Insud busca um parceiro para fábrica no Brasil

Um dos raros fabricantes de anticorpos monoclonais na América Latina, o grupo argentino Insud procura no Brasil um sócio para um investimento conjunto de US$ 80 milhões. A intenção do controlador do grupo, Hugo Sigman, é montar uma nova fábrica de anticorpos no Brasil e exportar a matéria-prima para ser envasada na Argentina, montando uma estrutura integrada. O sócio brasileiro entraria também no capital da atual fábrica, que entra em operação dentro de dois meses e deve faturar US$ 100 milhões anuais até 2016.
 
O anticorpo monoclonal é um linfócito clonado, utilizado na indústria farmacêutica e hospitalar no combate a doenças degenerativas, como artrites e câncer. Nenhum laboratório nacional produz anticorpos monoclonais. "Seria estratégico ter essa produção no Brasil, mas sua tecnologia é muito cara", afirmou uma fonte ao Valor. O grupo Insud será um dos dois únicos fabricantes na Argentina, por meio da subsidiária Pharma ADN.
 
O empresário argentino já havia conversado com alguns importantes laboratórios brasileiros para realizar o empreendimento na Argentina, mas as conversações não avançaram. Agora, tenta negociar a formação da empresa binacional e busca o apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDES. "Fizemos o empreendimento na Argentina com recursos próprios. Metade da nossa produção de anticorpos já está contratada por laboratórios brasileiros. Nossa escala é pequena. Para ampliarmos, temos que ir para o Brasil", disse Sigman, que investiu US$ 110 milhões para montar a fábrica da Insud, que irá comercializar quatro produtos cuja proteção patentária expirou: o Eternec, para artrite reumatoide, o Avastin, que prolonga a sobrevida em diversos tipos de câncer, além do Rituximab e do Herceptin, voltados para linfomas e câncer de mama.

O Valor confirmou que uma das subsidiárias o grupo Insud, a Chemo, já esteve no BNDES. Na reunião com o banco, o grupo se comprometeu a investir em uma fábrica e um centro de pesquisa no Brasil. Segundo Sigman, o Brasil gasta anualmente US$ 200 milhões na importação de produtos desta natureza. "Em produtos farmacêuticos e hospitalares, o Brasil tem um déficit anual de US$ 10 bilhões, e a Argentina, de US$ 2 bilhões. Daí o interesse estratégico dos governos em fomentar iniciativas conjuntas."
 
O Insud já tem um acordo operacional com a Eurofarma para a distribuição exclusiva e posterior fabricação, no Brasil, do Racotumomab, um anticorpo para câncer de pulmão desenvolvida pela empresa em Cuba, em sociedade com uma estatal daquele país. A Eurofarma também é uma das três empresas que irá distribuir no Brasil 50% da produção de anticorpos na Argentina – as outras são a distribuidora Tecnofarma e a Libbs. Sigman disse que a Eurofarma é uma das empresas com quem tenta negociar a formação da "joint venture". Também houve conversas com a EMS e a Libbs. O Valor apurou que a companhia também conversou com o Aché, mas as conversas não foram levadas adiante.
 
Procurada, a Eurofarma informou que não discute joint venture no momento com o grupo argentino. A companhia apenas confirma as parcerias em andamento. A EMS e o Libbs não se manifestaram sobre o assunto.
 
Sigman é o controlador da fábrica na Argentina e administra diversas outras empresas e participações minoritárias que lhe garantem um faturamento anual de US$ 1,1 bilhão. Foi um dos empresários selecionados pela presidente argentina Cristina Kirchner para compor o conselho binacional de empresários criados pelos governos do Brasil e da Argentina exatamente para tentar fomentar produções integradas entre os dois países. O grupo é formado por dez empresários de cada país. Do lado brasileiro, estão Camargo Corrêa, Marfrig, Coteminas, Tramontina, Vale, Petrobras e Marcopolo. Do lado argentino, grupos das áreas de transporte e energia. Sigman é o único representante do segmento farmacêutico e biotecnológico. Entre as empresas da qual participa, está a Biogenesis Bagó, produtora de vacinas veterinárias e presente no Brasil desde os anos 90.
 
Os investimentos na área tendem a crescer porque diversos produtos estão perdendo a proteção da patente. O mercado farmacêutico mundial movimenta atualmente cerca de US$ 900 bilhões anuais, sendo US$ 160 bilhões de origem biotecnológica.
 
Com o apoio do governo argentino, Sigman esteve com o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, o da Saúde, Alexandre Padilha, e com o diretor para fomento à área de saúde no BNDES, Pedro Palmeira. "Há uma predisposição para se financiar apenas projetos controlados 100% por brasileiros, mas a formação de grupos binacionais é um interesse estratégico dos dois países", comentou o empresário.
 
Se a parceria com brasileiros sair, Sigman pode ganhar envergadura para um projeto mais ambicioso, que é o de produção de anticorpos monoclonais originais. Atualmente, o grupo participou apenas da produção do anticorpo cubano. "O desenvolvimento de um único produto pode consumir investimentos de US$ 200 milhões", disse.

(César Felício e Monica Scaramuzzo | Valor)

+ posts

Share this post