Carrefour tem proposta para unir ativos brasileiros com Pão de Açúcar

SÃO PAULO – O Carrefour recebeu a proposta para uma grande parceria estratégica no Brasil, avisou o grupo nesta terça-feira em comunicado. A proposta veio do Gama, companhia nas mãos de um fundo de investimento administrado pelo BTG Pactual.

"O projeto contempla uma fusão dos ativos brasileiros do Carrefour com aqueles da Companhia Brasileira de Distribuição (CBD – Grupo Pão de Açúcar) em uma joint-venture detida igualmente, com o Gama podendo se tornar um acionista de referência no Carrefour", afirmou o Carrefour, em nota, emendando que seu Conselho de Diretores vai analisar a proposta nos próximos dias.

O Gama indicou que, se a transação for concluída, "vai levar à criação do maior player na indústria varejista no Brasil, o terceiro maior mercado do mundo em termos de gastos com alimentos". Apontou que a combinação vai permitir a captura de sinergias importantes, previstas em um total de 700 milhões de euros por ano, e que o novo grupo brasileiro vai ter 2.386 lojas situadas em todas as regiões brasileiras.

Além disso, o Gama informou que vai se beneficiar de uma injeção de capital do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e BTG Pactual de 2 bilhões de euros e financiamento da dívida de 500 milhões de euros.

O sócio do Pão do Açúcar reagiu ao anúncio. O Casino disse ter descoberto a transação financeira divulgada pelo Carrefour envolvendo a CDB, no qual é o maior acionista e cocontrola com o empresário Abílio Diniz. "Contrário aos termos do comunicado, não é uma proposta espontânea do Gama, um veículo de investimento financeiro, mas uma transação financeira planejada ilegal entre o Carrefour e Abílio Diniz", destacou o Casino.

A empresa recordou que adquiriu em 2005 de Diniz e sua família o direito de tornar-se o único acionista controlador em 2012. Para o Casino, o anúncio feito hoje "confirma as negociações secretas e ilegais que foram e são conduzidas". "Na verdade, em consideração aos acordos públicos que o Casino assinou com Abilio Diniz, não pode ocorrer nenhuma negociação envolvendo o futuro da CBD sem o Casino", afirmou.

O Casino observou que vai avaliar nos próximos dias a melhor maneira de defender os interesses corporativos da CBD e seus acionistas, "que parecem ameaçados por esse projeto de orientação financeira e muito complexo".

O grupo francês disse que tem autoridade para se opor ao projeto, conforme os acordos existentes, e que nenhuma negociação sobre o futuro da CBD pode ser conduzida sem seu consentimento e sem discussão prévia deste projeto no Conselho de Diretores de Wilkes, controladora do Grupo Pão de Açúcar.

A edição de hoje do Valor trouxe que a noite de ontem foi tumultuada em Paris. O Casino soube que Diniz estava na capital francesa e que ele teria ido à sede do Carrefour. A assessoria de Diniz, conforme a reportagem, informou que ele estava tentando um contato com o presidente do Casino, Jean-Charles Henri Naouri e entrar em um entendimento, sem brigas com o sócio.

No fim de maio, o Casino recorreu à Câmara Internacional de Comércio (ICC) pedindo uma arbitragem contra Diniz para manter o acordo fechado entre as partes em novembro de 2006 na Wilkes. Segundo o acordo, o Casino deveria ser informado de qualquer oportunidade de negócio para o grupo no Brasil. As conversas sobre uma possível fusão com o Carrefour no país, porém, ocorreram sem o conhecimento do Casino.

(Juliana Cardoso | Valor)

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