Paranapanema faz plano para investir R$ 500 milhões

A Paranapanema, maior fabricante de cobre do país, parece que finalmente vai pôr fim à longa paralisia. Na semana passada, na Europa, fechou a compra de uma fábrica completa que vai substituir a instalação já quase obsoleta que opera há mais de cinco décadas em Santo André, no ABC paulista. É um passo emblemático da companhia, cujo controle foi assumido no começo de 1996 pelos fundos de pensão Previ, Petros, Sistel e Aerus, além da BNDESPar. Desde então, só consegue administrar uma pesada dívida, herdada no negócio, e um portfólio de ativos com mais de 60 empresas.

"Esse grupo não vê investimentos significativos há mais de dez anos e tem linhas de produção com mais de 50 anos ainda em operação", disse ao Valor Luiz Antônio Ferraz Júnior, presidente da empresa desde agosto de 2008. A aquisição na Europa é parte de um pacote de mais de R$ 500 milhões de investimento até 2013 na expansão e modernização de seu parque fabril. Hoje, enxuta, a companhia foca em cobre metálico e fertilizantes na Bahia e em produtos laminados, barras, tubos, ligas e conexões de cobre em Santo André e Serra (ES).

Até o fim de março, Ferraz, contratado em maio de 2005 como diretor financeiro, só cuidou de pôr empresa em ordem. "Havia, com os acionistas, concentrada na holding, uma dívida de R$ 1,5 bilhão que não permitia investir nas áreas operacionais". Um passo foi deixar de usar dinheiro da operação para quitar dívidas da holding. Isso significou capitalização de metade do passivo e venda de um ativo de peso, a mina de estanho, para quitar a outra metade. "Concluímos a venda da Taboca/Mamoré, por R$ 850 milhões, no meio da crise, em novembro de 2008".

Os passos seguintes, até março, foram a reorganização operacional, societária e de saneamento fiscal. Ao aderir ao Refis, do governo federal, eliminou contingências de quase R$ 1,6 bilhão. Iniciou a incorporação das duas principais empresas do grupo – Caraíba Metais e Eluma – pela holding Paranapanema, transformando-a numa empresa operacional. Com isso, busca ganhos operacionais, administrativos, comerciais, de logística e de investimentos.

O terceiro passo, concluído neste ano, foi a conversão de suas ações preferenciais em ordinárias, criando uma única classe de papéis. Assim, abriu caminho para migrar ao Novo Mercado da BM&FBovespa. O plano é fazer isso no segundo semestre.

Hoje, a Paranapanema é só uma sombra daquela que nos anos 80 agitou o mercado de capitais como a maior mineradora de estanho do mundo. Mas, ao menos, ostenta um plano para crescer. A situação financeira é confortável: encerrou o primeiro trimestre com dívida negativa em R$ 213 milhões (ver quadro nesta página). Talvez, agora, já possa pensar em remunerar os acionistas, depois de longos anos sem pagar dividendo.

O programa de investimentos visa, além de expansão, dotar suas fábricas com tecnologias modernas para ter custos mais competitivos e poder oferecer novos produtos. "Nosso objetivo é aumentar o peso do mercado interno na receita", informa Ferraz. Na empresa unificada, a meta é alcançar 75%, ante os 50% de 2009, aproveitando o crescimento do Brasil previsto para os próximos anos em vários setores que consomem cobre – bens eletroeletrônicos e eletrodomésticos, construção civil, máquinas e equipamentos e automotivo.

Ao fim dos investimentos, a empresa projeta um adicional de faturamento da ordem de US$ 650 milhões. Desse valor, mais da metade (US$ 350 milhões) virá da expansão da metalurgia de cobre situada em Dias D ” Ávila, na Bahia, a qual está orçada em R$ 300 milhões. Essa fábrica, que fabrica catodos e vergalhões, passará de 220 mil para 276 mil toneladas anuais. "Já temos o plano aprovado, com de 80% de financiamento do Banco do Nordeste". As obras, previstas para começarem em 90 dias, devem durar 24 meses.

A unidade de produtos laminados de Utinga, em Santo André, será reconstruída com as modernas instalações adquiridas na Europa. Vão desembarcar no Brasil em até 15 meses. O custo total do projeto é de R$ 150 milhões e ele deverá estar definido até o fim do ano. "Vai nos permitir ampliar a base de clientes", diz Ferraz, que vai avaliar, com sua equipe, se a nova fábrica será montada no lugar da atual, já obsoleta, ou se irá para um novo site, próximo a um porto. "Cada vez mais, aqui estamos cercados por condomínios residenciais". Essa alternativa vai considerar ganhos logísticos com transporte de matéria-prima da Bahia via cabotagem, como já faz hoje com produtos da Caraíba para venda no mercado do Centro-Sul.

Com a expansão, irá de 26 mil para uma capacidade de 66 mil toneladas/ano, gerando receita adicional de US$ 160 milhões a partir de 2012. Além de crescer, poderá fazer bobinas com peso de até 7 toneladas, mais que o dobro de hoje, e mais largas que as atuais.

O outro investimento, de R$ 50 milhões, na divisão Eluma está desenhado para elevar de 16 mil para 36 mil toneladas a capacidade atual da fábrica de tubos de cobre sem costura que fica em Capuava, outro bairro de Santo André. "Será a mais moderna unidade de tubos do mundo", diz o executivo, observando que a atual está com seus processos produtivos ultrapassados. "Vamos conseguir ganhos expressivos de custos e crescer nos mercados de refrigeração e construção civil".

"A partir de abril, essa companhia ganhou uma nova cara, pois está com situação financeira, fiscal e societária arrumada e com um plano aprovado de crescimento", afirma Ferraz.

Não tem mais bloco de controle nem acordo de acionistas. A pergunta é se Previ, BNDESPar e Petros vão apostar mais alguns anos na Paranapanema ou se vão aproveitar o momento para vender suas ações.

(Valor)

 

 

 

 

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