A Via Varejo enviou na sexta-feira à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) o prospecto preliminar da oferta de ações da empresa e, segundo o documento, metade dos recursos provenientes da oferta primária (destinado ao caixa da varejista) será investida na abertura de novas lojas, aquisições “seletivas” no setor e reforma de lojas existentes.
Trinta por cento do capital será aplicado em projetos de logística e em tecnologia e os 20% restantes, em capital de giro.
O preço por ação será fixado após a coleta de intenções dos investidores (“bookbuilding”). O mínimo de ações a serem ofertadas pelo grupo equivale a 10% do capital total da Via Varejo, mas o volume de ações emitido e o cronograma da oferta ainda não foram anunciados.
Conforme já informado pela empresa há dois meses, será uma oferta pública de units da Via Varejo, no Nível 2 de governança corporativa da BM&FBovespa. Os ativos serão compostos por uma ação ordinária e duas preferenciais. Os coordenadores da oferta são Credit Suisse, Bradesco BBI e o Bank of America Merrill Lynch (BofA).
Também será feita uma oferta secundária de ações da empresa, a ser realizada pela família Klein, sócia do GPA na Via Varejo, no montante de 53,7 milhões de ordinárias – que pelo valor do papel cotado na sexta-feira, soma R$ 1,53 bilhão. Os Klein irão vender cerca de 35% dos papéis que têm em mãos (16,6% do capital total). Os recursos dessa operação vão para os fundadores da Casas Bahia.
No prospecto, a companhia reforçou a informação da mudança na posição acionária da Nova Pontocom, operação de comércio eletrônico do grupo. O GPA se tornou controlador direto da empresa, numa operação que pode ampliar o potencial da oferta de ações da Via Varejo, na avaliação de analistas. A Via Varejo é acionista da Nova Pontocom.
Segundo informado em fato relevante na noite de quinta-feira, o GPA adquiriu ações da Via Varejo que representam 6,2% do capital social da Nova Pontocom por R$ 80 milhões. Também comprou 1,96% das ações que estavam com sócios minoritários da Nova Pontocom (fundadores dos sites do grupo) por R$ 25,3 milhões. Ou seja, desembolsará R$ 105,3 milhões por 8,1% da empresa.
Como resultado, o GPA torna-se controlador com 52,06% das ações, Via Varejo fica com 43,90% (Kleis e GPA são sócios de Via Varejo), ficando o saldo de 4% com os sócios minoritários (fundadores). A operação será submetida aos acionistas em assembleia geral.
As negociações envolvendo a compra do controle da Nova Pontocom pelo Grupo Pão de Açúcar começaram há cerca de um mês entre a companhia e a família Klein, que são sócios do GPA na Via Varejo. Era preciso fechar o que as partes chamam hoje de um “acordo de cavalheiros”.
Nele, os Klein se comprometeriam a não exercer o direito de veto do aumento do controle direto do GPA na Nova Pontocom. Ao apoiarem o projeto do GPA de assumir o controle do negócio, os fundadores da Casas Bahia entenderam que vão ganhar mais lá na frente. Os Klein consideraram que o apetite dos investidores por um oferta de ações da Via Varejo (que inclui um lote bilionário de ordinárias dos Klein), a ser feita nos próximos meses, vai ser maior com a situação da Nova Pontocom resolvida.
O fato é que a operação dos sites de venda on-line do grupo funcionava com níveis de sinergia baixos em relação à operação física do GPA. Um exemplo: enquanto o grupo operava a bandeira de lojas do Extra, a Nova Pontocom engloba os negócios do site Extra, mas não há uma integração de sistemas e logística entre os negócios. Não se pode hoje, por exemplo, comprar no site do Extra ou do Ponto Frio e retirar na loja. Não há integração dos canais.
Com o GPA como dono do negócio de comércio eletrônico – e não mais como um sócio com controle indireto -, abre-se um campo para a empresa tomar decisões mais rapidamente e trabalhar as sinergias entre as suas operações físicas e on-line. Um interlocutor das partes conta que esse ponto – e especificamente eventuais cálculos do potencial de crescimento da Via Varejo com essa mudança na Nova Pontocom – foi alvo de longas conversas entre os acionistas.
(Adriana Mattos | Valor)