Depois de Viracopos, UTC mira Galeão, porto e metrô

Praticamente ignorada pelo mercado como concorrente de peso no leilão de aeroportos, até sagrar-se vitoriosa na disputa por Viracopos, a UTC Participações avisa que foi só o começo de uma entrada para valer nas concessões de infraestrutura. O interesse imediato do grupo volta-se não só para a provável privatização do aeroporto do Galeão, mas também pelas primeiras licitações de novos portos públicos, como Manaus e Ilhéus.
 
A UTC espera as definições de projetos bilionários no setor metroferroviário para apresentar propostas. Três empreendimentos estão no alvo: a linha 2 do metrô de Salvador (recém-anunciada pelo governo da Bahia), a linha 6-laranja do metrô de São Paulo (em fase de licenciamento) e os trens regionais de passageiros estudados pelo governo paulista (ligações entre a capital e municípios do interior como Jundiaí e Sorocaba).
 
"Temos um objetivo estratégico no negócio de concessões", afirma João Santana, diretor da UTC e presidente da Constran, empreiteira vendida ao grupo pelo empresário e ex-rei da soja Olacyr de Moraes, há quase dois anos. Do faturamento total da holding – R$ 2,7 bilhões -, cerca de R$ 1,5 bilhão vem da UTC Engenharia, especializada em construção civil e montagem industrial, principalmente na área de óleo e gás.
 
Em sua estreia em concessões de infraestrutura, a UTC tem 45% do consórcio vencedor do leilão de Viracopos, que ofereceu outorga de R$ 3,8 bilhões por um contrato de 30 anos. O consórcio é formado também por Triunfo (45%) e Egis Airport Operation (10%), que opera aeroportos do Chipre e de ex-colônias francesas.

Santana diz que, em uma eventual segunda rodada de leilão de aeroportos, a prioridade é o Galeão. Nos portos, o interesse é por projetos totalmente novos e não apenas por terminais dentro de instalações portuárias existentes. No caso de linhas de trem e de metrô, a ideia é participar exclusivamente de obras que sigam o modelo conhecido como BOT (sigla em inglês para construir, operar e transferir). "O grupo tem crescido uma média 15% ao ano, na última década. Agora, com o aquecimento da infraestrutura, queremos nos posicionar fortemente nas concessões", justifica Santana, ex-ministro do governo Fernando Collor.
 
Por considerar que as melhores oportunidades de negócio já foram aproveitadas e que o setor já se consolidou em torno de grandes empresas, a UTC descarta entrar em concessões de rodovias. Também não vê com muita empolgação o novo modelo de licitação do trem-bala (TAV) entre Rio, São Paulo e Campinas.
 
No ano passado, o grupo chegou a aliar-se ao consórcio encabeçado por coreanos, que se dizia pronto para oferecer uma proposta no leilão do TAV. Depois, o leilão foi adiado duas vezes e o consórcio se desfez, após uma enxurrada de dúvidas. Agora, o governo mudou o formato do projeto, dividindo o leilão em duas etapas: a operação e a construção. "Essa modelagem do TAV nos desinteressa um pouco. Não abandonamos o projeto, mas tiramos o pé do acelerador."
 
Para garantir rentabilidade na concessão de Viracopos, cuja oferta vencedora teve ágio de 159% em relação ao preço inicial de outorga, Santana explica que os novos administradores do aeroporto deverão apostar alto nos negócios complementares à atividade aérea. Ele garante que, em cinco anos, Viracopos terá "outra cara". Além de estacionamento amplo, acredita que uma das grandes oportunidades está na construção de um hotel de primeira categoria que se volte ao público corporativo, com foco em reuniões e reuniões empresariais.

(Daniel Rittner | Valor)
 

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