Empresas japonesas invadem Itu

Itu nunca foi exatamente famosa por suas raízes orientais. A herança japonesa deixada pelos imigrantes que foram trabalhar nas fazendas de café no início do século passado dissipou-se ao longo dos anos e nunca ocupou um lugar de destaque na identidade do município. Principalmente a partir da década de 60, quando o comediante Simplício transformou Itu na cidade dos superlativos. Foi nos programas humorísticos das recém-criadas TVs Tupi e Globo que Simplício fez o Brasil conhecer a cidade onde tudo é grande, do lápis gigante vendido em qualquer parada de ônibus de Norte a Sul do Brasil ao já icônico orelhão que orna a principal praça de Itu.

Leia também:Investimento de empresas estrangeiras no Brasil cresce 168%

Agora, mais de um século após a chegada dos primeiros japoneses aos cafezais da antiga Fazenda Floresta, uma nova leva de orientais está desembarcando na cidade e, dessa vez, disposta a deixar uma marca mais duradoura no município distante 100 km de São Paulo. Só nos últimos dois anos, quatro empresas de capital japonês chegaram a Itu com planos de ficar na cidade por muito, investimento bilhões de dólares na montagem ou na aquisição de indústrias instaladas ali.

O negócio bilionário envolvendo a compra da Schincariol pelo grupo Kirin, o maior fabricante de cervejas do Japão, foi apenas o mais recente e rumoroso caso de japoneses investindo na cidade dos exageros. Mas está longe de ser o único – e o último. Na próxima terça-feira, por exemplo, a Sumitomo Indústrias Pesadas, uma gigante japonesa de mais de US$ 30 bilhões que fabrica desde navios – passando por armas automáticas – até pontes metálicas, inaugura sua primeira unidade no Brasil em Itu.

No ano que vem, a Aisin Seiki, uma das líderes japonesas no mercado de autopeças, com faturamento de mais de US$ 20 bilhões, inicia a produção em uma unidade que está terminando de ser construída também em Itu. Antes delas, a Nissin Brake, fabricante de freios para automóveis e caminhões, se instalou na cidade no ano passado.

A nova invasão japonesa de Itu não parece ser um movimento coordenado dos orientais. Na verdade, está muito mais ligada à uma política agressiva de concessões fiscais realizada pela prefeitura da cidade do que à vontade dos nipônicos em ficar perto uns dos outros. Quem instala uma fábrica hoje em Itu tem direito a receber de volta – em dinheiro – 50% do ICMS gerado para a cidade e o tributo sobre serviços, o ISS, é um dos mais baixos do Estado de São Paulo, cerca de 2%. Além disso, há uma isenção de 12 anos no pagamento do IPTU. Levando-se em conta que a Sumitomo, por exemplo, adquiriu uma área de quase 500 mil metros quadrados, é um incentivo e tanto.

A Sumitomo está investindo, em um primeiro momento, cerca de R$ 130 milhões para instalar uma fábrica de linhas de transmissão de médio e grande porte. Vai produzir equipamentos que tem como princípio as marchas de automóveis, mas que são instaladas em grandes guindastes, usinas de geração de energia e até elevadores. Sua primeira fábrica no Brasil tem mais de 20 mil metros quadrados de área construída e vai empregar cerca de 300 pessoas em um primeiro momento. “Mas há o compromisso deles de ampliar a produção e até 2015 estar empregando mais de 1,2 mil pessoas”, diz o secretário de Apoio ao Emprego e Incentivo ao Desenvolvimento Empresarial, José Rubens Gomes.

Já a Aisin Seiki vai fabricar componente para bancos automotivos. A companhia, assim como a Sumitomo, também optou por construir uma nova fábrica em Itu. Está investindo R$ 65 milhões na planta, que deve atender não só a Toyota, que está construindo uma fábrica na vizinha Sorocaba, como outras montadoras.

Apesar da chegada de tantas empresas nipônicas em Itu, até agora a cidade ainda não viu muitas mudanças em seu dia-a-dia. Nada de pequenos japoneses correndo pelas praças da cidade ou esforçados jogadores de olhos puxados tentando uma vaga no Ituano, o orgulho futebolístico da região. Os próprios ituanos reconhecem que as temakerias recentemente abertas na cidade são muito mais reflexo de uma moda paulistana do que uma mudança de paladar imposta por novos moradores. “Japonês novo ainda não apareceu, só tem os nossos mesmo”, diz Adalberto Peruci, dono de um restaurante próximo à fábrica da Sumitomo.

(iG)

+ posts

Share this post