Carlos Alberto de Oliveira Andrade propôs um deságio de 65% para os credores do banco, que está sob intervenção do BC desde outubro
O proprietário do Grupo Caoa, Carlos Alberto de Oliveira Andrade, voltou à carga para tentar comprar o banco BVA, sob intervenção do Banco Central (BC) desde 19 de outubro. O empresário fez ontem uma proposta ao Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para adquirir com um desconto de 65% o R$ 1,3 bilhão que o Fundo aportou na instituição financeira. Ainda não é possível afirmar que o banco se livrou da liquidação pelo BC, mas a probabilidade de salvamento aumentou.
Andrade negociou por alguns meses com o FGC, mas as partes não chegaram a um acordo. No dia 7 de fevereiro, as conversas foram encerradas. De lá para cá, o empresário procurou cerca de uma centena dos maiores credores do BVA com uma proposta de desconto de 65% dos valores que cada um detinha no banco antes da intervenção. Há também a opção de ele pagar 50% do crédito, mas em um prazo mais longo, de até cinco anos.
Condições. Nem todos aceitaram a proposta até o momento, e essa é uma das condições que precisam ser cumpridas para evitar a liquidação. A outra é a aprovação pelo BC. O famoso empresário do ramo automotivo era um dos maiores credores individuais do BVA, com R$ 500 milhões depositados em dinheiro e R$ 100 milhões em participação acionária. O maior credor é o próprio FGC.
No dia 18 de fevereiro, o interventor do BC, Eduardo Bianchini, encaminhou para Brasília um relatório em que descreveu as condições do BVA. Junto com esse trabalho, foi enviado também um levantamento elaborado pela empresa de auditoria PricewaterhouseCoopers, que apontou um passivo a descoberto de pouco mais de R$ 1,5 bilhão na instituição. Essa auditoria foi contratada pelo FGC para que os números do BVA pudessem ser apresentados a eventuais interessados em comprar o banco.
Algumas instituições pediram para ver os números, mas, desde o início, pessoas que acompanham de perto o processo acreditavam que apenas Andrade teria real interesse. Por duas razões: evitaria a perda dos R$ 600 milhões e compraria um banco para poder financiar diretamente as vendas de suas empresas na área automotiva.
Estima-se que o passivo total do BVA é de R$ 4,5 bilhões. Os cem maiores credores, incluindo o FGC, possuem cerca de R$ 4 bilhões. A proposta ao Fundo será levada para os conselheiros – integrantes dos grandes bancos do País. A expectativa de pessoas a par do assunto é de que seja aprovada. Caberá, então, a Andrade convencer os outros cem investidores (ou, pelo menos, a maioria absoluta deles).
O Estado apurou que a adesão, até o momento, é considerada positiva. Desde que a negociação com o FGC emperrou, cerca de 10 executivos do BVA procuraram diretamente seus clientes para tentar convencê-los a aceitar a proposta de Andrade que estava sobre a mesa. Quem possuía, por exemplo, R$ 100 milhões, tinha duas opções. Receber à vista R$ 35 milhões ou R$ 50 milhões em até cinco anos.
Um dos temores do empresário é de que a informação da proposta ao FGC encoraje os credores menores, levando-os a pedir mais dinheiro para vender seus créditos no BVA. Mas Andrade, conhecido por ser um negociador duríssimo, já disse nos bastidores das negociações que não aceitará colocar um centavo a mais na proposta.
Nessa proposta, estima-se que ele aportará cerca de R$ 1 bilhão em dinheiro vivo. O aporte total pode chegar a R$ 2 bilhões, incluindo R$ 600 milhões que ele tinha no banco e outros R$ 500 milhões para fazê-lo funcionar novamente, caso o BC permita. Procurados, FGC e Andrade não quiseram se pronunciar.
(Leandro Modé | Estadão)