Invepar já traça o futuro de Cumbica

A gestão de Guarulhos, o maior aeroporto do país, também conhecido como Cumbica, por onde circulam anualmente 30 milhões de pessoas, não assusta Gustavo Rocha, o presidente executivo da Invepar -Investimentos e Participações em Infraestrutura. "O foco agora é preparar o aeroporto para a Copa de 2014", disse ao Valor. Os investimentos previstos para reforma, modernização e expansão do aeroporto até lá somam R$ 1,8 bilhão e desse total, 51% ou R$ 918 milhões serão aportados pela Invepar e sua sócia privada, a operadora sul-africana ACSA. Os restantes 49% pela Infraero, sócia minoritária na futura Sociedade de Propósito Específico (SPE), a concessionária a ser formada até maio para operar o aeroporto.

O executivo defende de imediato e como mais urgente para aumentar o faturamento de Guarulhos até a Copa erguer um estacionamento com capacidade para 15 mil carros, ante os atuais 4 mil. "Essa é uma questão gritante do aeroporto. Muita gente acaba pagando estacionamento nas redondezas. Isso é receita perdida". O terminal 3 também é urgente, pois prevê um aumento entre 10% e 15% no número de passageiros no aeroporto no ano da Copa, indo próximo de 35 milhões de pessoas. Segundo diz, a cada mês há cerca de 10 pedidos de novos voos, mas não se abre espaço porque a capacidade está estrangulada.
 
O aeroporto tem limite de expansão de capacidade de passageiros em 55 milhões, a qual deverá ser atingida entre 2020 e 2022, segundo Rocha. Ele também não ignora que o sítio onde fica Guarulhos não tem muitas áreas virgens para explorar, como tem Viracopos, em Campinas. E carro-chefe de sua receita são ganhos tarifários – 60% do total, ante 40% dos não tarifários. Diz que contraria a tendência dos melhores aeroportos do mundo. "Nossa meta é inverter isso nos próximos três a quatro anos".

Os estudos da Invepar apontam oportunidades de negócios não tarifários em mix de lojas, praças de alimentação e investimentos na área de construção de hotéis no entorno de Guarulhos. "Hoje não há quase hotéis próximos ao aeroporto e as pessoas em trânsito têm de ir dormir em São Paulo".

A receita prevista para o maior aeroporto do Brasil em 2012 é de R$ 1,1 bilhão ante R$ 900 milhões no ano passado, alta de 10% a 12%, por causa do novo valor da tarifa, projeta Rocha. "Até 2013, a gestão do aeroporto não vai mudar muito, vai crescer entre 8% a 10% e não vai dar saltos. Vamos assumir a operação do negócio em setembro e até 2014 nossa prioridade é a Copa. Só vamos conseguir pagar a outorga da concessão com retorno do negócio a partir de 2014. Antes, vamos ter que assumir este ônus".
 
O lance de R$ 16,2 bilhões dado para arrematar o aeroporto e que surpreendeu o mercado não compromete a saúde financeira da empresa controlada pelos fundos de pensão Previ, Petros e Funcef e pela OAS, afirma o executivo. A empresa não vai arcar sozinha com o pagamento da outorga e dos investimentos nos 20 anos de concessão, com renovação de mais cinco. "O pagamento anual da outorga, no valor de R$ 800 milhões, será feito pela concessionária que vai administrar o aeroporto, conforme previsto no plano de concessão publicado em anexo ao edital". A parte privada da SPE terá 45,9% da Invepar e 5,1% da ACSA.
 
Os investimentos ao longo da concessão são estimados em R$ 4,1 bilhões, abaixo dos R$ 4,7 bilhões em valor constante previstos pelo edital. A ideia dos sócios é pegar recursos do BNDES dentro dos limites de 80% oferecidos pelo banco. O montante de capital próprio será de no mínimo R$ 570 milhões, sendo $ 250 milhões da Invepar. Rocha prevê que esse valor será maior por causa do plano de negócios.

"Vamos estudar opções de financiamento com dívida e estamos trabalhando para abrir o capital da empresa em Bolsa nos próximos 12 a 24 meses". A planeja fazer neste ano um aumento de capital, cujo valor ainda não foi fixado, para equalizar a participação dos acionistas em 25%. Com isso, a Previ, dona de 36,85% do total, vai sofrer diluição, enquanto Funcef (hoje com 20,48%) e OAS (com 17,67%) vão ampliar suas parcelas para 25%, se igualando a Petros e Previ.
 
A Invepar tem hoje uma dívida líquida de R$ 2,5 bilhões, equivalente a 6 vezes o seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Rocha não está preocupado com o fato. "Temos que olhar o perfil do endividamento e o nosso é acima de 10 anos. Prefiro ter um perfil de dívida de longo prazo numa relação de 6 vezes o Ebitda do que o de uma vez com perfil de curto prazo de endividamento", diz Rocha.

A entrada em Guarulhos, segundo ele, só reforça o fato de que o investimento em infraestrutura de transporte – foco da Invepar – é intensivo em capital e tem rentabilidade crescente no longo prazo. No caso de Cumbica, a expectativa de retorno da Invepar e de seus acionistas é superior à média mundial de 8% de investimentos em aeroportos semelhantes.

(Vera Saavedra Durão | Valor)

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