Bertelsmann reforça negócios no Brasil

Com negócios nas áreas de TV, rádio, livros e revistas, o grupo de mídia alemão Bertelsmann decidiu reforçar suas apostas no Brasil e na América Latina. Presente na região desde os anos 60, por meio de várias subsidiárias, a companhia inaugurou ontem, em São Paulo, seu centro de operações local. A Bertelsmann é dona de publicações como o semanário alemão “Focus” e os programas de TV “American Idol”, “The X Factor” e “The Apprentice”.
 
O escritório em São Paulo terá como objetivo apoiar o crescimento das empresas controladas pela companhia na região e buscar negócios em novas áreas. Globalmente, a Bertelsmann quer expandir sua atuação em segmentos como educação e mídias digitais. O escritório brasileiro é o quinto do tipo no mundo. Os demais ficam em Nova York, Pequim e Nova Déli, além da matriz em Gütersloh, na Alemanha. A unidade indiana foi inaugurada no começo do ano.
 
A abertura dos centros de operações em países emergentes faz parte da estratégia de expansão traçada pelo alemão Thomas Rabe, que assumiu o comando da companhia em janeiro. Considerado um executivo ambicioso, Rabe, que até o ano passado ocupava o cargo de principal executivo de finanças do grupo, tem pela frente os desafios de reduzir a dependência da Bertelsmann das receitas geradas em sua região de origem – 80% da receita, de € 15 bilhões, continua a vir da Europa – e enquadrar seus produtos no novo mundo das mídias digitais.

“Com a atuação que temos hoje, nossa capacidade de crescimento fica limitada a um ritmo de 2% a 3% ao ano por questões econômicas [por conta da recessão na Europa] e também demográficas [já que a população no continente está envelhecendo]. E esse patamar não é suficiente”, disse o executivo, em entrevista exclusiva ao Valor.
 
Na avaliação de Rabe, é possível expandir os negócios mesmo no continente europeu, com apostas em novos segmentos, como os livros digitais, que ainda são pouco usados pelo consumidor. Mas é nos mercados emergentes que o executivo vê o grande potencial de crescimento da companhia. “Infelizmente, Brasil, Rússia, Índia e China representam só 3% da receita da companhia, embora sejam os mercados que mais crescem por conta das economias dinâmicas e da população jovem”, disse. A expectativa que os investimentos nos novos mercados comecem a trazer resultado para a Bertelsmann em um prazo de cinco anos.
 
A companhia tem 177 anos, mas sua história na América Latina é bem mais recente e começou na década de 60. Hoje, o grupo tem mais de três mil funcionários em oito países da região. No Brasil, a atuação começou há 25 anos. Os negócios incluem a produção de conteúdo para TV por meio da Fremantle – como os programas “Ídolos” e “O Aprendiz” -, a publicação de revistas pela editora Motor Press Brasil, os serviços a empresas e replicação de mídias com a Arvato e a publicação de livros em espanhol da editora Mondadori. Com o centro de operações local, a expectativa de Rabe é expandir os negócios em cada uma dessas áreas e, aos poucos, buscar novas oportunidades.

O primeiro passo nesse sentido já foi dado. A Bertelsmann acaba de fazer um aporte de valor não informado no fundo de investimento Monashees Capital, focado nos segmentos de internet e educação. O objetivo é começar a desenvolver no país uma rede de parceiros que possibilite a entrada da companhia em novas áreas. De acordo com Rabe, as negociações com um segundo fundo estão em fase final e a Bertelsmann está em busca de uma terceira empresa.
 
Thomas Hesse, presidente de desenvolvimento de negócios da Bertelsmann, disse que o investimento em fundos é o primeiro passo da estratégia da companhia para investir em novos negócios. Depois dessa etapa, a companhia pretende estabelecer seus próprios braços de investimento. Na terceira fase, serão feitos investimentos diretos do grupo nas áreas de interesse.
 
A estratégia de crescimento de Rabe vai exigir da Bertelsmann um reforço de capital nos próximos anos. Segundo ele, esses recursos adicionais virão da venda de participação em negócios considerados não essenciais. Também está em estudo a venda de uma participação no capital da companhia, hoje controlada pela família Mohn. A matriarca da família já rejeitou um projeto de abertura de capital do grupo apresentado em 2006.
 
De acordo com o executivo, a questão da captação de recursos já está mais equacionada internamente. Em sua avaliação, o caminho mais provável para esse processo será a venda de participação para um fundo de private equity, com uma abertura de capital no futuro. “Mas existem diversas outras fontes no mercado que podem ser usadas”, disse. Os planos de Rabe serão discutidos pelo conselho de administração em setembro.

(Valor)

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