Os donos do JBS podem sair da linha com a Delta?

Entrada da família Batista no setor de infraestrutura lembra a trajetória do Grupo Bertin, que hoje patina no mercado.

Assim que a auditoria da construtora Delta for concluída, a J&F, holding que controla o JBS, poderá exercer a opção de compra da companhia. Embora a empresa não viva a sua melhor fase, por ser suspeita de manter ligações com o contraventor Carlinhos Cachoeira, a operação permite que a família Batista diversifique ainda mais seu portfólio e estreie em um mercado totalmente novo: o de infraestrutura.

A dúvida, agora, é se essa diversificação pode levar os donos do JBS a perder o foco dos negócios e repetir a trajetória de um grupo que começou também no ramo de frigoríficos, apostou pesado em infraestrutura e, hoje, luta para colocar a casa em ordem – o Bertin.

 De acordo com especialistas ouvidos por EXAME.com, a estratégia, embora ainda cercada de muitas dúvidas, pode ser positiva para a J&F. "É a oportunidade que a companhia tem de experimentar novos negócios e, em um primeiro momento, não deve atrapalhar o negócio principal do grupo, a JBS", avaliou Cauê Pinheiro, da corretora SLW.

Qual a prioridade agora?

 O grupo Bertin é um exemplo clássico de que a estratégia de diversificação pode gerar grandes problemas. Sabe-se que o grupo, que deve sua origem aos setores de frigoríficos, lácteos e higiene e limpeza, viu seus negócios virarem água quando decidiu entrar em um mercado totalmente novo: a construção pesada, o mesmo que a J&F quer experimentar a partir de agora.

Para cumprir os investimentos previstos na construção de termelétricas, por exemplo, o Bertin precisou se desfazer de negócios até então vistos como intocáveis – a ponto de sair do setor frigorífico. Tudo para ter caixa para tocar as obras – algumas, com problemas até hoje.

“Não é possível afirmar que o J&F seguirá os mesmo passos do Bertin, principalmente, porque a Delta tem contratos muito mais fáceis de serem administrados, mas a diversificação não relacionada, ou seja aquela que não tem nenhuma sinergia com o negócio principal do grupo, traz riscos”, afirmou Sergio Lazzarini, professor de Estratégia do Insper.

Segundo ele, a J&F, neste momento, terá que tomar muito cuidado e escolher as pessoas certas para tocar os contratos herdados pela antiga gestão, para que a história do grupo Bertin não se repita.

Já o suposto envolvimento da Delta no esquema de corrupção com o governo não terá grande impacto para os antigos negócios da J&F.  “Adquirir uma empresa com problema pode sempre gerar um impacto negativo , mas neste caso dificilmente alguém vai conseguir associar que a J&F é dona da JBS, pois a população geral não sabe quem são essas companhias”, disse Lazzarini.

Acordo

 A notícia de que a Delta  estava à venda foi antecipada pelo blog Primeiro Lugar Online, de EXAME. Neste primeiro momento, o contrato preliminar permite que a J&F substitua a estrutura administrativa da Delta, incluindo presidente, diretores e membros do conselho de administração. O nome do novo presidente da empresa deve ser divulgado em breve. 

Segundo Joesley Batista, acionista da J&F, o objetivo é honrar os contratos que serão auditados e preservar os mais de 30.000 empregos da Delta.

O controle da gestão da Delta não envolve nenhum tipo de pagamento. O valor que a J&F pode pagar pela construtora, caso a opção de compra seja colocada em prática, será estabelecido somente após a conclusão da auditoria.

 Em 2008, o JBS tornou-se o maior processador de carnes do mundo, ao comprar a americana Pilgrim’s Pride (de frangos) e os frigoríficos do Bertin. O estilo agressivo de gestão da família Batista, capaz de levar o presidente a pegar um cutelo e mostrar, na prática, como desossar um boi do melhor modo, foi batizado pelos próprios de “Frog” – uma brincadeira para “From Goiás”. Resta saber se a Delta não vai virar o Frog pelo avesso.

(Daniela Barbosa | Exame)

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