerca de R$ 4 bilhões de dívida líquida que possui e reestruturar a qualidade de serviços de algumas de suas distribuidoras será longa.

O maior problema hoje está centrado na Celpa, a empresa de distribuição do Pará, Estado hoje extremamente visado em função dos grandes projetos hidrelétricos da região. A Celpa precisa investir, nos próximos dois anos e meio, R$ 1,1 bilhão na melhoria dos serviços. Ela tem hoje os piores índices de qualidade de serviços do grupo e também do país, aquém do exigido pela Aneel. É justamente a Celpa que vai receber a maior parte dos recursos, R$ 530 milhões mais precisamente. O dinheiro entrará diretamente no caixa da companhia e será usado para pagar dívida. Os outros R$ 70 milhões serão direcionados à Enersul, que distribui energia no Mato Grosso do Sul, como aumento de capital.

A meta de lançar novas ações na bolsa de valores é um desejo compartilhado pelo novo sócio, que está ciente da necessidade de novos aportes de capital na companhia. O vice-presidente de gestão de recursos de terceiros da Caixa Econômica Federal (CEF), Bolívar Tarragó, diz que vê o investimento no Rede como estratégico em um setor que caminha para a consolidação. "As áreas de atuação do Rede, Centro-Oeste e Norte, são as que tendem a mais crescer e gerar valor", diz Tarragó. A CEF administra o FI FGTS e, dos R$ 17 bilhões que tem para investir em infraestrutura, já aplicou R$ 14 bilhões, a maior parte em projetos de energia. Com compra de ações, o Rede é a primeira distribuidora onde o fundo investe.

O processo de negociação com o Rede foi longo, segundo conta Tarragó, e passou por uma detalhada due dilligence na companhia. Há tempos o grupo Rede vem tendo dificuldades em função de sua dívida. Ela se originou ainda nos processos de privatização, quando seu principal acionista, o empresário Jorge Queiroz, arrematou as empresas nos leilões do governo Fernando Henrique Cardoso. Mas segundo Carmem, o que deixou a empresa em dificuldades foi o racionamento de energia em 2001, que fez a capacidade de geração de caixa da empresa ser reduzida em R$ 1 bilhão. "E algumas de nossas empresas crescem a taxas de até 70%, e requerem muito investimento", diz Carmem.

Nos últimos anos a empresa vem registrando prejuízos constantes, mas puramente contábil, segundo Carmem. Isso porque a empresa tem um bônus perpétuo que precisa ser marcado a mercado e quando seu valor de face se valoriza tem efeito negativo no balanço. Só no ano passado, a oscilação do papel aumentou em R$ 600 milhões a dívida da companhia.

A dívida de curto prazo hoje soma R$ 1,2 bilhão. Cerca de R$ 450 milhões foram rolados em abril com vencimentos em dois e quatro anos. No longo prazo, a dívida é de cerca de R$ 4 bilhões. Uma das metas de Carmem é reduzir consideravelmente esse endividamento. A relação dívida e lucro antes dos impostos, juros, amortizações (lajida) é superior a três vezes. Número elevado para o setor.

No Rede, o FI FGTS terá cerca de 24% e o negócio ainda depende de aprovação do BNDESPar que tem percentual parecido. Na holding, o FI FGTS terá os 35%. O empresário Jorge Queiroz reduz sua participação de 84% para 54%.
 
(Josette Goulart | Valor)

 

 

 

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