Brasil muda de status no plano mundial da Roche

Ancorada no crescimento da demanda nos laboratórios no país, a Roche Diagnósticos conquistou no Brasil um novo patamar frente a suas operações globais. A subsidiária da empresa suíça faturou R$ 480 milhões em 2010, o que representou alta de 16% ante o ano anterior, o dobro do avanço global da companhia na área, de 8%, cujo faturamento somou 10,4 bilhões de francos suíços. Os resultados fizeram com que as operações do país saíssem do 12º lugar no ranking de vendas para entrar nos dez maiores mercados da empresa. "Ultrapassamos os mercados médios europeus, como a própria Suíça", afirmou ao Valor o presidente da Roche Diagnóstica Brasil, Pedro Gonçalves, enfatizando que à frente do Brasil estão ainda os grandes mercados europeus, como a Alemanha e a França, além dos EUA, Japão e China.

Os resultados do braço da multinacional especializado na fabricação e distribuição de equipamentos para testes, sistemas de diagnósticos, monitores e reagentes para análise e medições em saúde, foram impulsionados pela área de diagnóstico profissional. Esse segmento representa 60% das vendas da empresa e fornece testes práticos, como o de colesterol e os hormonais, que é a área que responde pela maior parte da procura nos laboratórios e hospitais. "O brasileiro tem feito exames. O fator do aumento do emprego e, como consequência, a elevação dos assistidos por planos de saúde se soma à alta da renda e a maior longevidade da população", explicou o consultor Gustavo Campana, sócio da consultoria especializada Formato Clínico.

O crescimento da empresa foi maior do que o do mercado como um todo. Segundo a consultoria, o segmento de diagnóstico in vitro faturou no ano passado cerca de US$ 1,6 bilhão, apresentando avanço de 13%. Este mercado no Brasil é composto por um pouco mais de 50 empresas (entre distribuidores e fornecedores) sendo que há uma concentração nas mãos das multinacionais como – além da Roche – Siemens, Abott e J&J. "O setor tem se consolidado e cada empresa tem buscado um foco para se diferenciar", completou Campana.

O foco da Roche tem sido a medicina personalizada, que volta sua atenção para os tratamentos desenvolvidos a partir das características clínicas individuais das pessoas, identificadas por testes genéticos. Neste sentido, áreas como a de ciências aplicadas, de diagnóstico molecular e de diagnóstico de tecidos – que, juntas, representam um pouco mais de 10% do faturamento da companhia no país – são orientadas à pesquisa, ao sequenciamento genético, à detecção de vírus, à oncologia, entre outras atividades. A área de diabetes, que representa 28% do faturamento da subsidiária, por sua vez, se volta para sistemas de monitoramento e controle da doença.

Para isso, em 2010, os investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) da Roche representaram 20% dos 47,5 bilhões de francos suíços faturados globalmente. Mas, como a maioria das companhias do setor, essas pesquisas não são feitas no Brasil e as subsidiárias importam os equipamentos da matriz para cedê-los à utilização dos clientes.

"No ano passado financiamos R$ 40 mil em máquinas", contou o presidente da subsidiária brasileira. Para 2011, por outro lado, a Roche Diagnósticos Brasil está traçando projetos de pesquisa em parceria com instituições locais. Segundo o executivo, a intenção desses projetos é a utilização da tecnologia desenvolvida pela alemã para o desenvolvimento científico do país.

Outro foco estratégico da empresa tem sido o fluxo de trabalho nos laboratórios. A Roche anunciou há poucas semanas a aquisição da alemã PVT (Probenverteiltechnik), especializada na automação dos processos para testes diagnósticos. "Essa área é muito estratégica", afirmou Gonçalves, enfatizando que as soluções de eficiência para os laboratórios colaboram para o maior número de testes processados. Essa aquisição seguiu a da israelense Medingo, realizada no ano passado, para reforçar a posição da multinacional na área de diabetes.

Para este ano, no entanto, a empresa não tem mais alvos já definidos. As projeções da subsidiária no Brasil apontam para crescimento de dois dígitos no faturamento, acima do mercado, além da contratação de 38 funcionários, a se somarem aos atuais 290. Hoje a Roche Diagnósticos representa cerca de 25% do faturamento da Roche no Brasil. A outra parte vem da divisão de medicamentos, com 1100 funcionários. Apesar de já estar há 80 anos no país, a multinacional tem apenas uma fábrica de medicamentos, no RJ.

(Vanessa Dezem | Valor)

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