Redecard corta custo e lucra R$ 1,4 bi

A Redecard apresentou um forte resultado em 2011, graças à combinação de controle de custos e preços aquecidos. O desempenho chegou, inclusive, a surpreender boa parte dos analistas de mercado. Resta a dúvida, porém, se essa estratégia poderá ser mantida no longo prazo, dada a perspectiva de acirramento da concorrência, com a entrada de mais competidores no chamado setor de "adquirência" – responsável pelo credenciamento de estabelecimentos comerciais, captura, processamento e liquidação das transações de débito e crédito.

As ações da Redecard tiveram ontem alta de 1,91%. Mas os papéis de sua principal rival, a Cielo, subiram ainda mais, 3,57%.
 
Claudio Yamaguti, presidente da Redecard, disse que a busca por eficiência empreendida ao longo do ano passado vai permitir que os esforços de atuação se concentrem, em 2012, no crescimento da base de clientes da empresa. Cerca de 80% dos R$ 500 milhões previstos em investimentos neste ano serão usados na expansão e renovação do parque de maquininhas (POS), privilegiando a aquisição de equipamentos mais modernos ("wireless"), que geram uma receita maior.
 
"As decisões tomadas em 2011 continuarão norteando a estratégia da companhia nos próximos anos, permitindo um desempenho sustentável", ressalta ele. A Redecard registrou lucro líquido de R$ 1,4 bilhão em 2011, superior ao de 2010 em 0,3%. No quarto trimestre, o lucro foi de R$ 456,9 milhões, crescimento de 31% ante igual período de 2010. O custo total dos serviços prestados recuou 0,9% no quarto trimestre de 2011 ante o quarto trimestre de 2010, refletindo a reestruturação promovida na empresa, que incluiu desde a redução do quadro de funcionários até a revisão de contratos com fornecedores.
 
Na linha de receita, chama atenção o aumento da taxa de desconto líquida média (cobrada dos lojistas) nas operações de débito – que passou de 0,70% no quarto trimestre de 2010 para 0,73% no quarto trimestre de 2011. Nesse mesmo período, a receita com aluguel de equipamentos subiu 27,2%, para R$ 215 milhões, e também foi destaque positivo.
 
Mas a desaceleração no ritmo de crescimento do volume financeiro de transações observada ao longo do ano, puxada pelas operações com cartão de crédito (que subiram apenas 8,8% no quarto trimestre de 2011 em comparação com o terceiro trimestre) fez acender o sinal de alerta.
 
"Pelas nossas estimativas, a Redecard reportou uma queda significativa de participação de mercado no segmento de cartão de crédito, de 41% no quarto trimestre de 2010 para 37,2% no quarto trimestre de 2011", afirma em relatório Henrique Caldeira, analista do Barclays. "Essa perda de ”share” deve se refletir em menor crescimento em 2012", complementa.
 
A Redecard prevê, para este ano, uma expansão no volume de transações em linha com o mercado, em torno de 20%. Para recuperar o espaço perdido em 2011, no entanto, talvez fosse necessário sacrificar um pouco as margens, reduzindo os preços dos serviços cobrados de lojistas.
 
Embora não refutem essa possibilidade, os executivos da Redecard resistem à ideia de aderir a uma eventual "guerra de preço" – a exemplo da agressiva política de conquista de mercado capitaneada pela própria empresa logo após a abertura do mercado de cartões, quando ainda estava sob o comando de Roberto Medeiros, a quem Yamaguti sucedeu.
 
"A Redecard fez o que fez [foi reestruturada] para voltar a ter investimento forte sem necessariamente mexer em preço", afirmou o diretor executivo de finanças Marcelo Kopel. "Obviamente, pode acontecer de sermos mais agressivos em uma proposta ou outra, para ganhar um segmento no qual temos menos penetração, assim como fizemos escolhas em 2011." Mas ele reconhece, por exemplo, que o mercado deverá trabalhar neste ano com uma taxa de desconto líquida média inferior à de 2011 em 4 a 5 pontos-base. "Mas o aumento de volume compensa e a receita vai se expandir", rebate.

(Aline Lima | Valor)

 

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