Sermatec busca sócio e diversifica atuação para voltar a crescer

Antonio Carlos Christiano, CEO da empresa: áreas de papel e celulose, petróleo e gás estão na mira da companhia
A indústria de bens de capital Sermatec, de Sertãozinho (SP), controlada pela família Biagi, de tradicionais usineiros do país, está passando por uma reestruturação, que passa pela diversificação das atividades da companhia e pela busca por novos sócios. Atingida em cheio pela crise financeira global e também pelo período de turbulência que afetou o setor sucroalcooleiro, entre 2008 e 2009, os acionistas da empresa estão à procura de uma nova identidade para seu negócio.

Em entrevista ao Valor, Antonio Carlos Christiano, CEO da companhia, contou que a empresa quer reduzir sua dependência do setor sucroalcooleiro e está abrindo o leque para atuar em novos segmentos, como papel e celulose, petróleo e gás – estratégia que também foi adotada pelos seus principais concorrentes nacionais, como a Dedini, com sede em Piracicaba (SP).

A empresa, que viu seu faturamento praticamente derreter durante o período mais crítico da crise, quer atrair novos sócios – tanto fundos de investimentos como empresas que já atuam nesse segmento. Os acionistas contrataram a consultoria Stratus para atrair esses novos parceiros. "Nos próximos meses deveremos definir o novo sócio. Mas a família quer se manter no controle da empresa", disse Christiano.

O executivo foi contratado há nove meses pelos acionistas da companhia para dar novo rumo à Sermatec. Ex-executivo da Dedini, com passagens também pela Villares e Inepar, Christiano disse que a Sermatec já está voltando novamente para os trilhos.

Entre 2008 e 2009, a empresa passou por apuros financeiros, quando boa parte dos contratos firmados para a construção de novas usinas foi cancelado. "Contratos que somavam R$ 350 milhões foram suspensos durante a crise", afirmou. Com a carteira focada sobretudo no setor sucroalcooleiro, a empresa viu sua receita recuar 48%, de R$ 707 milhões em 2008 para R$ 370 milhões no ano passado. "Fechamos dois anos seguidos no vermelho", informou Christiano. A expectativa é que o faturamento atinja cerca de R$ 400 milhões este ano.

Há cerca de 10 dias, a empresa fechou contrato com a argentina Papel Misionero, do grupo Zucamor, para a entrega de uma caldeira de leito fluidizado (queima resíduos com a menor emissão de gases). O valor do negócio é de US$ 20 milhões para a entrega em até 24 meses, mas que poderá ser antecipado.

Esse é um importante passo dado pela companhia na diversificação de seus negócios. A empresa também está em tratativas com a Petrobras para fazer o seu cadastro como fornecedor de equipamentos para as indústrias de petróleo e gás. "Hoje açúcar e álcool representam quase 100% do faturamento da companhia. O objetivo é que caia para até 50%."

A má fase da Sermatec coincide com o revés que a família Biagi enfrentou nesses últimos meses. Controladores da Santelisa Vale, de Sertãozinho, uma das maiores companhias do setor de açúcar e álcool do país, os acionistas venderam a empresa para o grupo francês Louis Dreyfus, ficando com uma participação minoritária do negócio fundado pela família no início do século passado.

Passado esse momento delicado, os acionistas da Sermatec decidiram que vão fazer ainda este ano um aporte de cerca de R$ 15 milhões na empresa. "Esse aporte deverá dar fôlego para a companhia negociar a entrada de novos sócios sem grande pressão", afirmou o executivo. Neste momento, há conversações com fundos de investimentos e também com companhias do setor interessadas em parcerias com a Sermatec, segundo Christiano. "Antes não éramos uma noiva muito bonita, mas agora já temos até alguns pretendentes."

A meta da Sermatec, passado o período de crise e retomada de sua expansão, é se tornar uma companhia com faturamento de R$ 1,5 bilhão nos próximos três a cinco anos. Também há planos para abertura de capital no futuro, de acordo com Christiano. "Nos primeiros quatro meses do ano, fizemos contratos de R$ 100 milhões e queremos trazer de volta pelo menos R$ 190 milhões (dos R$ 350 milhões cancelados durante a crise)."

As exportações também fazem parte da estratégia da Sermatec. A empresa tem quatro contratos vigentes, boa parte deles ainda focado em açúcar e álcool. Um deles é com a Odebrecht, que está construindo uma usina de etanol em Angola. Há também projetos para vendas de equipamentos para usinas no México e Colômbia. "Também passaremos a ser uma empresa de serviços. Vamos fazer manutenção de equipamentos de usinas durante o período de entressafra da cana (de dezembro a abril), por exemplo. Aprendemos com a crise do setor e não queremos repetir a mesma história de colocar todos os ovos na mesma cesta."

(Mônica Scaramuzzo | Valor)
 

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