Sob novo formato, Ultra se prepara para nova expansão

A entrada do grupo Ultra no Novo Mercado marca o início de um novo capítulo na história da companhia, cuja receita líquida atingiu R$ 42,5 bilhões em 2010. O conglomerado, que reúne ativos na área de distribuição de combustíveis (Ipiranga), seu principal negócio, gás GLP (Ultragaz), químicos (Oxiteno) e de logística (Ultracargo), sob o guarda-chuva da holding Ultrapar Participações, trabalha para intensificar seu movimento de internacionalização, além de fortes investimentos no mercado interno – neste ano chegará a R$ 1 bilhão.

À frente da presidência do conselho de administração do grupo, Paulo Cunha, também um dos principais acionistas da companhia, afirmou ao Valor que o Ultra está preparado para se perpetuar. O discurso pode até soar em tom de despedida, uma vez que ele próprio admitiu, pela primeira vez, que está se preparando para deixar a companhia "sem data marcada", mas Cunha prefere não se aprofundar nos detalhes dessa conversa.

O processo sucessório no Ultra está sendo pensado sem pressa. Cunha afirmou que é um processo natural. "Precisamos renovar e estamos promovendo a próxima etapa [a saída do presidente-executivo Pedro Wongtschowski] de forma gradual e segura", afirmou. "A minha [saída] também está sendo programada", afirmou. O acionista não comentou sobre os possíveis sucessores.

O mercado tem acompanhado atentamente os passos dados pelo grupo nos últimos anos em relação aos investimentos e sua política de governança corporativa – considerada ponto alto por analistas ouvidos pelo Valor. Ontem, as ações da empresa encerraram o dia a R$ 27,71, próximo ao marco histórico do grupo, de R$ 28,57 em 14 de abril. No ano, os papéis acumulam aumento de 7,4% e, em 12 meses, valorização de 29,41%.

"A empresa atua em mercados maduros e entrega resultados", afirmou Bruno Varella, analista do Bradesco. A eventual saída de Cunha em nada muda o cenário da empresa, acredita o analista. "É inegável que ele transformou a companhia nesses últimos anos. Mas acreditamos que será uma sucessão planejada."

Para Andres Kikuchi, analista da Link, o grupo tem visão de futuro e está se preparando para um patamar ainda maior, com futuras aquisições.

Anunciada em abril e ratificada ontem em assembleia de acionistas, a ida do grupo ao Novo Mercado leva o Ultra a migrar para um modelo de gestão sem bloco de controle definido. Cada ação preferencial será convertida em uma ordinária (sem prêmio para quem detinha papéis com direito a voto) a partir de agosto. Pelas novas regras, fica estabelecido um limite de 20% para aquisição de papéis por um investidor. Se atingido esse percentual, torna-se obrigatório fazer uma oferta pública pela totalidade das ações em poder do mercado.

Pela nova composição acionária, a Ultra SA detém 24% dos papéis, o fundo britânico Aberdeen fica com 9%, mesmo percentual que o Parth Investiment, Monteiro Aranha com 5%, Previ com outros 6%, Genesis 3%, Dodge & Cox 4% e outros com os 40% restante.

"Acreditamos que essa operação terá chance de perpetuar a companhia. Por isso, preferimos regras estruturadas, objetivas", disse Cunha, acrescentando que esse novo formato abre "mais espaço para investimento", uma vez que a estrutura anterior deixava a companhia mais engessada.

Apesar dessa mudança de formato, a filosofia da empresa continua a mesma, afirmou Cunha. "O ”day after” vai ser igual ao ”day before”: trabalho, trabalho, trabalho e trabalho."

Os próximos passos do Ultra visam intensificar o processo de internacionalização da empresa. A companhia vai focar, sobretudo, em ativos para crescer em especialidades químicas e em gás. Por meio da Oxiteno, divisão química do Ultra, a empresa possui unidades no México e Venezuela. Essas fábricas são produtoras de especialidades químicas. No ano passado, o grupo fez uma oferta hostil para a compra dos ativos de gás da Shell na Europa. No entanto, o negócio não foi levado adiante porque ao fazer uma análise mais criteriosa, os negócios não foram considerados interessantes. No momento, o Ultra não está mais de olho em negócios na Europa. "Tem ativos muito interessantes na América Latina", afirmou. Ativos no setor químico no exterior também continuam no radar da empresa.

O mercado interno continua sendo o principal foco de crescimento da companhia. Os investimentos no país este ano estão estimados em R$ 1 bilhão. Deste total, R$ 548 milhões serão na área de distribuição de combustíveis e cerca de R$ 170 milhões em distribuição de gás. A empresa vai focar sua expansão em distribuição de combustíveis nas regiões, Centro-Oeste, Norte e Nordeste, mais pulverizadas, e avançar sobre os postos de bandeira branca. As perspectivas são de um crescimento do grupo para 2011 da ordem de 20% a 25%, mesmo patamar de expansão observado nos últimos anos.

Menos engessada no Novo Mercado, a companhia terá mais acesso a capital para promover sua expansão. Segundo André Covre, diretor financeiro e de relações com os investidores, a empresa não tem interesse, pelo menos no curto e médio de prazo, de fazer captações externas. "Temos posição de caixa forte e recursos suficientes para fazer novos investimentos", disse.

Desde o início dos anos 2000, o grupo Ultra protagonizou movimentos importantes de consolidação, tornando-se um dos maiores do país. A aquisição da Ipiranga colocou a companhia na vice-liderança em distribuição de combustíveis no país, os ativos de gás que pertenciam à Shell, comprados pela companhia, fortaleceram a posição de liderança da companhia nesse segmento.

No mercado são fortes os comentários de que a companhia poderia adquirir os ativos da AleSat para avançar em distribuição. A empresa não comenta sobre rumores de mercado, mas afirma que está de olho em todas as oportunidades nos quatro setores de sua atuação.

(Mônica Scaramuzzo | Valor)

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