Depois de quase fechar, Extralife volta a fazer planos

Perder o emprego nunca é fácil, ainda mais quando você fica sabendo que a empresa na qual trabalha está fechando as portas. Foi essa notícia que perturbou Claudinei Polatto durante algumas semanas no fim de 2010.

Na época, a Extralife, na qual Polatto trabalhava como diretor administrativo e financeiro, não andava bem, mas o anúncio de que a empresa de 40 anos encerraria suas atividades o pegou de surpresa mesmo assim. "Eu gostava da empresa, não achava justo que ela desaparecesse", diz Polatto.

O executivo começou a pensar em como manter viva a companhia a qual dedicara seis anos de sua carreira, até conceber um plano de reestruturação curioso, que exigia muita habilidade de negociação e pouco dinheiro.

Criada na década de 70, a Extralife começou como fabricante de móveis para escritório e ficou conhecida pelas fitas de recarga para impressoras matriciais. Nos anos 90, entrou no segmento de cartuchos para impressoras jato de tinta e mais tarde passou a vender acessórios para computadores.

A partir de 2006, passou a enfrentar grandes dificuldades financeiras. O faturamento de mais de R$ 10 milhões ao ano tornou-se insuficiente para pagar os fornecedores e a companhia começou a acumular débitos que chegariam a R$ 10 milhões em tributos estaduais e federais.

No ano passado, aos 80 anos de idade, Irwin Silverstein, então dono da Extralife, desistiu de trabalhar na recuperação da empresa, depois de procurar durante quase um ano por um comprador. Como nenhuma proposta apareceu, ele optou por encerrar as atividades, conta Polatto.

Junto com outros dois diretores da companhia – Dorival Tomazin e Miriam Flores Calixto – Polatto fez uma proposta a Silverstein: ficar com o controle da companhia, sem nenhum aporte financeiro, mas com o compromisso de assumir suas dívidas.

A proposta foi aceita. O antigo proprietário não obteve ganhos financeiros com a transferência, mas não precisou arcar com as dívidas que restariam após o fim das atividades. O contrato foi assinado no começo de novembro. A partir daí, os novos acionistas entraram em uma corrida contra o tempo. Quando decidiu fechar a Extralife, Silverstein avisou ao proprietário do imóvel onde ficava a fábrica da companhia, em Osasco, que o local seria desocupado até o dia 20 de janeiro.

Em meio às pesquisas por um novo endereço, Polatto ficou sabendo que um fornecedor da Extralife enfrentava um problema inverso: a empresa estava concluindo as obras de um galpão no município de Santana de Parnaíba, próximo a São Paulo, mas já não tinha por que ocupar o espaço, já que enfrentava uma queda em suas vendas. Já no cargo de executivo-chefe da Extralife, ele visitou o local e alugou o prédio. No dia 18 de janeiro, a companhia começou a operar no novo endereço.

De acordo com Polatto, a mudança para Santana de Parnaíba e o fechamento de um escritório de vendas no bairro do Pacaembu, em São Paulo, resultaram em uma economia mensal de R$ 85 mil – uma quantia significativa para a manutenção dos negócios.

A nova administração passou a renegociar as dívidas com fornecedores para obter condições melhores e prazos mais longos. Sobre os tributos, Polatto diz que a Extralife aderiu a programas de refinanciamento do governo de São Paulo. No âmbito federal, ele diz aguardar um plano semelhante.

Em sua nova fase, a Extralife está se dedicando prioritariamente à atividade pela qual é mais conhecida: a fabricação de fitas para impressoras matriciais. Em plena época dos tablets, parece surpreendente que esse negócio sobreviva, mas Polatto diz que as vendas podem chegar a 400 mil unidades este ano. "Elas ainda são muito usadas em escritórios de advocacia, e para a impressão de documentos fiscais", afirma.

A estratégia vai além disso. A ideia é reforçar o negócio de acessórios para computadores e entrar em novas áreas, caso do material para escritório. Em julho chegará ao mercado uma linha de envelopes, fichários e outros itens com marca própria.

Em computadores, a Extralife assinou um acordo para distribuir em todo o país os produtos da concorrente Leadership. O negócio também prevê a distribuição de produtos Extralife no Rio.

Com esse acordo, o plano é gerar caixa para que a Extralife possa retomar as vendas de acessórios com marca própria. Esses itens são fabricados sob encomenda na Ásia, o que exige pagamento adiantado. Por enquanto, o balanço da empresa não permite esse tipo de operação.

Em 2011, a previsão é de que os artigos para escritório e os acessórios para computadores representarão 40% do faturamento da Extralife. O restante virá da venda de fitas. Polatto não revela a expectativa de receita para este ano, mas afirma que o resultado será menor que os R$ 17 milhões de 2010. "Teremos faturamento menor, mas com lucro", diz. Para 2012, a expectativa é retomar o crescimento, sem perder a lucratividade.

(Gustavo Brigatto | Valor)

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