Estamos vivendo uma nova bolha de tecnologia?

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No início dos anos 2000 vivemos um período de crise econômica devido a uma bolha especulativa relacionada às empresas de tecnologia, as chamadas “ponto com”. Na época, o índice da bolsa de Nova York (Nasdaq) chegou a 5 mil pontos e houve uma forte alta nas ações de companhias como Cisco, IBM e Dell, gerada por excesso de liquidez e incapacidade dos investidores de avaliar corretamente o valor dessas empresas. Recentemente, os IPOs do LinkedIn e, principalmente, do Facebook (com valor arrecadado recorde, de US$ 16 bilhões), além da aquisição pela rede social do aplicativo Instagram por US$ 1 bilhão acenderam uma luz de alerta e muitos começaram a se perguntar se estamos no caminho de uma nova bolha.
 
Como sobrevivente da primeira, prefiro dividir a análise em dois mercados. Se verificarmos a relação de P/E (Price/Earnings Ratio) de companhias de tecnologia mais tradicionais, das quais as maiores representantes são o Google e a Apple, não vemos nenhum número fora do comum. Estamos falando de 11 e 22, o que talvez signifique que o mercado aprendeu e está penalizando essa área. Só para comparação, o P/E médio da S&P nos últimos cem anos é de 16, número que em 2000 (antes da explosão) era de 44 e hoje está perto de 22. Quando falamos de redes sociais, porém, os sintomas ficam mais fortes. A relação P/E do LinkedIn passa de 700, enquanto a do Facebook está perto de 300, o que demonstra uma expectativa irreal de ganhos futuros e de crescimento.
 
Outro sintoma que caracteriza uma bolha é o aumento do número de startups. Segundo o CrunchBase, foram 7.400 novos registros em 2012, número que era de apenas 1.400 há dez anos. Só no Brasil, foram criadas cerca de 1.400 empresas no ano passado. Além disso, há um movimento de profissionais que historicamente são atraídos para bancos e consultorias para o empreendedorismo, além do abandono de MBAs por estudantes que desejam tornar-se empreendedores. Aliada a isso, temos a interrupção do ciclo de Venture Capital, o que chamamos de “Series A Crunch”. São muitos investimentos iniciais (de seed), mas poucos subsequentes (“series A”), o que pode ser um sinal de desaceleração com a saída de dinheiro inteligente, também um sintoma pré-bolha.
 
Apesar dessas evidências quantitativas, outras ainda não estão tão claras. Assim que o Facebook retoma um crescimento sustentável e o valor de sua ação sai de 18 para 30, a rede social demonstra um comportamento peculiar. A empresa está mostrando ao mercado uma capacidade de inovação continuada a partir de um melhor uso do grande estoque publicitário e uma fácil adaptação da audiência da web para mobile. Com isso, acredito que o comportamento do Facebook na bolsa é um fenômeno único, que deve ser analisado a cada dia e a partir de comparações com outras companhias da mesma área.
 
O mercado financeiro aprendeu a avaliar melhor empresas de tecnologia e não teremos um novo ciclo de explosão como o de 2000, o que não quer dizer que possa acontecer algum bolsão de avaliações irracionais relacionado à especulação, conforme os sintomas que estamos observando. Se houve uma bolha, ela estava em social, não em tecnologia, e em minha opinião já houve o ajuste. Por fim, é importante dizer que para prever uma bolha você deve também saber quando ela vai acontecer, ou tal previsão pode fazer com que pessoas percam oportunidades. Assim como disse Marc Andreessen em seu artigo “Why software is eating the world”, você não pode ter uma bolha quando as pessoas estão constantemente gritando “Bolha!” *Fernando de la Riva é diretor-executivo da Concrete Solutions, consultoria global de tecnologia da informação especialista em desenvolver negócios digitais.

 
(Fusões e Aquisições)

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