PIB recorde mostra risco de superaquecimento

O investimento e a produção da indústria fizeram o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro crescer 9% no primeiro trimestre de 2010, na comparação com o mesmo período do ano passado, quando o país teve o pior desempenho desde o início da crise global. Em relação ao último trimestre de 2009, a expansão foi de 2,7%, segundo o IBGE, o que representa uma taxa anualizada de 11,25%. Tal ritmo de crescimento ocorre após a primeira recessão desde Collor, registrada no ano de 2009 (queda de 0,2% no PIB). Os analistas alertam para o risco de superaquecimento e da falta de poupança interna para financiar a expansão da economia. Outra ameaça é o descontrole das contas externas, pois as importações cresceram 39,5%. O consumo das famílias, que avançava há seis anos e meio, deu sinais de esfriamento. O mercado prevê que o país poderá crescer até 8% em 2010, exigindo mais importações.

Economia cresce à taxa recorde de 9%, mas analistas veem riscos no superaquecimento

Com números recordes que aproximaram o Brasil da China, o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo país) cresceu 2,7% no primeiro trimestre do ano, frente aos últimos meses do ano passado, o que significa uma taxa anualizada de 11,25%, ou seja, num ritmo chinês, superior aos 10%. As contas nacionais trimestrais, divulgadas ontem pelo IBGE, só trouxeram notícias boas, depois da recessão de 2009, quando o país viu sua economia encolher 0,2%, na primeira queda do PIB desde 1992, na ressaca do Plano Collor.

Mas a forte alta do PIB reforça a visão de analistas de que o país pode estar passando por um superaquecimento, crescendo acima do seu potencial.
As comparações com 2009, favorecidas pelo pior momento da crise, quando a economia afundou na recessão, são ainda mais robustas. Frente ao início do ano passado, o PIB cresceu 9%, a mais alta taxa desde o primeiro trimestre de 1995, ano seguinte ao Plano Real. Com isso, nos últimos 12 meses, a expansão é de 2,4%. "Superamos o patamar de antes da crise. É o trimestre dos recordes, até porque estamos comparando com período muito deprimido, que foi o pior da crise", afirmou Rebeca Palis, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE.

Consumo interno cresce 12%

O setor que empurrou a economia com mais força foi o investimento, substituindo o consumo das famílias na liderança do PIB. Com alta de 7,4% frente ao último trimestre de 2009 e de 26% ante o início do ano passado (a maior desde 1994), a formação bruta de capital fixo, que mostra os investimentos da economia e a construção civil, foi puxada pela produção nacional e a importação de máquinas e equipamentos.
A construção civil avançou 14,9% frente ao primeiro trimestre de 2009, a maior expansão em14 anos. "Temos o crédito imobiliário, aumento da ocupação na construção e as obras do PAC que influenciaram esse setor", disse Rebeca.

Pelo lado da oferta, a indústria despontou com alta de 4,2% frente a fim de 2009 e de 14,6% contra o mesmo trimestre de 2009. Assim como o investimento, o setor deixou para trás qualquer vestígio de crise. Ainda usufruindo dos benefícios fiscais e do mercado de trabalho aquecido, a demanda interna explodiu no primeiro trimestre. A alta foi de 12% e esse consumo, representado pelos gastos de famílias, governo e investimentos, foi suprido pelas importações. "Com isso, temos desequilíbrio externo", afirma Armando Castelar, economista da Gávea Investimentos.

A expansão do PIB veio acima da média das projeções e agora os analistas preveem uma alta maior este ano, de até 8%. Fernando Montero, da corretora Convenção, lembra que, estatisticamente, com o resultado divulgado ontem pelo IBGE, mesmo que a economia não mude de patamar até o fim do ano, já está garantida uma expansão de 6% em 2010.

(Cássia Almeida, Clarice Spitz e Henrique Gomes Batista | O Globo)

 

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