A CPFL pretende concluir em março uma ampla concorrência para a compra de 2 milhões de medidores eletrônicos de consumo de energia e de uma rede de comunicação inteligente, a chamada “smart grid”, para implantar em residências de oito distribuidoras do grupo nos próximos cinco a sete anos. O pacote, estimado em R$ 700 milhões, é disputado por mais de 20 empresas nacionais e estrangeiras.
“Tivemos informações de que este é, talvez, o maior projeto do tipo em andamento no mundo. Há alguns projetos que podem ser maiores, por exemplo há um projeto na Turquia que pode chegar a 20 milhões de medidores, mas ainda está em planejamento, não está em cotação”, afirmou o diretor de Engenharia da CPFL, Paulo Bombassaro.
Segundo o executivo, após receber todas as propostas, a empresa vai iniciar a etapa de negociações diretas. “Esperamos fechar todos os contratos até meados do ano e iniciar os trabalhos no fim de 2015”, disse o diretor.
O processo da CPFL é semelhante ao feito pela Light no ano passado. A distribuidora fluminense contratou a Landis+Gyr, fabricante de origem suíça e adquirida pela japonesa Toshiba em 2011, para o fornecimento de 1 milhão de medidores e da rede de comunicação inteligente, por R$ 750 milhões, a ser instalada nos próximos cinco anos.
O objetivo do grupo paulista, porém, é diferente do foco da Light, que adquiriu os equipamentos para reduzir as perdas elétricas não-técnicas (furto e fraude de energia). A CPFL, cujas distribuidoras, situadas em São Paulo e no Rio Grande do Sul, estão entre as empresas com os menores índices de perdas do país, vai investir na tecnologia para modernizar sua rede e reduzir custos operacionais.
Segundo Bombassaro, o projeto vai atender quase um terço do total de clientes do grupo CPFL, da ordem de 7,5 milhões. A ideia da empresa é realizar um novo projeto no futuro para ampliar o universo de clientes contemplados com a nova infraestrutura.
Para garantir a viabilidade econômica do projeto, a CPFL está pleiteando à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) o reconhecimento dos investimentos na tarifa de energia. “É indispensável que os ativos envolvidos no investimento sejam reconhecidos pela Aneel”, explicou Bombassaro. Na prática, a empresa sugere que as regras do quarto ciclo de revisão tarifária, em estudo pela agência, incluam mecanismos de estímulo a investimentos em smart grid.
O projeto faz parte da estratégia de smart grid da CPFL. Nos últimos três anos, a companhia investiu R$ 215 milhões em três grandes projetos de redes inteligentes.
O primeiro projeto tratou da instalação de telemedição para grandes clientes atendidos em alta tensão, como fábricas e grandes estabelecimentos. O segundo é um projeto de operação e mobilidade, otimizando o trabalho de campo. E o último é um projeto de automação de redes de média tensão.
No projeto de telemedição, a companhia implantou o sistema de medição do consumo à distância para quase 24,5 mil grandes clientes do grupo. E neste ano, a empresa prevê investir mais R$ 3 milhões para realizar a segunda etapa do projeto, ligando os 2,5 mil grandes clientes restantes.
Bombassaro explicou que não se tratam de projetos de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), que contam com recursos carimbados pela Aneel. Essas iniciativas são feitas com recursos próprios da companhia e que já possuem projeção de retorno financeiro. Na prática, os projetos estão permitindo a empresa aumentar a agilidade dos serviços e reduzir os custos operacionais.
No projeto de telemedição de grandes clientes, por exemplo, a companhia prevê um ganho de R$ 5,6 milhões por ano com a redução de custos de leitura, inspeção e faturamento a partir de 2015. “Para fazer a medição de um cliente de alta tensão, tínhamos que enviar uma equipe para fazer a leitura, com um veículo e dois eletricistas. O que era feito em duas horas, incluindo deslocamento e leitura, agora fazemos em 0,04 segundos”, disse o diretor de Engenharia da CPFL.
(Valor)