Paccar vai brigar pela liderança

Quando segurou uma pá dourada para fazer o que foi chamado de "cavação simbólica da terra", o presidente da montadora americana Paccar, Mark Pigott, deu início ontem, em Ponta Grossa (PR), a um plano ousado de conquistar 10% do mercado brasileiro de caminhões no prazo de cinco a dez anos. "Inicialmente", fez questão de ressaltar, ao ser questionado sobre a meta. O empresário não revela a porcentagem que almeja no longo prazo, mas seu discurso no lançamento do início das obras da fábrica mostra as intenções. "Estamos assumindo um compromisso de fazer parceria com o Paraná e dar início à estimulante jornada para nos tornarmos líderes em veículos comerciais no Brasil e na América do Sul", disse.

Para brigar por espaço com montadoras que há décadas fabricam e vendem no país, como Volvo, Scania, Mercedes-Benz, MAN e Iveco, e com outras que também planejam investir aqui, como a chinesa Sinotruk, a Paccar vai investir R$ 360 milhões na unidade e deve começar a produzir em meados de 2013. Por enquanto, o terreno de 2,5 milhões de metros quadrados que vai abrigar as instalações ainda tem as marcas da última colheita de trigo. A área era agrícola e, na vizinhança, há hoje plantações de soja e a Frísia, fábrica de processamento de leite inaugurada em setembro pela Cooperativa Batavo.

Pigott, o quarto membro da família fundadora a comandar os negócios, citou um dado para explicar a meta que traçou. Contou que, na Europa, tinha 7% das vendas de caminhões cinco anos atrás e, agora, está com 16%. E garantiu que não planeja conquistar clientes oferecendo preço baixo. Prometeu oferecer qualidade e o caminhão que o mercado pede. A empresa optou por estrear no país com a marca DAF, braço holandês do grupo, e exibiu dois modelos de cara chata na cor amarela. Também expôs sua história e a informação de que tem "72 anos consecutivos de lucros líquidos" – faturou US$ 10,3 bilhões em 2010, com ganhos de US$ 458 milhões.
 
A operação brasileira está sendo comandada pelo mexicano Marco Dávila. Ele contou que a fábrica terá 28 mil m2 e a produção vai começar em julho ou agosto do ano que vem com o modelo de caminhão pesado, o XF. Cerca de três meses depois terá início a fabricação do modelo médio, o CF. O LF, pequeno, deve demorar mais. Os preços dos veículos para o mercado brasileiro não foram informados, mas o diretor comercial, Michael Kuester, adiantou que não serão muito diferentes dos praticados pela Scania e Volvo. O executivo informou que a subsidiária brasileira vai importar 300 caminhões em 2013, para treinar as concessionárias. A intenção é ter 100 pontos de venda no Brasil em 2013. A prioridade será o cliente brasileiro, mas a empresa tem interesse em outros países da América do Sul.
 
Para a prefeitura de Ponta Grossa, a construção da fábrica da Paccar significa mais do que a entrada do município na indústria de veículos e a geração de 500 empregos. "Alguém vai fabricar peças para eles e esperamos que seja aqui", disse o secretário municipal da Indústria e Comércio, João Luiz Kovaleski, acrescentando que alguns dos fornecedores da montadora ainda não possuem unidades no Brasil. A primeira visita feita pela Paccar a Ponta Grossa foi exatamente um ano atrás. O governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), que participou do evento, tem a expectativa de que o Estado atraia investimentos de mais 20 empresas que vão fornecer para a Paccar.

A montadora já recebeu a licença de instalação do Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Pigott, que começou a fala em português, contou que o relacionamento com o Brasil começou nos anos 70, com importação. A instalação no país começou a ser estudada "há vários anos".

(Marli Lima | Valor)

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