País terá papel importante para Google em celular

O mercado brasileiro reúne duas características que podem tornar o país cada vez mais importante na estratégia do Google, na área de mobilidade, com a aquisição da Motorola Mobility. A primeira delas é o ritmo de crescimento acelerado do mercado. Segundo a consultoria IDC, as vendas de smartphones passarão de 10 milhões de unidades este ano para 47 milhões nos próximos quatro anos. Neste período, o país passará da 11ª posição no ranking mundial para a 4ª colocação, atrás dos Estados Unidos, China e Índia.

Outro fator importante é o desempenho da Motorola Mobility. A companhia ocupa no país a 4ª colocação, com 13,3% de participação, segundo a consultoria Gartner, enquanto no mundo ela é a 8ª. Segundo dados da Bloomberg, em 2010, a Motorola Mobility teve um faturamento de US$ 656 milhões no Brasil. "A companhia sempre esteve muito presente no país e tem uma marca reconhecida. Acredito que a operação tenha mais a agregar do que a piorar", avalia Thiago Moreira, diretor de telecom da companhia de pesquisa Nielsen.

Mesmo depois de perder a liderança do mercado mundial para a Nokia, em 1998, a Motorola manteve-se na liderança do mercado brasileiro até 2006. Em recente visita ao Brasil, o executivo-chefe da Motorola, Sanjay Jha, disse ao Valor que a América Latina, os Estados Unidos e a China estavam entre as prioridades de investimento da companhia desde que ele assumiu o cargo, em 2008. Na ocasião, ao comentar sobre a estratégia global da companhia para tablets e smartphones, Jha afirmou que, no longo prazo, acreditava mais no sucesso do segmento de smartphones. "A margem de lucro nos tablets se aproximará da dos PCs em menos de cinco anos. Nos smartphones, as pessoas estão dispostas a pagar mais por mais funções, porque elas dependem deles no dia a dia", disse.

A Motorola Mobility realiza hoje um evento em São Paulo. No encontro, a companhia apresentará sua linha de produtos para o terceiro trimestre. Entre os lançamentos está o Droid 3, nova versão do primeiro smartphone Android da companhia, lançado em 2009 com o nome de Milestone. Todos os aparelhos vendidos pela companhia no país são fabricados locamente, na unidade de Jaguariúna, no interior de São Paulo. A fábrica é uma das duas mantidas pela Motorola Mobility no mundo. A outra unidade está localizada na China.

A estimativa da IDC é de que sejam vendidos 473 milhões de smartphones no mundo este ano. No Brasil serão 10 milhões. Até 2015 as vendas globais subirão para 982 milhões. No Brasil, o número chegará a 47 milhões, diz Bruno Freitas, analista da IDC.

Segundo a Nielsen, as vendas de aparelhos com Android ultrapassaram as de modelos com o Symbian, da Nokia, no segundo trimestre. No período, o sistema do Google estava presente em dois de cada cinco smartphones vendidos no país, o equivalente a 39% do total. Já o Symbian ficou com 34%. O crescimento aconteceu por conta do aumento no número de aparelhos à venda e pela queda de 17% nos preços em um período de 12 meses, explica Moreira.

Na medida em que o Android e outros de seus produtos ganham espaço no mercado local, o Google também tem investido para ampliar sua presença no Brasil. A companhia está em processo de contratação de 125 profissionais – um acréscimo de 50% em relação à equipe atual, de 250 pessoas – e já enfrenta problemas de espaço para colocar tanta gente. Em entrevista ao Valor em maio, o novo presidente do Google no país, Fábio Coelho, contou que a companhia está de mudança para um novo escritório. Em 2012, o Google passará a ocupar três andares no edifício Projeto Faria Lima, um conjunto comercial que está sendo erguido em um terreno de 19 mil m2, que pertenceu ao especulador Naji Nahas na década de 80 e foi vendido em 2008, por R$ 500 milhões. Trata-se do último terreno disponível na Avenida Brigadeiro Faria Lima – uma das regiões mais disputadas de São Paulo.

Na avaliação de Olavo Henrique Furtado, coordenador da Trevisan Escola de Negócios, a compra da Motorola ajuda o Google na ampliação de seu modelo de negócios. "A companhia tem obtido sucesso com a venda de publicidade, mas precisava de um produto real, que mostrasse o que é seu negócio de fato", diz.

(Gustavo Brigatto | Valor)

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