Aquisições no setor vão se concentrar em ativos minerais

Os movimentos de aquisições e fusões na siderurgia mundial vai se manter, ainda por algum tempo, concentrado em ativos para garantir suprimento de matérias-primas do setor, especialmente minério de ferro e carvão. Essa é a avaliação de Jim Forbes, líder global de metais da consultoria PricewaterhouseCoopers, que recentemente passou por São Paulo, depois de viagens pela China e Índia visitando siderúrgicas.

"Por mais três anos, pelo menos, essa será a prioridade das usinas siderúrgicas", afirma o especialista da PwC. Segundo Forbes, de 2004 a 2008, as siderúrgicas de todo o mundo envolveram-se em aquisições e fusões no próprio setor. Mas, de dois anos para cá, com o aumento dos preços do minério de ferro e carvão, os negócios visaram fornecedores de matérias-primas, com destaque para mineradoras de ferro.

De sete grandes negócios – acima de US$ 1 bilhão cada – neste ano, conforme levantamento da PWC, quatro se referiram a aquisições de ativos de minério de ferro. A Sumitomo comprou uma participação na empresa de mineração da Usiminas e dois grupos chineses investiram em ativos no Guiné e no Brasil (neste caso, a Itaminas).

O aumento de preço do minério de ferro e do carvão em até 100% neste ano vai manter essa tendência por mais tempo. Para Forbes, as siderúrgicas querem mostrar aos seus fornecedores que vão continuar adquirindo ativos minerais como forma de reduzir os custos de sua cadeia de suprimento. "Elas vão fazer isso até que o mercado se ajuste e até que haja um equilíbrio nos dois setores – matérias-primas e siderurgia", disse.

Somente após essa onda, afirmou o executivo, é que as siderúrgicas voltarão a mirar suas concorrentes outra vez, como ocorreu fortemente em 2006, 2007 e no primeiro semestre de 2008. "Há muito espaço para isso, pois o setor é ainda muito pulverizado", garantiu o líder de metais da PwC. Segundo ele, as cinco maiores companhias de aço do mundo – ArcelorMittal, Baosteel, JFE Steel, Nippon Steel e Posco – dominaram apenas 16% da produção mundial do ano passado.

A líder ArcelorMittal é bem maior que as demais e conta apenas com 6% da produção total. Suas concorrentes asiáticas têm cada uma em torno de 2,5%. Na mineração de ferro, Vale, Rio Tinto e BHP Billiton detêm, juntas, pouco menos de 70% do mercado transoceânico da matéria-prima.

A avaliação de Forbes é que apesar de a crise de 2008/09 ter sido muito severa comparada com crises anteriores não houve quebras de empresas no setor siderúrgico como ocorreu no passado. "Os grupos estavam bem melhor administrados. Por isso, com a retomada da demanda mundial, certamente haverá nova onda de consolidação", afirmou.

Na China, informou o executivo, o governo vem insistindo para a criação de empresas mais fortes a partir da união de várias delas. Com isso, o governo busca também resolver o problema do impacto ambiental e agregar mais tecnologia às empresas de aço. O setor, no país, é formado por centenas de usinas de aço. "A consolidação lá tem de acontecer, mas levará tempo e dependerá muito da pressão das autoridades".

O Brasil, na sua visão, como outras economias emergentes, tem grande espaço para elevar o consumo per capita de aço. No ano passado, foram apenas 93 kg por habitante, distante de países europeus, dos EUA e da Coreia. Na Índia é menos ainda, 48 kg, e na China já é 405. "O Brasil tem espaço para aumentar a capacidade de produção e poder atender um mercado que vai crescer muito".

A retomada plena do setor, que sofreu forte impacto da crise, passa pela melhoria das economias americana e europeia. "Se não tiver nenhuma nova crise, em três a quatro anos o patamar de demanda nessas regiões voltará ao de antes da crise de 2008", disse Forbes.

(Ivo Ribeiro | Valor)

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