CRV Lagoa cresce 25% e planeja aquisições

Backup é um touro da raça Nelore, com 11 anos de idade e a imponência de um animal com pouco mais de 1.300 quilos. Vive cercado de cuidados especiais em Sertãozinho, no interior de São Paulo, onde ocupa uma área reservada, identificada com seu nome, dia de nascimento, peso e o nome dos cinco sócios-proprietários.
 
Embora passe todo o tempo praticamente sozinho, o elegante zebu poderia fazer inveja ao mais bem-sucedido dos garanhões. Pai de uma prole que se conta às centenas de milhares, Backup é um dos reprodutores mais valiosos do país.
 
No entanto, ele não troca mais que olhares com as fêmeas, duas vezes por semana. Antes que o cruzamento aconteça, seu sêmen é coletado em um tubo e encaminhado a um laboratório, onde é tratado e fracionado em centenas de doses para inseminação artificial.
 
Cada dose é vendida por cerca de R$ 40. Todo ano, Backup produz mais de 40 mil delas – em 11 anos, foram aproximadamente 460 mil unidades.
 
O mercado de inseminação artificial experimenta um dos momentos mais promissores no Brasil. As vendas cresceram a taxas de dois dígitos nos últimos anos, impulsionadas pelo aumento da renda na pecuária e dos investimentos na melhoria dos rebanhos de corte e leite. No ano passado, bateram recorde com um volume que ultrapassou a marca de 10,4 milhões de doses, segundo dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (Asbia).

A inseminação artificial, aliada a programas de seleção, possibilita aos criadores comprar a genética de animais que seguramente vão transmitir características desejáveis aos seus descendentes, como o potencial para ganhar peso mais rápido ou produzir mais leite. Ou, ainda, determinar com 85% de chance de acerto o sexo do filhote.
 
Líder do segmento no país, a CRV Lagoa viu sua receita com a venda de sêmen e serviços associados crescer 25% no ano encerrado em setembro, atingindo R$ 60 milhões. No período, a empresa comercializou quase 2,7 milhões de doses, volume 21% maior do que nos 12 meses anteriores.
 
Na sede da empresa, em Sertãozinho, vivem 120 touros, entre os quais Backup. A maioria deles pertence a criadores, que recebem royalties sobre a venda do material genético. Considerando o sêmen armazenado em seu laboratório, o "portfólio" chega a 500 reprodutores. Algumas "raridades" podem custar até R$ 5 mil reais a dose.
 
Fundada há 40 anos no interior de São Paulo, a então chamada Lagoa da Serra foi adquirida em 1998 pelo grupo belgo-holandês CRV, um dos líderes globais em genética animal. Em 2009, a CRV adquiriu 50% das ações do laboratório americano Sexing Technologies (que realiza o processo de sexagem do sêmen) e, no começo deste ano, a central Bela Vista, localizada em Pardinho (SP), que colhe pouco mais de 1,7 milhões de doses.
 
As operações na América do Sul (das quais o Brasil representa mais de 90%) já respondem por 21% do faturamento global da CRV, que atingiu € 155 milhões no ano fiscal 2010/11. Em cinco anos, prevê Vladimir Walk, diretor-gerente da CRV para a América do Sul, a região deverá ultrapassar Europa e Oceania e se tornar o maior mercado para a companhia. Só em 2012, projeta, as vendas da Lagoa na região deverão crescer entre 15% e 20%, puxadas pela manutenção dos preços elevados na pecuária.
 
Segundo Walk, cerca de 10 mil novas fazendas no país aderem à inseminação artificial todos os anos. Mesmo assim, na pecuária de corte, apenas 7% das fêmeas são inseminadas artificialmente, estima o executivo. Nas de leite, o índice chega a 12%. "Pela extensão das nossas propriedades, é inviável chegar aos níveis europeus, que passam de 90%, mas ainda há muito espaço para se aumentar o nível de tecnologia da pecuária brasileira", afirma.
 
O cenário promissor mantém as portas abertas para novas aquisições por parte da CRV, especialmente de empresas que prestem o serviço de coleta a pecuaristas e outras centrais de inseminação, caso da Bela Vista. "Queremos intensificar nosso crescimento no segmento de serviços, uma vez que já adquirimos uma posição muito forte no mercado de genética", afirma Walk. O executivo afirma que a CRV também mira concorrentes em países vizinhos, como Argentina e Colômbia.

(Gerson Freitas Jr. | Valor)

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