Os banqueiros do século XXI

Goldman Sachs, Barclays, Deutsche. No mundo pós-crise, nenhum deles é tão atraente quanto os grandes bancos brasileiros. Entenda por quê.

Durante décadas, o sistema financeiro brasileiro se assemelhou a um campeonato de segunda divisão – os times locais até podiam jogar bem, mas nunca estiveram em condições de disputar com as equipes realmente grandes. Há apenas cinco anos, nenhum banco brasileiro constava na lista dos 40 maiores do mundo por valor de mercado. Uma crise internacional depois, o mundo das finanças parece ter virado do avesso e os brasileiros agora disputam palmo a palmo com alguns dos nomes mais tradicionais do mercado mundial. Pensou em Goldman Sachs, Barclays, UBS ou Deutsche? Pois os quatro hoje valem menos do que o Itaú Unibanco, o nono maior banco do mundo em valor de mercado. Além dele, outros dois estão hoje na lista dos 40 maiores – o Bradesco é o 18°, e o Banco do Brasil, o 33°. Na dança de cadeiras atualmente em curso, as instituições europeias e americanas perdem fôlego enquanto três bancos da China, país dono do maior sistema financeiro do mundo emergente, e um do Brasil, dono do segundo maior, acabaram entre os dez maiores do mundo. Bem-vindo ao mercado do século XXI. Os bancos brasileiros subiram por que os outros caíram? Sim. O real valorizado ajuda a mantê-los no topo? Claro. Embora verdadeiros, tais fatores não explicam tudo. A forma como as instituições locais venceram a hecatombe financeira dos últimos dois anos evidenciou uma série de características admiráveis do nosso sistema bancário. "Os bancos brasileiros são administrados de forma responsável, e isso faz toda a diferença", diz Fabio Barbosa, presidente da Federação Brasileira de Bancos e do Santander Brasil, citando a enorme diferença em relação aos riscos assumidos pelos bancos lá fora. A mais recente demonstração de força do mercado local partiu do próprio Santander. Pelos cálculos de Emilio Botín, presidente mundial do banco, o braço brasileiro ultrapassará a matriz espanhola como operação mais lucrativa do mundo neste ano. Depois da debacle de grandes instituições americanas – vergadas pelo subprime –, a crise da dívida europeia, iniciada na Grécia, colocou um ponto de interrogação sobre a saúde de vários bancos do continente quase ao mesmo tempo em que os grandes do Brasil voltavam a festejar a decolagem da economia local. "Parece que tínhamos de passar por uma crise de grande proporção para que todos acreditassem na solidez de nosso sistema", diz Domingos Abreu, vice-presidente do Bradesco, responsável pela área de controladoria.

Quando o assunto são rankings de bancos, há critérios para todos os gostos: ativos, risco, patrimônio, correntistas, número de agências… O que faz a lista por valor de mercado ser a mais levada a sério é o fato de melhor traduzir o poder de fogo dos bancos. Num processo de compra ou fusão, é raro uma grande instituição ter todo o dinheiro para cobrir os custos da operação e, por isso, é comum que os negócios envolvam a troca de ações. Nesse jogo, quanto mais valiosos forem os papéis, maior seu poder de compra. Há cinco anos, pensar que um banco brasileiro teria condições de crescer no mercado internacional soaria como piada. Hoje, sob o ponto de vista financeiro, não é mais. Oficialmente, a direção do Itaú Unibanco diz estar atenta ao mercado latino-americano, onde já tem presença nos países do Cone Sul. O Banco do Brasil, depois de absorver o argentino Patagonia, declarou que estuda aquisições no mercado americano. O Bradesco descarta qualquer compra internacional, mas consta que tenha avaliado um banco nos Estados Unidos depois da quebra do Lehman Brothers. "A internacionalização dos bancos brasileiros é apenas uma questão de tempo", diz Silvana Machado, vice-presidente da consultoria AT Kearney no Brasil.

(Eduardo Salgado, de Exame)
 

 

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