Peugeot na contramão

O executivo francês Guillaume Couzy, 42 anos, assumiu a operação brasileira da Peugeot em abril de 2010. Apesar disso, Couzy não é um estranho no ninho. Ele fala português fluentemente e já esteve por aqui, entre 1993 e 1994, quando chefiou o departamento de publicidade, e entre 2001 e 2005, como diretor de marketing, da montadora. Uma de suas quatro filhas nasceu em São Paulo. Neste último desembarque, Couzy encontrou um cenário preocupante. Em 2009, em razão da crise financeira mundial, a Peugeot tirou o pé do acelerador, adiando seu cronograma de lançamentos de novos modelos no Brasil. Além disso, diminuiu também a produção de sua fábrica em Porto Real (RJ). Foi justamente nessa época que as vendas de automóveis explodiram, atingindo 3,3 milhões de unidades comercializadas em 2010. Tal resultado tornou o Brasil o quarto maior mercado mundial. O erro estratégico custou caro à Peugeot.

Em 2007, ela detinha 3,4% de participação de mercado. Nos sete primeiros meses de 2011, a marca estava com 2,6%. Com esse desempenho, a montadora francesa passou da sétima posição no ranking de vendas de veículos para a décima colocação, segundo dados da Fenabrave, entidade que representa os distribuidores de carros. “Minha missão é reconquistar o consumidor brasileiro”, disse Couzy à DINHEIRO. O plano para reverter esse cenário já está em andamento. Ele prevê o lançamento de pelo menos cinco novos veículos no mercado brasileiro até o final de 2012, aumento do número da rede de distribuidores e aposta em um modelo compacto de concessionárias. Couzy, assim que chegou, iniciou também um processo de “abrasileiramento” da operação local. O diretor comercial, o francês Laurent Bernard, foi mandado de volta à matriz. Hoje, com exceção de Couzy, todos os diretores são locais. “É importante ter profissionais que conheçam bastante o mercado”, afirma Couzy. “Posso dizer que entendo mais do consumidor brasileiro do que do francês.” 

A primeira etapa desse novo projeto aconteceu na terça-feira 23, quando a Peugeot reuniu, em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, todos os seus distribuidores para apresentar o esportivo RCZ, a primeira das novidades que devem chegar ao País nos próximos 18 meses. Embora Couzy não revele o cronograma de lançamentos, o mercado especula que uma versão do hatch 308, concorrente do Golf, da Volkswagen, e do Bravo, da Fiat, deve ser anunciada ainda neste ano. Outra carta na manga do executivo é aumentar a rede de distribuidores, que ficou estagnada, entre 2007 e 2009, com 150 concessionárias. Atualmente, a Peugeot conta com 175 revendas. Até o final de 2012, Couzy pretende chegar a 190 unidades. Parte delas terá um formato compacto, apropriado a cidades que vendem, em média, 400 carros por mês. “Será como um showroom, mas com tudo que uma concessionária tem, incluindo oficina”, diz o executivo francês.

A montadora vai também investir no segmento de clientes corporativos, que representam apenas 8% das vendas da operação local. Nos seus rivais, esses consumidores são responsáveis, em média, por 25% da comercialização de veículos. Para atender esse nicho, Couzy criou um departamento. “Conquistar esse tipo de consumidor exige uma boa estrutura de pós-venda e manutenção barata”, diz Fernando Trujillo, analista da IHS Consultoria, de Campinas (SP), especializada no setor automobilístico. É exatamente o que tem feito Couzy. Assim que assumiu o comando da filial brasileira, ele promoveu uma padronização de preços de peças e valores de revisões. Apesar dessa reestruturação, a montadora ainda não conseguiu aumentar sua participação no Brasil. “Voltamos a crescer no ritmo do mercado”, afirma o executivo. “Agora, criamos a base para retomar nossa antiga posição.” Em 2011, a montadora pretende vender 95 mil unidades de seus carros no Brasil, um aumento de 5% em comparação com o ano anterior, acompanhando as estimativas de expansão do mercado brasileiro.

(Rafael Freire l Isto é Dinheiro)
 

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