Gávea, Vinci e Kinea compram 47% da Unidas

Três fundos de investimento em participações em empresas, das gestoras Gávea, Vinci e Kinea, fecharam ontem a compra de 47,2% da Unidas, que estava em dificuldades financeiras desde a crise de 2008. Cada um dos fundos aportará R$ 100 milhões, totalizando investimento de R$ 300 milhões em aumento de capital. O grupo português SAG manterá a fatia majoritária das ações da empresa especializada em gestão terceirizada de frota e locação de veículos.

Os fundos querem fazer da Unidas uma consolidadora desse mercado, que ainda é muito pulverizado no país. A fatia dos quatro líderes em mercados maduros é de cerca de 85%. No Brasil, os quatro maiores não ultrapassam 45% de participação. Não há dados oficiais, mas a empresa calcula ocupar a segunda posição (9% a 10% de market share em frota terceirizada e 7% a 8% em locação) – atrás da Localiza. A consolidação será prioritariamente via crescimento orgânico e, num cenário de longo prazo, o caminho natural deve ser o lançamento de ações em bolsa.

"O aporte permitirá acelerar a estratégia de crescimento com rentabilidade que já vínhamos implementando", afirma o português Pedro de Almeida, presidente da Unidas no país. A ideia é crescer a frota de veículos e a rede de lojas de locação – hoje são 40 próprias e 60 franqueadas.

A injeção de caixa não se destinará a abater parte da dívida bruta, na casa dos R$ 600 milhões, diz Almeida. A dívida líquida, hoje em R$ 520 milhões, cairá a R$ 220 milhões com o aporte, reduzindo o índice de dívida líquida em relação ao ebitda (lucro antes do pagamento de juros, impostos, depreciação e amortização) de 3,3 vezes para cerca de 1,1 a 1,2 vez – talvez o menor índice do setor.

Com a entrada dos novos acionistas e do capital, já teve início uma rodada de renegociação das dívidas de curto prazo da Unidas, o seu maior problema. A Localiza, líder do setor, por exemplo, tem uma dívida líquida de cerca de 1,8 vez o ebitda, mas com uma estrutura de capital invejável. Na Unidas, mais de 60% das dívidas eram de curto prazo. Segundo Almeida, o percentual já se aproxima de 50% e a ideia é reduzi-lo ao máximo.

Entre os principais credores – debenturistas e/ou titulares de créditos bancários – estão Bradesco, Itaú (dono do fundo Kinea), HSBC, Banco do Brasil, Banco Espírito Santo, Banif, Safra e Credit Suisse. Depois de reestruturar o perfil da dívida, a intenção é voltar a ampliar o endividamento em condições mais saudáveis.

O negócio de gestão de frota e locação de veículos funciona quase como um banco: a empresa capta dinheiro e empresta na forma de carros. Se o passivo não está bem equacionado, surge o problema. No caso da Unidas, seu endividamento elevado no curto prazo ampliou demais o custo de captação, que está na casa de CDI (taxa do certificado de depósito interfinanceiro) mais 5% ao ano. A Localiza tem algo como CDI mais 1% a 2%.

Os novos acionistas vão indicar três membros de um total de sete do conselho. "Haverá um sistema de cogestão, em que os fundos terão direito de veto em questões estratégicas e também nas operacionais mais relevantes", explica Almeida. Como é praxe entre os private equities, apontarão, ainda, um novo executivo financeiro – o nome sairá de uma empresa do portfólio de um dos fundos.

Pedro de Almeida conta que, desde que o grupo SAG comprou a Unidas, em 2001, a estratégia implementada foi de forte crescimento – 20% ao ano, às vezes, mais que 30%. A crise pegou a empresa no contrapé: o crédito bancário, crucial para a operação, secou e o valor da frota de carros seminovos caiu 15% acompanhando a redução do IPI sobre veículos novos promovida pelo governo.

Desde então, segundo o presidente, a companhia mudou a orientação e passou a perseguir também rentabilidade. "A frota terceirizada foi reduzida em 30%, de 21 mil para 14 mil carros, com a não renovação de contratos que traziam margem baixa." O negócio de gestão de frota responde por dois terços da empresa. O de locação de veículos vem apresentando aumento de receita de 20% ao ano, mas como responde por apenas um terço dos negócios, não conseguiu compensar o desempenho negativo. No ano passado o prejuízo ficou em R$ 100 milhões, sendo que R$ 80 milhões corresponderam ao reconhecimento da desvalorização da frota no ativo da empresa. Agora, diz Almeida, todo o ativo está ajustado.

De um ativo total de cerca de R$ 1 bilhão no pré-crise, a empresa chegou a bater em R$ 700 milhões em setembro de 2010. Agora, está em torno de R$ 760 milhões. "O grupo SAG acredita nesse negócio e não quer perder a oportunidade de crescimento que o mercado brasileiro de locação irá proporcionar nos próximos anos", diz.

(Vanessa Adachi | Valor)

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