A CPFL Energia, responsável pela distribuição de energia para aproximadamente 7,5 milhões de clientes nos Estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais, iniciará neste ano o projeto de modernização do sistema de medição de consumo entre os clientes de baixa tensão, incluindo os residenciais.
Avaliado em R$ 700 milhões, o projeto prevê a instalação de 2 milhões de medidores em um prazo de cinco a sete anos e é considerado o maior do gênero em contratação no mundo atualmente.
Com a expansão da tecnologia de Smart Grid para os consumidores do grupo B, a CPFL almeja melhorar os indicadores de serviços prestados e dar início à oferta de outros serviços, como, por exemplo, o acionamento automatizado de aparelhos elétricos.
A iniciativa, explica o diretor de Engenharia da CPFL, Paulo Bombassaro, é a segunda etapa da implantação do Smart Grid nas áreas atendidas pelas concessionárias do grupo, entre elas a Paulista, a Piratininga e a RGE. De 2012 até o final do ano passado, a nova tecnologia foi adotada em 100% dos clientes do chamado grupo A, indústrias e comércios atendidas com alta e média tensão.
“Já temos 25 mil clientes ligados, os quais representam 40% do faturamento da empresa”, explica o executivo em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado.
“Agora vamos instalar 2 milhões de novos medidores, em um período de cinco a sete anos. Isso significa que, em um ritmo normal, podemos fazer mais de 300 mil substituições por ano”, complementa Bombassaro.
A expansão do modelo de medidores inteligentes para os consumidores do grupo B deve se concentrar, nesta primeira etapa, em áreas consideradas mais povoadas, onde o número de clientes é maior e a infraestrutura de telecomunicações é mais adequada para a adoção da nova tecnologia.
É o caso, por exemplo, da região de Campinas e da Baixada Santista, em São Paulo, e da região metropolitana de Caxias, no Rio Grande do Sul. Com a nova tecnologia, a distribuidora aperfeiçoa o monitoramento ao serviço prestado, uma vez que eventuais desligamentos são identificados no mesmo momento e o restabelecimento do sistema pode ser executado remotamente.
Outra novidade possível a partir da instalação de um sistema inteligente, salienta Bombassaro, seria a prestação de serviços diferenciados, além da oferta de energia a preços reduzidos.
“Com a infraestrutura montada, podemos fornecer um serviço para o controle do ar condicionado de uma residência, por exemplo. Outra opção é termos um acordo com o cliente que autorize o desligamento de energia em condições de emergência, em troca da cobrança de uma tarifa diferenciada”, diz o diretor, após lembrar o apagão ocorrido em janeiro passado.
Na oportunidade, o Operador Nacional do Sistema (ONS) elétrico determinou a redução da carga.
Como não há tecnologia aplicada para uma seleção dos clientes, as concessionárias são obrigadas a selecionar regiões inteiras.
O Smart Grid poderá permitir o desligamento seletivo em situações como essa.
Aplicação
A CPFL Energia lançou a proposta de contratação dos medidores em dezembro do ano passado e pretende concluir a escolha da melhor alternativa ainda no primeiro semestre.
Cumprido o cronograma, a companhia acredita que conseguiria fazer a instalação dos primeiros 10 mil medidores no grupo B ainda neste ano – os equipamentos ainda dependem de aval do Inmetro.
Apesar de a contratação estar em curso, a CPFL não descarta a possibilidade de rever as condições propostas aos fabricantes dos equipamentos e prestadores de serviço de instalação dos medidores. Afinal, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pode incorporar as melhorias do sistema à base de cálculo futura das tarifas de energia.
“Nosso horizonte são os 7,5 milhões de clientes, mas precisamos de caixa para isso. Podemos acelerar ou aumentar o projeto, mesmo que contratemos neste ano. Nossos contratos já preveem a possibilidade de aditivos”, diz Bombassaro.
A aprovação de aditivos estaria vinculada à mudança da remuneração pela Aneel.
Em novembro do ano passado, o diretor da Aneel André Pepitone destacou que a agência reguladora analisava a possibilidade de estimular o desenvolvimento das redes inteligentes a partir de incentivos específicos.
O tema foi levado a audiência pública e pode ser incorporado ao novo ciclo de revisões tarifárias do setor de distribuição, com início neste ano.
Naquele mesmo dia, Pepitone participava de um evento organizado pela Eletropaulo, no qual a distribuidora responsável pelo abastecimento da Grande São Paulo anunciou a instalação de 62 mil medidores inteligentes em Barueri (SP).
Expansão
Diante do orçamento previsto de cerca de R$ 700 milhões para a instalação dos 2 milhões de medidores, a CPFL pode vir a investir aproximadamente R$ 100 milhões por ano caso o processo leve sete anos. Esse ritmo, contudo, é considerado “conservador” pela companhia.
O plano de negócios da distribuidora também projeta uma grande economia com o trabalho de medição das contas, mas esse valor ainda é mantido em sigilo.
Um risco para a atratividade do projeto é a recente disparada do dólar. Quando a companhia elaborou o plano de negócios para a expansão do Smart Grid para o grupo B, o dólar estava em R$ 2,70, disse Bombassaro.
Hoje, a moeda norte-americana é negociada ao redor de R$ 3,20. “É um fator que pode provocar desequilíbrio no projeto”, pondera.
O resultado obtido com o grupo A, contudo, é um estímulo ao andamento do projeto, apesar da variação cambial.
“Para fazer a medição no grupo A, você tem dois eletricistas, um veículo, há o pagamento de pedágio, o procedimento dentro da fábrica. Digamos que demore duas horas. Quanto custa essa operação, sendo feita 25 mil vezes por mês? Daí vem o grande ganho”, explica o diretor da CPFL.
(André Magnabosco | Exame)