BVRio discute parceria com a BM&FBovespa

A Bolsa Verde do Rio de Janeiro (BVRio), que deverá negociar seus primeiros ativos ambientais durante a Rio+20, em junho, está discutindo parceria com a BM&FBovespa. "Estamos interessados no tema e no projeto", confirmou ao Valor o presidente do conselho de administração da bolsa paulista, Armínio Fraga.

O projeto da BVRio foi apresentado ao ex-presidente do Banco Central (BC) há alguns dias pela secretária municipal de Fazenda do Rio de Janeiro, Eduarda La Rocque. Após o encontro, o sócio da gestora de recursos Gávea Investimentos agendou encontro entre a BVRio e a BM&FBovespa.
 
A reunião foi marcada para a última terça-feira, quando o presidente da BVRio, Pedro Moura Costa, esteve na sede da BM&FBovespa, em São Paulo, com representantes da bolsa paulista. Costa disse que, além da BM&FBovespa, negocia com a Cetip e a americana Direct Edge, bolsa que estuda instalar sede no Rio de Janeiro e desde novembro aguarda autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para atuar. "Estamos conversando com players do mercado e fornecedores de tecnologia", disse.
 
Inédito no Brasil, o mercado de negociação de ativos ambientais tem no continente europeu sua plataforma mais avançada. Foram negociados € 100 bilhões em 2010. Basicamente, uma transação nesse mercado envolve duas empresas. Uma companhia excede o limite de emissão de carbono, fica em débito e compra créditos da outra empresa, que produz menos gases que o teto estabelecido pelo governo. Segundo Costa, a BVRio ainda não tem ideia do volume financeiro que poderá movimentar.

A subsecretária de economia verde da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Rio de janeiro, Suzana Khan, avalia que a bolsa verde só se tornará rentável a partir de 2015. Uma fonte ouvida pelo Valor revelou que o ineditismo do projeto e a incerteza de sua viabilidade geraram dúvidas na BM&FBovespa, que estaria receosa em relação ao potencial da BVRio em movimentar grandes volumes financeiros.
 
Procuradas, a BM&FBovespa e a Direct Edge informaram que não falariam sobre o assunto. A Cetip, por sua vez, disse que "não comentaria rumores de mercado".
 
Segundo o Valor apurou, há certa indisposição da BM&FBovespa em entrar na BVRio pela expectativa de que a bolsa verde registre, inicialmente, um baixo volume financeiro. Para a BM&FBovespa entrar nesse nicho de mercado [de negociação de ativos ambientais] a análise de custo-benefício é muito complexa. Mas, segundo a mesma fonte, executivos da BM&FBovespa, contudo, estão avaliando se a bolsa tem potencial de crescimento".
 
Inicialmente, a BVRio negociaria créditos de carbono para, numa fase posterior, incluir em seu leque de opções de commodities, efluentes industriais, reposição florestal e até lixo. Para deslanchar e ter um volume financeiro alto, Costa afirma que a BVRio precisará de mudanças na legislação ambiental. "A demanda do mercado de ativos ambientais é criada pela legislação, que obriga empresas a se adequarem. A partir do momento em que as leis sejam criadas, modificadas e implementadas pelo governo, as empresas vão preferir usar a bolsa, porque vai sair mais barato", disse o presidente da BVRio. "O Código Florestal está obrigando os proprietários a se adequarem à reserva legal. Sairá mais barato para ele criar a reserva, ou comprar títulos na bolsa?", questiona.
 
Independentemente de que empresa venha a trabalhar com a BVRio, a parceira deverá estabelecer-se no Rio de Janeiro, atendendo a uma exigência do governo estadual. "Não abrimos mão disso. O objetivo de se ter a bolsa aqui é reativar o centro financeiro da cidade do Rio de Janeiro. Isso acaba gerando um efeito em cadeia, aquecendo o mercado de corretagem e de aluguel de escritórios na cidade", disse Suzana.
 
De acordo com ela, a necessidade de expansão ao Rio de Janeiro poderia dificultar um acordo da BVRio com Cetip e BM&FBovespa. "Nessa fase de desenvolvimento da BVRio, estamos trabalhando com algo marginal. Precisamos de uma estrutura menor, com capacidade para crescer", afirmou.
 
Eduarda La Rocque, da secretária municipal de Fazenda do Rio, disse que a definição sobre a parceira da BVRio deverá ser anunciada até o fim do mês. "É quando vamos ter fechado a estrutura de funding e a plataforma a ser utilizada", afirmou. Essa informação não foi confirmada pelo presidente da BVRio, que preferiu não dar prazos.
 
Segundo o presidente da BVRio, a ideia é que a bolsa funcione divida em duas partes. Costa diz que uma frente será formada por pessoal próprio da BVRio, que trabalhará com as diferentes esferas governamentais, propondo regras e soluções ambientais, ao passo que a outra parte será ocupada pela bolsa parceira, à qual caberá a organização e as negociações da plataforma.

(Diogo Martins | Valor)

 

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