Estatísticas da Anbima e da CVM mostram redução expressiva de emissões. Após recorde ano passado, quando R$ 89 bilhões foram captados com esse instrumento, as emissões recuaram para R$ 44 bilhões até setembro
Incentivos fiscais e o maior programa de concessões da história do País não estão sendo suficientes para aumentar as emissões de debêntures em 2013. Segundo números da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), após o resultado recorde do ano passado, quando R$ 89 bilhões foram captados com esse instrumento, as emissões recuaram para R$ 44 bilhões até setembro. No mesmo período do ano passado, o acumulado das ofertas foi de R$ 59 bilhões, recuo de 25% na comparação ano a ano. Apesar dos números, bancos demonstram confiança para os próximos meses.
O cenário econômico ainda turvo é a grande explicação encontrada para um recuo tão grande. Na contagem de emissões registradas na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que só inclui as ofertas públicas e exclui as operações com esforços restritos, a diferença é ainda maior. Até setembro de 2012, havia sido registradas R$ 33,6 bilhões em ofertas no ano. Nos nove primeiros meses de 2013, as empresas registraram apenas R$ 8,3 bilhões na autarquia (R$ 990 milhões a menos do que o registrado até 15 de outubro).
As debêntures e seus prazos longos o suficiente para acompanhar os desembolsos continuam sendo os veículos ideais para financiar grandes obras de infraestrutura. Mas nem o pacote de concessões programada pelo governo, da ordem de R$ 500 bilhões, está impedindo a diminuição das ofertas, que acompanharam a deterioração do cenário macroeconômico. “A redução de investimentos no País é clara e o mercado de debêntures reflete isso”, resume Antonio Oliveira, vice-presidente do HSBC Brasil. O executivo, responsável pela área de dívida no setor de mercado de capitais do banco vem acompanhando a redução das operações de ofertantes tradicionais no mercado dívida corporativa.
A Oi, que ano passado levantou R$ 2 bilhões com debêntures, esse ano se contentou com uma colocação 25% menor. As exigências de investimento, agudas no setor de telecomunicação não foram suficientes para manter o montante captado com as debêntures. A Telefônica, que sofre as mesmas obrigações, foi ainda mais econômica. A oferta de R$ 2 bilhões, ano passado, foi seguida por uma de R$ 1,3 bilhão, esse ano. “E a BNDESpar ainda não apareceu”, lembra Oliveira. Ano passado, o braço de participações do banco de fomento captou R$ 2 bilhões com esses títulos.
Joaquim Levy, diretor de estratégia da Bradesco Asset Management, um dos reponsáveis pelo primeiro fundo de investimento em títulos de dívida de projetos de infraestrutura, conta com a presença do banco estatal para deslanchar o mercado de debêntures. O fundo, lançado em setembro, está na ponta da cadeia da dívida corporativa. Está, portanto, à caça de oportunidades no setor. A carteira, projetada para um patrimônio de R$ 50 milhões, tem poucos papéis comprados até agora. “Acho que o mercado de debêntures deve crescer nos próximos meses. Há nomes interessantes sendo cogitados como possíveis emissores”, diz Levy.
Líder na assessoria às empresas emissoras de renda fixa, o Banco do Brasil também está confiante. Aguinaldo Barbieri, gerente-executivo da diretoria de mercado de capitais da instituição, prefere encarar o recuo recente como o prenúncio de boas operações em sequência, nos próximos meses. “A fila de clientes para lançar debêntures aqui no banco está muito grande”, anuncia Barbieri, com ênfase. A sequência de eventos para o próximo ano, como Copa do Mundo e eleições, delimitarão o calendário de ofertas, que deve se aquecer até meados de 2014.
As projeções de aumento na oferta de debêntures, que estão tomando conta de operadores tem menos a ver com o cenário macroeconômico do que com as movimentações de bastidores no mercado. Em meio ao recuo contundente no volume ofertado em 2013, a esperança vem de novidades sobre o setor de fusões e aquisições, retraídas esse ano, e que estão preparadas para breve. No forno dos bancos, empresas dos setores de siderurgia e telefonia.
(Marcelo Loureiro | Brasil Econômico)