Gestora brasileira planeja captar entre R$ 50 milhões e R$ 80 milhões até o fim de 2015 para investir em empresas de tecnologia e telecomunicações em estágio inicial e com faturamento anual de até R$ 4 milhões
A ausência de número consistente de investidores profissionais em todos os estágios da cadeia é um tema recorrente nas discussões sobre a evolução do empreendedorismo no Brasil. É justamente nessas lacunas que a Invest Tech enxerga uma oportunidade para consolidar sua relevância na cena local. Após lançar um segundo fundo de investimentos em 2014 — voltado a empresas com receita anual entre R$ 10 milhões e R$ 150 milhões —, a gestora brasileira de fundos de venture capital e de private equity estrutura uma nova iniciativa, que será dedicada a companhias de tecnologia da informação e comunicações (TIC) em estágio inicial, com faturamento anual de até R$ 4 milhões.
“No longo prazo, nossa ideia é ter sempre fundos de investimentos preparados para todas as vertentes. Das empresas com faturamento anual abaixo de R$ 5 milhões até as companhias de pequeno e médio porte, que faturam até R$ 400 milhões por ano”, diz Maurício Lima, sócio-fundador da Invest Tech. O primeiro passo da gestora foi dado em 2008, com um fundo que captou R$ 31,4 milhões e investiu em seis empresas até 2011, com receitas anuais entre R$ 5 milhões e R$ 25 milhões. Após alguns desinvestimentos, o portfólio dessa primeira incursão conta atualmente com duas companhias.
Com cerca de 30% dos recursos já captados, o novo fundo pretende levantar de R$ 50 milhões a R$ 80 milhões até o fim de 2015. No plano traçado pela gestora, a projeção é captar metade dessa cifra até setembro, mês que deve marcar também o anúncio dos primeiros investimentos do novo projeto. “O fundo tem atraído principalmente o interesse de investidores estrangeiros. Também temos investidores locais interessados, mas eles estão mais avessos ao risco, por conta do cenário político e econômico local mais pessimista”, observa.
Para levar à frente o processo de captação, a Invest Tech costurou uma parceria com Magnus Arantes, presidente da versão brasileira do Harvard Angels, grupo de ex-alunos de Harvard que investe em companhias em estágio inicial.
Em linha com as duas iniciativas anteriores, o foco da Invest Tech no novo fundo está em empresas que atuam nos segmentos de tecnologia e telecomunicações em vertentes como saúde, mobilidade, educação, infraestrutura e gestão de recursos naturais. A oferta pode incluir desde equipamentos até softwares e serviços. O perfil, no entanto, difere dos outros dois fundos da gestora. “A empresa precisa ter faturamento, um produto no mercado, uma base de clientes, uma equipe contratada, ou seja, é necessário já ter uma tração”, diz. “Falta no mercado brasileiro um fundo com histórico e preparação para esse perfil de empresa. São poucas as gestoras que têm interesse nessas companhias, pois elas demandam muito acompanhamento e o prazo para retorno do investimento geralmente é maior”, explica.
Segundo o executivo, a ideia da Invest Tech é selecionar até vinte empresas para um aporte inicial. O projeto contempla ainda uma segunda rodada de investimento e, eventualmente, um terceiro aporte para impulsionar estas companhias. Com um prazo de oito anos e uma possível extensão de dois anos, a ideia é ter até 15 empresas no portfólio ao fim desse processo.
Após captar R$ 209 milhões — ante uma expectativa inicial de R$ 180 milhões —, a Invest Tech também está em fase de negociações e avaliações para compor o portfólio de seu segundo fundo de investimentos. Nessa frente, a gestora está em vias de fechar os primeiros quatro aportes, que giram em torno de R$ 20 milhões a R$ 40 milhões por projeto. Concluídos, esses acordos irão representar cerca de 55% do volume captado para o fundo. “Temos tranquilidade agora para cumprir os 45% restantes nos próximos dois anos e um espaço interessante para negociar os termos corretos em cada investimento, para que eles possam realmente gerar retorno no médio e longo prazo para os nossos cotistas”, afirma.
Na contramão de outros segmentos, Lima avalia que o momento político e econômico conturbado do país traz reflexos positivos para a cadeia de investimento de risco no Brasil, tanto para as gestoras que estão levantando recursos para compor um novo fundo como para aquelas que já estão captadas e buscam bons projetos para investir. “Por coincidência, temos esses dois cenários dentro de casa. E o que estamos percebendo é que esse momento de instabilidade, na prática, ajuda a trazer mais equilíbrio nas negociações em todas essas pontas. Os preços e valores ficam mais próximos do que acreditamos que seja saudável para o mercado”, diz. “Ao mesmo tempo, é um cenário ideal para testar a capacidade de gestão dos empreendedores.”
Lima não descarta a venda da participação da Invest Tech nas empresas que compõem o portfólio do primeiro fundo, entre elas a Navita, de gestão de dispositivos móveis. “Se a proposta for interessante financeiramente e ajudar a impulsionar o próximo ciclo de crescimento da companhia, vamos avaliar.”
(Moacir Drska | Brasil Econômico)