‘Itaú pode vender Redecard se não fechar seu capital’

A mensagem de Roberto Egydio Setubal, presidente do Itaú Unibanco, aos acionistas de Redecard foi clara ontem em conversa com os investidores: em breve, o banco passará a fazer sozinho as atividades de emissão, credenciamento, captura e liquidação de cartões. Isso acontecerá seja com ou sem a Redecard, a empresa que hoje é responsável por credenciar estabelecimentos que aceitam cartão, da qual o Itaú é controlador e pela qual lançou uma oferta de fechamento de capital. É o chamado processo de verticalização.
 
A avaliação de Setubal é que o negócio de cartões mudou radicalmente depois da abertura da competição no setor, em julho de 2010. "No mundo todo, os bancos de varejo lideram o negócio de adquirência. Aqui, temos a convicção de que o relacionamento do Itaú com o mercado pode gerar um valor maior do que o da

Setubal afirmou que, se os acionistas minoritários de Redecard optarem por não vender suas ações, o banco pode construir uma nova plataforma de credenciamento a partir da Hipercard, empresa que já é 100% controlada pelo Itaú Unibanco. A partir disso, o Itaú venderia sua participação na Redecard, que hoje é de 50,1%.
 
Adquirida pelo Itaú na fusão com o Unibanco, a Hipercard já faz hoje todos os serviços associados aos cartões, mas apenas para a sua própria bandeira, de mesmo nome. "Hoje ela [Hipercard] está dormente", afirmou Setubal. "Não colocamos isso como uma ameaça. Só queremos dar transparência àquilo que acontecerá se não fecharmos o capital da Redecard." O balanço da Hipercard mostra que a companhia lucrou R$ 136,8 milhões em 2011, com uma receita de intermediação financeira de R$ 1,9 bilhão.
 
O novo modelo de verticalização se justifica, segundo Setubal, por causa do cenário de concorrência que se desenhou desde julho de 2010, quando foi decretado o fim da exclusividade de bandeiras com as credenciadoras. Antes, apenas a Redecard podia credenciar lojas para aceitação do cartão Mastercard, o que dava mais poder à empresa para fixar o preço do seu serviço. Agora, outras credenciadoras também podem operar com a bandeira Mastercard.
 
Ou seja, se antes o principal ativo da credenciadora era o relacionamento exclusivo com a bandeira, hoje esse ativo é o relacionamento com o banco de varejo parceiro, ou sócio.
 
"Parcerias com bancos serão cada vez mais determinantes para as adquirentes. Os bancos vão poder introduzir outros produtos para a adquirência não ser commodity", disse Setubal, referindo-se, por exemplo, ao financiamento de recebíveis.
 
Segundo o presidente do Itaú Unibanco, hoje muitos dos serviços ofertados pela Redecard contam com uma espécie de "subsídio" do banco. "Isso precisa ser revisado para os padrões que a Redecard já oferece para outros bancos [caso o fechamento de capital não prospere]."
 
Setubal lembrou que, se fosse oferecer sozinha os produtos que tem hoje, a Redecard precisaria de um nível de capital maior. "Hoje já temos potenciais áreas de conflito [de interesses]. Sempre buscamos evitar, mas são crescentes potencialmente."
 
O modelo que o Itaú está buscando construir no Brasil ao deter 100% da Redecard segue um desenho que já vem sendo utilizado pelo banco no resto da América Latina. No Uruguai, por exemplo, o banco controla a Oca, uma empresa que faz o credenciamento de lojistas, a emissão de cartões e o processamento de operações.
 
Segundo o Valor apurou, o banco vem enxergando que o negócio "vertizalizado" tem trazido mais agilidade para a construção de uma plataforma de cartões na América Latina. Neste ano, o banco alcançou a base de um milhão de cartões de crédito no Uruguai, Paraguai, Argentina, Chile e México.
 
Até abril do ano passado, as atividades de cartão do Itaú na América Latina eram tocadas por Claudio Yamaguti, executivo que agora preside a Redecard.
 
Para o Brasil, na avaliação de Setubal, o cenário que se desenha daqui para a frente é de maior competição, com novas companhias chegando ao mercado, o que pode derrubar os ganhos de quem já opera. A expectativa do Itaú é de que, nos próximos anos, haverá até cinco grandes competidores no setor.
 
O cálculo do banco é que, saindo do zero, uma adquirente leva de 18 a 24 meses para construir a infraestrutura necessária para operar. Levando-se em conta a nova regulamentação do setor, em vigor desde 2010, seria a partir de meados deste ano que a concorrência se acirraria. Por enquanto, a única empresa que já conseguiu montar uma estrutura para fazer frente a Redecard e Cielo foi a GetNet, que se aliou ao Santander.

(Natalia Viri e Carolina Mandl | Valor)

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